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Por Mariana Barros
A cada mês, cinco milhões de pessoas trocam o campo pelo asfalto. Ao final do século seremos a única espécie totalmente urbana do planeta. Conheça aqui os desafios dessa histórica transformação.
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“Espaços públicos de fácil acesso fazem com que as pessoas vivam em espaços privados menores”

Há dez anos no exterior, o correspondente Guga Chacra compara diferentes locais do mundo e conta do que tem saudades no Brasil

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 00h38 - Publicado em 24 ago 2015, 16h18
Vista do Central Park, de Nova York

Vista do Central Park, de Nova York

Há dez anos no exterior, nove em Nova York e um no Oriente Médio, o correspondente internacional Guga Chacra teve a oportunidade de comparar como é viver em algumas das cidades mais interessantes do mundo. Em Nova York, constatou como os jardins particulares perdem o sentido quando há dezenas de belos parques públicos espalhados, onde as pessoas conseguem chegar com facilidade. Em Beirute, experimentou a harmonia de uma conviência improvável numa metrópole em que os bairros são formados de acordo com a religião de seus moradores.

De São Paulo, ele conta sentir saudades da cidade que ficou congelada em sua memória quando partiu e de um lugar bastante específico, a piscina do Clube Atlético Paulistano, um dos mais tradicionais da cidade, fundado em 1900. A piscina em questão foi desenhada pelo arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972), um dos principais modernistas brasileiros, e fica perto do ginásio projetado por Paulo Mendes da Rocha, vencedor do Prêmio Pritzker, o Nobel da Arquitetura. Curiosamente, foi à beira dessa piscina que eu conheci o Guga, quando eu estudava jornalismo e ele cruzava a linha entre o entusiasta e o especialista em política internacional. Quinze anos depois, a convite do blog Cidades sem Fronteiras, Guga Chacra, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo e da Globonews, conta como é olhar as cidades do Brasil como estrangeiro e as do exterior como brasileiro.

 

1) Qual a principal vantagem de morar em Nova York em relação a outras cidades do mundo?

Qualquer pessoa que vem morar em Nova York se sente nova-iorquina depois de alguns meses. É uma cidade onde quase todos vieram de algum lugar, mesmo os que nasceram aqui. Afinal, seus avós vieram da Irlanda, da Itália, da Alemanha. Ou, nos dias atuais, da República Dominicana, da Rússia ou da China. O sentimento de identidade em Nova York é mais fácil. Dificilmente uma pessoa que não nasceu em Paris será parisiense ou uma que não nasceu no Rio será carioca. Mas todos nós que viemos para Nova York somos “new yorkers.”

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2) Há alguma vantagem de viver em São Paulo em relação a outras cidades do mundo?

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Quando me perguntam no exterior “Where are you from?” e respondo “Brazil”, as pessoas abrem um sorriso. Algumas acrescentam – “Where, Rio?”. Respondo – “No, I am from São Paulo”. Normalmente, elas dizem “Ah, ok”. Mas alguns conhecem São Paulo. E se empolgam. Afinal, descobriram uma das cidades mais interessantes do mundo, que é um puzzle, e precisa ser descoberta. Esta é a vantagem de São Paulo, uma das raras cidades do mundo que nunca se esgota e abre espaço para você descobrir lugares. Não é óbvia. Talvez apenas Nova York, Londres e Tóquio estejam no mesmo patamar.

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O jornalista Guga Chacra

O jornalista Guga Chacra, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo e da Globonews

3) Do que você mais sente saudades em São Paulo?
A piscina do clube Paulistano. Em Nova York, não há piscinas abertas onde as possam nadar ao longo do ano. No verão, tem as públicas, mas são lotadas. A piscina do Paulistano, assim como a de outros clubes, tem a vantagem de ser urbana, no meio da cidade, e a céu aberto. Além disso, a piscina do Paulistano, com seu fundo de cinco metros, 50 metros de comprimento e formato de coração é uma das joias arquitetônica paulista, desenhada pelo Gregori Warchavchik.

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4) Como é conviver com esse sentimento, aparentemente paradoxal, de sentir saudades da sua cidade natal e, ao mesmo tempo, saber que viver nela é bem mais complicado do que na cidade onde você está?
Um dos problemas de morar tanto tempo no exterior é que ficamos com saudades de uma São Paulo congelada no tempo. Uma vez, escrevi que nós que viemos morar fora congelamos no tempo para as pessoas que ficaram. Muitas ainda me veem como o “Guga de 2005”. E São Paulo congela no tempo para a gente. Mesmo com a internet, não vivemos o dia a dia. E a cidade fica um pouco idealizada. É como quando lembramos dos nossos tempos de escola. Ficam as memórias boas, do recreio, dos colegas, dos jogos de futebol. Não lembramos da dobradinha de biologia. Além disso, quando fico uma semana em São Paulo, é de férias, vou aos restaurantes que gosto, encontro os amigos e, quando começo a me acostumar, já estou no avião de volta a Nova York. Por último, surge uma nova identidade – além de brasileiros, somos imigrantes do Brasil. Penso que meus avós também foram, quando foram do Líbano para o Brasil.

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5) O que os espaços públicos dizem sobre uma cidade?
A vantagem de espaços públicos é que, em cidades como Nova York, você pode ter espaço privado menor. Afinal, para que um jardim se tem o Central Park, o Prospect Park, o River Side Park, o Battery Park e praças como a Washington Square, Union Square, Madison Square? Em São Paulo, se você não mora bem perto do Ibirapuera, tem de pegar o carro para chegar até lá. Em Nova York, o Central Park, além de ser mais central como o próprio nome diz, possui dezenas de conexões com transporte público.

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6) O que as pessoas fazem nas ruas/calçadas no exterior e que não fazem no Brasil (e vice-versa)?
Em Nova York, as pessoas comem muito na rua, andam com o café nas mãos, falando ao celular. Cada um está em sua bolha, alheio ao que acontece ao redor. Em São Paulo, há um pouco mais de interação, embora bem menos do que em lugares como Beirute ou Cairo, onde a calçada parece ser um organismo vivo.

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7) Qual é o lugar (urbano) mais surpreendente que você já conheceu?
Beirute, disparado. Não existe nada igual. Primeiro, por ser uma cidade dividida em áreas religiosas. Você sabe se a pessoa é cristã, sunita, xiita ou drusa pelo bairro que ela mora. Em segundo lugar, por ser à beira do mar Mediterrâneo e aos pés do Monte Líbano, permitindo, como os libaneses adoram dizer, nadar no oceano e esquiar na neve no mesmo dia. Terceiro, porque é uma cidade que foi destruída na guerra e conseguiu se reerguer, voltando a ser a metrópole mais sofisticada do Oriente Médio. Por último, Beirute talvez seja o único lugar do mundo onde você verá menina de biquíni tomando champagne ao lado de outra de cabeça coberta com o hijab, havendo uma enorme chance de serem melhores amigas. No fundo, ninguém está preocupado se você está indo para uma balada em um rooftop, rezar na mesquita ou na igreja.

 

Por Mariana Barros


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