Chegou a hora de vender dólar?
Ao prever mais crise e desvalorização do Real nos próximos anos, os analistas tropeçam no erro de tomar o presente como referência do futuro
Um erro comum de quem se arrisca a fazer previsões é tomar o presente como referência do futuro. Em tempos de prosperidade, analistas projetam notícias ainda melhores para os anos seguintes. Durante a euforia de 2009, por exemplo, o economista Ricardo Amorim previu que a Bovespa chegaria a 200 mil pontos em cinco anos. Hoje está abaixo de 50 mil.
Acordei pensando se não estamos cometendo o mesmo erro na direção contrária. Desolados com tantas notícias ruins, projetamos um futuro péssimo para a economia brasileira. Analistas estão cravando o dólar a 4,60 reais no ano que vem; a Forbes dias atrás se perguntou se o dólar não chegará a 5 reais.
Talvez aconteça o contrário – o dólar fique mais perto de 3 que de 5 reais. O Brasil está barato; sobre isso há um consenso. Todo bom investidor sabe que “os melhores negócios são feitos nos piores momentos”. Ao menor sinal que inspire confiança nas contas do governo, investidores estrangeiros vão concluir que o pior está passando no Brasil – e que é hora de comprar. Já há sinais disso, como a compra da divisão de cosméticos da Hypermarcas pela americana Coty. Se esse movimento ganhar força, o Real valorizará e a Bovespa será só alegria.
O próprio Ricardo Amorim sabe que vale a pena desconfiar do presente como referência do futuro. Durante a crise de 2002, ele desafiou o coro dos analistas ao prever que o dólar cairia pela metade e a Bovespa daria um salto nos anos seguintes. Acertou no alvo – só em 2003 o dólar caiu 18% e a Bovespa valorizou 97% .
Se eu estiver certo (o que é bem pouco provável), e se o governo Dilma der um sinal verossímil de que é capaz de ajustar as contas, quem investiu em dólar (e ganhou 50% de valorização no ano) deve estar se preparando para vendê-lo nos próximos meses.
@lnarloch