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Na retaguarda do atraso

O embate entre radicais faz o país refém de uma política obsoleta

Por Dora Kramer Atualizado em 15 nov 2019, 11h25 - Publicado em 15 nov 2019, 06h00

Espirituoso e observador dos bons, ministro da Justiça escolhido por Tancredo Neves e incorporado ao governo do vice e sucessor, Fernando Lyra sapecou nos idos dos 1980 uma frase que ficaria na história: “Sarney é a vanguarda do atraso”. Fez o chiste a propósito de definir o presidente como o melhor que se poderia ter naquele momento de pesar, apesar de todos os pesares.

Lá se vão mais de trinta anos, e aquele que foi também um traçado crítico da política brasileira recém-liberta da ditadura só não pode ser aplicado à atualidade porque não existem (ainda?) no cenário lideranças capazes de representar algo parecido com esperança de mudança para melhor. Salvo alguns breves ensaios logo interditados pelo êxito eleitoral do populismo, nessas três décadas retrocedemos a um quadro mais apropriado ao que poderíamos chamar de retaguarda do atraso.

A despeito da modernização em diversos setores, na política seguimos vivendo sob a égide da obsolescência. Seja nas regras que norteiam o sistema eleitoral, seja no funcionamento dos partidos, na vocação da maioria para pautar escolhas de governantes por esperanças tão apaixonadas quanto equivocadas, na dinâmica da dicotomia desprovida de nuances atualmente chamada de polarização, que vem de longe e continua a privilegiar a exclusão como norma na tomada de decisões.

É difícil, não impossível, romper as amarras da luta entre dois polos

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Voltemos de novo no tempo, desta vez para demonstrar. Na primeira eleição direta pós-regime militar havia uma variedade enorme de candidaturas presidenciais (eram 22 os concorrentes), algumas bastante qualificadas, mas prevaleceu o critério da rejeição: sendo o governo José Sarney a encarnação do mal na óptica vigente, ganhou aquele que soube representar o seu contrário (Fernando Collor). Fez isso nos termos rancorosos muito parecidos com os utilizados hoje.

Com o surgimento do PSDB, acirraram-se as animosidades entre tucanos e petistas, que já se estranhavam desde a cisão da esquerda decorrente do fim da frente de combate à ditadura. Instalou-se, então, o ambiente de beligerância que dominaria a política por mais de vinte anos como se nada mais existisse a não ser PT e PSDB. E nem existia mesmo, pois as demais forças atuavam como satélites desses dois partidos. Criticar um significava automaticamente adesão ao outro. Tudo branco ou preto, sem direito a meio-tom.

E eis que estamos de volta ao que a velha musa entoava. No mesmo lugar no qual é de se perguntar se e quando o Brasil vai se dar ao direito de não dançar conforme a música do embate bipolar que nos impõe o modo dízima periódica, numa repetição sem fim.

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Escapar dessa armadilha não é fácil, mas é possível. A eleição de 2018 mostrou que há um enorme contingente a ser trabalhado entre os que votaram no candidato que lhes pareceu o menos deletério e os que não fizeram escolha alguma, ausentando-se, isentando-se (opção em branco) ou protestando mediante o voto nulo.

O mundo político há que se virar para apresentar boas alternativas, mas o eleitorado há que se mexer muito mais ainda para adaptar seus critérios de avaliação a fim de não se deixar capturar pelos ilusionismos de todos já bastante conhecidos.

Publicado em VEJA de 20 de novembro de 2019, edição nº 2661

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