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Cidades sem Fronteiras

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A cada mês, cinco milhões de pessoas trocam o campo pelo asfalto. Ao final do século seremos a única espécie totalmente urbana do planeta. Conheça aqui os desafios dessa histórica transformação.
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Projeto liberta figuras de pinturas clássicas para soltá-las por cidades do mundo todo

O mineiro Gabriel Nardelli Araújo é autor do The Canvas Project, série de imagens surreais que discute o uso dos espaços urbanos

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2024, 02h49 - Publicado em 5 Maio 2016, 08h11
Rosa e Azul, de Renoir: do acervo do Masp para uma paradinha no vão do museu (Imagens: The Canvas Project)

Rosa e Azul, de Renoir: do acervo do Masp para uma paradinha no vão do museu (Imagens: The Canvas Project)

As meninas em rosa e azul de Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) posam para foto no vão do Masp como se fossem turistas comuns. O acervo do museu inclui justamente o retrato impressionista das irmãs, datado de 1881. Teriam ficado entediadas e saído para dar uma volta?

Em Nova York, o enredo se repete. Um homem caminha sobre toras de madeira perto do píer 1 da ponte do Brooklyn Park. Daria para dizer que tem uma postura meio punk meio rock´n´roll, não fosse seu estilo iluminista, criação de George Caleb Bingham (1811-1879) de 1846.

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Figura de "The Jolly Flatboatmen", de George Caleb Bingham, caminha pelo Brooklin

Figura de “The Jolly Flatboatmen”, de George Caleb Bingham, caminha pelo Brooklin

Estaria havendo uma revolta de figuras da pintura mundial que, cansadas de ficarem aprisionadas nas telas, resolveram cair na vida real? É a impressão que se tem ao acompanhar a série do The Canvas Project (@the_canvasproject), com perfis no Instagram e no Facebook.

O responsável por essas alucinações urbanas é o mineiro Gabriel Nardelli Araújo, 26 anos, morador de Belo Horizonte. Publicitário, fotógrafo e graduando em Arquitetura e Urbanismo na UFMG, ele voltou de uma temporada de estudos em Londres no final do ano passado e resolveu brincar de libertar seres de óleo sobre tela e soltá-los por aí.

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À primeira vista, é difícil saber como as imagens são criadas, se ampliadas e materializadas em ruas e calçadas ou se tudo não passa de um impressionante (ou impressionista) truque digital. Em conversa com o blog Cidades sem Fronteiras, ele explica qual sua técnica e conta outras curiosidades do projeto.

Londres como cenário de encontro renascentista na kombi

Londres como cenário de encontro renascentista na kombi

1) Como são feitas as imagens? Partes das telas selecionadas são reproduzidas materialmente ou aplicadas digitalmente sobre uma foto?

O processo é inteiramente digital, minhas obras não existem, pelo menos até o momento, de forma física. É realizado no Photoshop usando como base fotos de locais que visitei e de quadros que tive acesso. Outros quadros são disponibilizados online pelos próprios museus em arquivos de alta resolução, o que tem ajudado bastante na qualidade final das imagens.

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2) De onde surgiu a ideia de criar imagens a partir da contraposição de pinturas clássicas à paisagem urbana?

Quando produzi as primeiras imagens, não imaginei que seguiria com a ideia do projeto. As primeiras foram um reflexo do momento que eu estava passando, sem maiores pretensões. Tive a oportunidade de passar uma temporada em Londres e lá quis produzir algo além de simples fotos de viagens ou de arquitetura. Neste período, trabalhei bastante também com renderização e inserção de figuras humanas em projetos de arquitetura, começando a explorar novas formas de representação, inclusive a mistura de diferentes mídias nas imagens. O projeto surgiu então de forma natural, como síntese deste momento, juntando a cena cultural de Londres, minha experiência com fotografia e os trabalhos que eu estava realizando.

Limusine em Nova York cria o choque de "realidades"

Limusine em Nova York cria o choque de “realidades”

3) Qual o objetivo do projeto, o que você espera revelar/ discutir?

O valor do projeto, para mim, cresceu com o passar do tempo. No início, o que me interessava era criar uma cena quase surreal, contrapondo a cidade contemporânea com os costumes de outros tempos, principalmente em relação ao vestuário. O fato de usar de imagens de quadros famosos ajuda a criar um novo mundo, deixando de lado a realidade e promovendo uma nova leitura dos quadros originais.

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Com o passar do tempo, fui percebendo as montagens como novas formas de apropriação do espaço e das obras de arte. Talvez seja semelhante ao que sente um pichador ao deixar sua marca pela cidade, porém de forma virtual e sem atuar diretamente sobre o patrimônio. Sinto que deixo uma marca imaterial naquele lugar. As pessoas que tiveram contato com minha obra e posteriormente visitam o espaço ou veem o quadro original podem ter uma nova visão sobre eles.

Não sei se é uma sensação que as pessoas conseguem ter observando as obras finalizadas ou se está mais relacionada com o próprio processo de criação, mas os espaços realmente ganham um novo significado para mim.

Além disso, sinto que a obra cria novas regras para a apropriação dos espaços, seja propondo banhar-se em espelhos d´água, ou assentar em guarda-corpos para apreciar a vista da cidade. Dessa forma espero que haja, também por parte daqueles que tem contato com minha obra, uma reflexão sobre a forma com que nos apropriamos dos espaços da cidade, e particularmente para os arquitetos, sobre como a arquitetura pode ser pensada para receber diferentes apropriações, e comportar vários usos.

Barcelona também foi alvo das intervenções
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Barcelona também foi alvo das intervenções

5) Como tem sido a reação das pessoas?

O projeto teve uma aceitação melhor do que esperava. Tenho sentido grande interesse das pessoas sobre o processo, sobre os lugares onde as fotos foram feitas e sobre os quadros originais, o que me levou a criar uma página no Facebook dando alguns detalhes a mais sobre cada uma delas. Além disso, tem sido muito interessante perceber como as pessoas gostam de ver suas cidades e os locais que frequentam representados nas obras.

6) Há algum desdobramento sendo programado (livro, exposição, replicar em outras cidades etc.)?

O sucesso do projeto tem trazido algumas oportunidades para levá-lo para além do Instagram, mas ainda são ideias em andamento. Enquanto isso, o projeto continua em desenvolvimento no Instagram e no Facebook, com várias cidades em vista para os próximos meses.

Rio de Janeiro através da janela

Rio de Janeiro através da janela

Por Mariana Barros

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