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Claudio Moura Castro

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Vassoura ou pipoca?

Por que algumas áreas mudam com a tecnologia e outras não?

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h54 - Publicado em 7 fev 2020, 06h00

“A Revolução Tecnológica varre o mundo!” Eis uma metáfora ruim. A vassoura carrega todo o lixo que está no caminho. Melhor seria uma comparação com a panela de pipoca. Alguns grãos espocam e pulam longe. Mas há os que goram, recusando-se a se abrir. De fato, a tecnologia avança aqui e encalha acolá.

Automóveis sem motorista já entregam pizza, e voou com sucesso um protótipo de avião sem peças móveis (impulsionado pelo movimento de partículas subatômicas). Mas na semana passada, em Belo Horizonte, vi uma carroça em plena função.

Os romanos já tinham torneiras adequadas. Por que então o chuveirinho higiênico sempre pinga? E as infiltrações no banheiro? E as lajes que vazam? Dormi na casa de um amigo, construída no século XIV. Embora chovesse, não havia goteiras. Por que as nossas têm?

Vaza a pilha que custa um par de reais. Arruína um aparelho caríssimo. O fogão do restaurante produz tanto uma chama estrondosa quanto uma ínfima. Os domésticos não têm nem uma chama forte nem uma fraquinha.

Apesar do emaranhado de aviões chegando e saindo das grandes cidades, o trânsito aéreo flui. Mas no terrestre, quando abre o sinal, é quase certo que o seguinte estará vermelho.

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“Os romanos tinham torneiras adequadas. Por que então o chuveirinho sempre pinga?”

Falando de aeroportos, como se explica padecer em até cinco filas sucessivas antes de entrar em um avião, que é um dos maiores prodígios do engenho humano?

À mesa do hotel, deposito meu fulgurante smartphone ao lado das caixinhas de geleia e manteiga. Por que é impossível abri-las sem se lambuzar? E os enlatados que cortam nossos dedos e não se abrem? A proteção de plástico na tampa dos remédios parece desenhada para impedir seu uso. A embalagem da paçoquinha, ao ser aberta, esboroa todo o conteúdo. Algumas garrafas de água mineral só se abrem com alicate.

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O maior perigo de pegar uma infecção está nos hospitais, para onde corremos ao ficar doentes. Às vezes, entra-se com um probleminha e sai-se no caixão. Tancredo Neves foi vítima de infecção hospitalar. Como sanar o problema? Fácil, médicos e enfermeiras devem lavar as mãos com mais frequência.

Uma pérola da burocracia: estava em Bogotá quando recebi a notícia de doença grave na família. Tinha reserva na Latam para o dia seguinte e resolvi antecipá-la. A empresa pediu a documentação do hospital. Ao recebê-la, afirmou que levaria sete dias para avaliar o caso. Ou seja, seis dias depois da passagem marcada e sete depois da data pretendida. Diante do absurdo, a funcionária sugeriu que comprasse uma passagem. O reembolso se resolveria depois. Assim fiz. Mais adiante, um e-mail informou que, como eu havia comprado uma passagem, perdera o direito a um reembolso. Eis a “experiência do cliente”, supostamente valorizada pela empresa. Espero que a burocracia funcione melhor na cabine de comando de seus aviões.

Por que será que algumas áreas são sacudidas pela tecnologia e outras travam, ad aeternum, com suas soluções imbecis? Será porque atraem gente mal educada?

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Publicado em VEJA de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673

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