Uns minutos a mais para a educação
Os políticos gostam de gastar tempo apenas com o que dá votos
Em nossa Educação, o que não falta são controvérsias. Há, porém, um ponto de insofismável convergência: sua péssima qualidade. Isso dizem o Pisa e os testes do MEC.
Por que será assim? Resmas de papel já foram gastas na tentativa de explicar o desastre. Exploremos outro caminho, pensando nas últimas décadas. Quantos minutos os presidentes levaram para escolher o ministro da Educação? E os dois da área econômica? Para cada um desses ministérios, quantos minutos passaram entrevistando candidatos? Quantos minutos por mês gastaram com o ministro do MEC e quanto com os dois outros? De que tipo de assuntos trataram? Rumos da pasta ou a última crise do MEC? Quantas escolas os presidentes visitaram, em comparação com idas a obras e fábricas?
Quem goza de proximidade com os corredores do poder terá respostas pouco lisonjeiras para a distribuição dos minutos concedidos à educação, comparados aos destinados à área econômica. Não que o descaso necessariamente leve a erros nas escolhas. Mas a probabilidade de isso acontecer é mais alta. Gera-se, então, uma sequência de ministros cujas competências e orientações são desencontradas. E, como sabemos, a continuidade é essencial nas políticas educativas.
Fazendo um parêntese, participei de uma pesquisa em que entrevistamos cinco ex-ministros da Educação do Chile. Uns da era Pinochet, outros posteriores a ela. Surpreendeu o fato de que suas políticas educacionais fossem praticamente as mesmas. E, ao longo dos anos, as equipes ministeriais mudaram pouco. Será por isso que o Chile ganha a dianteira na educação latino-americana?
“Quantas escolas os presidentes visitaram, em comparação com idas a obras e fábricas?”
Repitamos o exercício, agora para a escolha dos secretários estaduais e municipais. O mesmo tempo minguado? São selecionados por ser bobocas e deixar que seus orçamentos sejam surrupiados pelo secretário de Obras? Ou para saldar compromissos de campanha? Na política, a educação só conta como fonte abundante de empregos. Diante desse quadro desalentador, vem a inevitável pergunta: e como é possível que nada aconteça? Por que os presidentes e governadores não pagam o preço político por seu descaso?
Fecha-se o círculo da mediocridade quando consideramos que da ordem de 70% dos pais de alunos acham boa a educação oferecida a seus filhos. Dos outros 30%, metade dos estudantes está em escolas privadas. Portanto, sobram apenas 15% de pais descontentes, potencialmente reclamadores. Notemos, há ampla demanda por vagas, em todos os níveis. E, em grande medida, há vagas. O que não há, porém, é demanda por qualidade na educação oferecida.
Na visão de políticos calejados, consertar o que não precisa ser consertado é uma péssima ideia. Mais vale gastar tempo no que dá votos.
E por que desdenhamos a qualidade? Historicamente, jamais tivemos bons modelos de excelência na educação. Crescemos desabaladamente, apesar da ruindade do ensino. Somos míopes, queremos os resultados imediatos, o que a educação não provê. Que mais? Esses raciocínios não explicam tudo. Em particular, ignoram o impacto de um ou outro secretário ou ministro de coragem, capaz de promover saltos impressionantes. Mas a educação do país não deveria depender de um ou outro herói ocasional.
Publicado em VEJA de 26 de fevereiro de 2020, edição nº 2675