Constatação provada e comprovada: gente fraca (governante ou governada) vivencia a própria fraqueza na ilusão de que possa importar fortaleza da gente autorizada e legalmente armada na sociedade, seja tal força oriunda da polícia, do Exército, da Marinha e/ou da Aeronáutica.
Daí termos hoje não só um governo fraco, mas também uma boa parcela da sociedade frágil, aquela que acredita no chamado “ao general” para resolver as coisas. No que tange ao Planalto, ele não resolveu a situação do Rio de Janeiro nem deu o jeito esperado na esquisitíssima greve dos transportadores de insumos essenciais ao funcionamento das cidades.
No tocante a boa parte do eleitorado que aparece nas pesquisas justificando a intenção de voto em Jair Bolsonaro pelo desejo de “volta dos militares” ao comando do país, a História conta a história de um equívoco, como a recente divulgação dos documentos da CIA que revelam o envolvimento direto do presidente-ditador Ernesto Geisel no assassinato de dezenas de brasileiros combatentes do regime militar.
Garotos e garotas precisam ser muito bem ensinados a respeito disso. Esse pessoal não viveu nem sofreu os horrores dos medonhos anos da ditadura. Algo diferente ocorre com os integrantes do atual governo, todos contemporâneos dos anos duros; embora nem todos tenham sofrido torturas, todos sabiam o que acontecia. Entusiastas do regime, colaboradores voluntários ou involuntários, quando não entusiastas do regime fechado.
É o caso dos integrantes da cúpula do atual governo. Quase todos filiados ao MDB, mas não praticantes do MDB de Ulysses Guimarães e companhia. Alguns são oriundos da Arena, outros emedebistas de ocasião, nenhum deles herdeiro da luta contra a ditadura. De onde se relacionam sem medo nem limites com os militares, dando a eles mais poderes do que seria aconselhável.
Por anos o Brasil precisou se igualar a nações civilizadas em que não havia Ministério do Exército, mas Ministério da Defesa sob o comando civil. Mediante intensas negociações, no final dos anos 90 o então presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu criar o Ministério da Defesa, a fim de que ficasse patente o poder civil sobre a circunstância de atos e fatos atinentes ao mundo dos militares. Houve resistência, mas prevaleceu a persistência.
De modo muito rápido, o presidente Michel Temer deu fim a esse conceito ao nomear como interino e depois manter um militar no comando da pasta da Defesa, na condição de titular. Era o que os militares queriam, não era o que o agora deslocado para o Ministério da Segurança, Raul Jungmann, achava o mais adequado, não é o melhor para a democracia de supremacia civil.
Deu-se, portanto, um retrocesso. Mas sempre podemos transformar o reverso em progresso, desde que a opção seja pôr para andar a carruagem da vida, avançando na direção do viver melhor, até que a sociedade como um todo se convença das vantagens da liberdade, ativo imprescindível das boas democracias, e das desvantagens da maneira autoritária dos regimes de força militar.
Publicado em VEJA de 6 de junho de 2018, edição nº 2585