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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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O SUS sozinho não resolverá

É preciso ampliar também o debate sobre saneamento básico

Por Claudio Lottenberg
8 set 2020, 09h26

Três em cada dez domicílios brasileiros não têm banheiro nem acesso à rede de esgoto. Quem aponta isso é o IBGE. Além disso, menos de 30% da população têm acesso a planos de saúde, também segundo o instituto. Não são dados de 50 anos atrás. São de 2019. Para alguns, isto pode ser o suficiente para entender nosso sistema pelo lado do privado minimizando o significado do público e das políticas públicas e para discutir, como sempre, a questão do financiamento. Não é o meu caso. Entre o financiamento privado e o dever público existe uma importante e longa agenda.

Urgente como possa ser que se fale do SUS – e não há como enfatizar o suficiente essa urgência –, há que se considerar o que significa não dispor de uma rede de tratamento de esgoto, que é, mais do que fundamental na proteção do meio ambiente, uma questão de saúde pública. Já nem se fale de comunidades inteiras convivendo ao lado de dejetos despejados e deixados a céu aberto: mesmo estações de tratamento sofrem com falta de limpeza e negligência na manutenção. Isso é mais frequente do que gostaríamos de imaginar.

Locais nessas condições devem ser fiscalizados e melhorias implementadas para que a população não corra riscos de contaminação por doenças como hepatite A, giardíase, leptospirose, febre tifoide, ascaridíase e outras. Tente o leitor imaginar o que a falta dessa infraestrutura básica, o esgoto encanado, representa no contexto de uma comunidade e que impacto isso pode ter em seu presente e seu futuro.

Quanto aos números do SUS, sabemos que o quadro traçado a partir dos dados de 2019 estão superados no momento. Afinal, com o aumento do desemprego, parte dos usuários do sistema privado migrou para o público. Direcionados pela mídia, leigos nem sempre conseguem medir a importância e a magnitude do SUS. A Covid-19 revelou que o sistema público não se compõe apenas de redes de clínicas, hospitais e postos de saúde. Dele também fazem parte operações que não ganham tanta visibilidade, como vigilância epidemiológica, notificação de óbitos, estudo das alterações de cenário da saúde na população, e a lista não é exaustiva. O SUS é um sistema sofisticado, articulado e em funcionamento. Conta com inúmeros profissionais dedicados e está a serviço de 100% da população brasileira – e a epidemia de Covid mostrou o quanto precisamos dele.

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O SUS, diga-se ainda, não é apenas a porta de entrada para um hospital público muitas vezes saturado por pacientes que o têm como sua única referência para cuidar da saúde em grande parte do país. O sistema público conta com centros de excelência em tratamento de câncer, transplantes, cirurgias minimamente invasivas e por robótica. Muitos deles em nada ficam atrás de grandes centros privados nacionais e internacionais. Para que isso não se perca, é preciso investir.

O Brasil tem muitas questões urgentes com que lidar, mas dificilmente haverá outras duas tão ou mais urgentes que essas: saneamento e SUS. É preciso ampliar o debate e priorizar. Não é possível falar-se em UTIs e não em universalização da rede de esgoto. Não é justo fazer a apologia e desfiar todo um rosário de elogios à telemedicina sem que se universalize uma rede de internet que a ela dê acesso. Não faz sentido reclamar e pedir mais sem que se faça funcionar o que já está aí.

Saúde é parte de um ecossistema e dirigi-la sem este amplo entendimento é um erro no sentido da promoção dos direitos sociais como previsto por nosso marco constitucional.

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