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Ironia do destino

Tantas Jair Bolsonaro fez que acabou se expondo ao risco de tornar-se inelegível

Por Dora Kramer Atualizado em 6 ago 2021, 09h57 - Publicado em 6 ago 2021, 06h00

O destino é um moleque travesso. Já pregou muitas peças ao Brasil e agora pode pegar de jeito o presidente da República, que repetidas vezes ameaça o Brasil de não ter eleições em 2022 se não for feita a sua vontade de acoplar papel às urnas eletrônicas. Tantas Jair Bolsonaro fez que acabou se expondo ao risco de tornar-se inelegível.

A depender do desenrolar do inquérito do Tribunal Superior Eleitoral, pode não haver eleição mesmo, mas para ele. Já o direito — no nosso país transmutado em dever pelo voto obrigatório — do eleitorado está garantido. Primeiro, porque isso não depende da vontade do presidente. Segundo, porque assim dita a Constituição. Terceiro, porque não há condições objetivas de se impedir a realização do pleito.

Por fim, mas não menos importante, há um obstáculo intransponível: a quantidade de gente que vive de votos. São 513 deputados, 81 senadores, 27 governadores, 1 059 deputados estaduais, 5 568 prefeitos e 57 000 vereadores.

Isso sem contar os candidatos a presidente, os respectivos vices, considerando só os beneficiários diretos, pois existe um enorme contingente de brasileiros envolvidos no processo de votação, fiscalização e apuração, todos integrantes do universo de quase 150 milhões de eleitores do país.

Como se vê, uma parada indigesta a ser enfrentada pelo chefe do governo e seu cercadinho amigo. Jair Bolsonaro não será moderado por ninguém. Não foi pelos militares, não será pelo Centrão. É um imoderado por natureza. Ocorre que as circunstâncias o obrigaram a fazer inflexão em direção à política e, se com os militares há sempre o fantasma do golpe, com os políticos o caso é diferente.

Eles não gostam de manobras radicais que solapem as liberdades por completo, notadamente a de votar, pois é do voto que vivem. Em ditaduras, políticos são meros coadjuvantes. Nas democracias estão no comando. Sob estreita vigilância da sociedade, o que não lhes assegura controle absoluto, mas o papel da política em regimes de liberdade é de protagonista. Às vezes para o mal, mas no conceito do estado de direito, para o bem.

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“O Brasil terá eleição, mas em 2022 talvez Bolsonaro é quem não tenha condição de concorrer à reeleição”

Esse é um ponto, mas não o único. Concorre também para a fragilidade da ofensiva em prol da reconfiguração do Estado brasileiro à imagem e semelhança de doutrina regressiva, a volatilidade das pautas. Reivindicações que mudam — nas manifestações de rua, inclusive — ao sabor de circunstâncias e conveniências.

Antes de Sergio Moro virar inimigo, a turma defendia o pacote anticrime proposto pelo então ministro da Justiça. Tema arquivado depois de Moro sair do governo atirando. Passou-se, então, a atacar o Supremo Tribunal Federal, ímpeto arrefecido com medidas judiciais contra militantes mais agressivos. O furor contra o Congresso sumiu assim que Bolsonaro chegou-se ao Centrão, bem como reduziram-se os pedidos de intervenção militar com a investigação sobre os atos antidemocráticos.

A chegada das vacinas e as evidências dos erros do presidente na gestão da pandemia tiraram da agenda a tentativa de desqualificação do programa nacional de imunização, que põe o Brasil à frente de muitos países desenvolvidos, assim como ocorre com o sistema eletrônico de votação, ora em contestação.

O voto impresso foi o que sobrou. E o que provocou a mais robusta reação verbal e material da Justiça. No escopo da investigação aberta no TSE há três pontos já devidamente estabelecidos: propaganda eleitoral extemporânea, abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação social. Os dois últimos bem desenhados na utilização de estruturas públicas para disseminar desinformação.

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Há, portanto, potencial considerável para que no lugar de Bolsonaro subtrair direitos aos brasileiros fique ele mesmo sem direito à eleição.

DEFEITO DE FÁBRICA. O que esperar de um homem que obriga o filho de 17 anos de idade a disputar uma eleição contra a própria mãe? Foi o que fez Bolsonaro em 2000 quando pôs o filho Carlos para tirar votos da ex-­mulher Rogéria, candidata à Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Nada muito diferente há de esperar do mesmo homem que, para pontuar críticas às restrições sanitárias, agrediu a memória de Bruno Covas ao se referir ao prefeito de São Paulo vítima de câncer em maio último como “o outro que morreu, fechou São Paulo e foi ao Maracanã”.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750

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