Medicamentos nacionais de ‘Cannabis’ não são mais baratos que importados
Levantamento inédito deste blog revela valores similares entre os produtos quando se comparam os preços cobrados por miligrama de canabinoides
Com o Carnaval chegando e março ali na esquina, o mercado brasileiro de Cannabis medicinal se prepara para a mudança regulatória aprovada pela Anvisa no final do ano passado. A partir do próximo dia 10, os medicamentos com canabinoides poderão ser registrados no Brasil e vendidos em farmácias. Apesar do avanço, muita gente se frustrou com a manutenção do veto ao cultivo. Para os defensores da ideia, caso fosse permitido plantar Cannabis para fins medicinais no país, o preço dos remédios poderia cair ainda mais. A afirmação parece fazer todo o sentido, principalmente nesses dias em que vemos a cotação do dólar bater recordes sucessivos. A realidade, no entanto, pode não ser bem essa. Alguns empresários do ramo garantem que o cultivo em território nacional não teria tanto impacto no valor cobrado aos pacientes. Depois de ouvir essa tese, fui buscar os dados.
Apesar de contra-intuitiva, a avaliação tem seu mérito e se comprova na prática. Fiz um levantamento dos preços praticados por algumas das principais importadoras de canabinoides que atuam no Brasil e também pela Abrace, associação de pacientes com sede em João Pessoa (PB), que cultiva suas plantas e produz localmente os derivados de Cannabis. Na tabela abaixo, podemos observar que a diferença de preço é mínima, com alguns importados industriais custando até menos que o produto artesanal brasileiro. Importante salientar que os produtos de Cannabis variam muito entre si, mesmo quando declaram a mesma quantidade e concentração de canabinoides em suas fórmulas. Os métodos de extração dos princípios-ativos e os veículos em que são apresentados podem interferir nos resultados terapêuticos. Portanto, além de comparar valores, é preciso ficar atento à qualidade do fornecedor, suas práticas industriais e de segurança sanitária.
O levantamento abaixo não tem qualquer pretensão de ser uma análise definitiva do mercado brasileiro, mas sim de servir como uma referência inicial, antes da mudança na regulamentação mencionada no início do texto. Vamos acompanhar a evolução dos preços quando os produtos finalmente chegarem às farmácias. Com a popularização das terapias canabinoides, novas empresas e associações devem surgir, assim como mais médicos passarão a estudar e a prescrever, alterando a dinâmica do mercado tanto pelo lado da oferta quanto da demanda. Volto ao tema em momento oportuno.
Tabela 1 – Por ordem alfabética dos fornecedores
Tabela 2 – Por preço final, em reais, por miligrama de canabinoides
Tabela 3 – Por preço final, em reais, por SKU (embalagem)
OBSERVAÇÕES
- Preços em reais calculados com base no fechamento do dólar comercial em 18/03/2020 (R$ 4,3568)
- Conversão para reais não inclui IOF e demais encargos
- Valores finais correspondem somente aos produtos, não incluem frete ou outros custos
- Pesquisa realizada nos sites das empresas no dia 19/03/2020
- Foram selecionados produtos similares, privilegiando as formulações com CBD predominante
- A coluna mg/ml refere-se à concentração do produto; a coluna volume indica o conteúdo total da embalagem (SKU); a coluna mg/frasco informa a quantidade total de canabinoides por SKU
- Os valores foram transcritos tal como estão apresentados nas páginas dos fornecedores, em reais ou em dólares
- A coluna $/mg indica o custo unitário do miligrama de canabinoide naquele produto e SKU específico
IMPORTANTE: Somente o médico pode determinar qual a formulação e a marca mais indicadas para cada tratamento. Nunca use qualquer medicamento sem a expressa recomendação de um profissional de saúde.