Os motoristas do Uber têm carros mais luxuosos e seguros que os táxis comuns, não cobram adicional de 50% para o aeroporto, oferecem água, bala e às vezes bombons para os passageiros e têm, por regra, vestir roupas sociais e usar o Waze, garantindo aos passageiros a escolha da melhor rota. Cobram um valor similar ao dos táxis, apesar de usar carros mais caros e pagar mais impostos (taxistas compram com valor 35% menor, sem impostos).
Numa cidade sensata, o aplicativo e os motoristas ganhariam homenagens e condecorações. A prefeitura reconheceria o mérito do serviço inovador e criativo que aumentou o conforto e o direito de escolha dos consumidores.
Mas está acontecendo o contrário. A prefeitura de São Paulo multa os motoristas, apreende os carros e considera o negócio de clandestino. Motoristas trabalham com o medo de não ter emprego no mês seguinte.
Tudo isso por pressão dos taxistas. Como sempre acontece, os pequenos grupos de pressão tentam levantar barreiras de entrada a novos concorrentes e quase sempre conseguem, para prejuízo dos consumidores. Qual político quer perder tantos eleitores taxistas?
Haddad tem mostrando coragem ao insistir em ações impopulares, como a criação das ciclovias. Pois deveria resistir à pressão dos taxistas e parar de incomodar o Uber. Os prefeitos de Nova York, Londres e São Francisco também enfrentaram protestos da classe, mas não deram bola. Mesmo porque proibir esse modelo de negócio é impossível.
No passado, licenças para táxis eram necessárias por causa da assimetria de informação entre o passageiro e o motorista. Ao entrar no táxi na rua, o cliente não sabia nada sobre o taxista. Não dava pra saber se era um assaltante, um estuprador ou um picareta que abusaria no preço. Em todo o mundo, o governo entrou para organizar o negócio.
Mas a internet móvel tornou a ajuda do governo desnecessária. Hoje os aplicativos tornam possível saber a identidade, a pontualidade e a avaliação do motorista por outros clientes. Os clientes sabem muito bem que, para carros acionados por aplicativo, não precisam da licença oficial para se sentirem seguros. A localização pelo celular tornou pontos de táxi algo obsoleto.
Ao tentar barrar o Uber, Haddad bloqueia um enorme mercado de soluções criativas para o trânsito das cidades. Na Índia, há similares do Uber só com motoristas mulheres (os she taxis, na foto acima). Em Nova York, só para idosos ou para levar crianças para a escola. Em Londres, aplicativos como o Kabbee comparam até o preço de diferentes companhias de mini cabs, o serviço paralelo aos black cabs oficiais.
Há projetos ainda mais inovadores. Um grupo de jovens urbanistas e empreendedores de São Paulo está criando um empresa de demand responsive transport. É uma espécie de Uber coletivo, no qual vários passageiros que têm o mesmo destino dividem a corrida. Se dez moradores de Copacabana precisam chegar ao Galeão às 17h, não há motivo para pegar dez táxis: basta dividir a mesma van. O aplicativo traça a rota estipulando um tempo máximo de desvio para buscar os clientes. O negócio tira vários carros da rua e diminui o trânsito, mas provavelmente vai ser chamado de clandestino pelos prefeitos do Brasil.
@lnarloch