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Augusto Nunes

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Maurício de Sousa: No momento da criação, o autor é o personagem

O autor das histórias em quadrinhos mais lidas do Brasil falou sobre a trajetória que contabiliza mais de 1 bilhão de gibis vendidos e 400 personagens

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h50 - Publicado em 4 jul 2017, 14h55

O convidado do Roda Viva desta segunda-feira foi o cartunista Mauricio de Sousa. Nascido em 27 de outubro de 1935 na cidade paulista de Santa Isabel, ele é o autor das histórias em quadrinhos mais lidas do Brasil. Desde 1959, quando surgiu sua primeira criatura, o cãozinho Bidu, até hoje, foram mais de 1 bilhão de gibis vendidos e 400 personagens. Parte desta trajetória de sucesso é descrita na recém lançada biografia “Mauricio – A história que não está no gibi”. Confira trechos da entrevista:

“Foi sem querer que comecei a retratar as minhas experiências nos quadrinhos. De repente percebi que estava levando toda a minha vivência para as histórias. Estava dando certo e resolvi continuar com a mesma fórmula”.

“Um dos segredos da longevidade da Turma da Mônica é que meu estúdio tem muitos  jovens. Isso ajuda a manter as histórias vivas e dinâmicas. Acompanhamos inclusive as evoluções tecnológicas e atualizamos as plataformas de comunicação. Hoje, nosso maior sucesso no YouTube é a Mônica Toys, com bilhões de acessos no mundo todo”.

“Quando criei o Cascão estava com medo de lançar a revista achando que poderia estimular as crianças a não tomarem banho. Minha mulher perguntou por que este medo e disse: ‘Toda criança é assim’. Por enquanto não penso em lançar um personagem homossexual. Vou esperar que a sociedade aceite essa questão de maneira melhor. Sempre digo que a Turma da Mônica não deve levantar bandeiras, mas pegar a bandeira que está passando”.

“O papel não vai acabar, porque é mágico, tem cheiro. É diferente da imagem fugidia da televisão, da internet. Não é a mesma coisa que pegar na mão, ler, cheirar, guardar”.

“Quando entrei no jornalismo, vinha carregado de um português rebuscado, formal. A primeira coisa que pediram na redação foi para usar uma linguagem coloquial, não colocar adjetivos e ser direto. Pensei que ia jogar fora todos os meus anos de Eça de Queiroz e Machado de Assis. Mas esse texto direto e coloquial é o ideal para caber num balão de história em quadrinho. A reportagem me ensinou a concisão. Acabou sendo ótimo, porque nem a profissão de repórter nem a de desenhista pagavam muito. Juntando as duas me dei bem”.

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“Mesmo no tempo da ditadura, era muito cuidadoso. Por isso não sofri pressão do governo. Tinha que me preocupar não só com o meu salário, mas com o de todos que trabalhavam comigo. Alguns colegas tentaram me convencer a fazer com que meus personagens se engajassem, mas não aceitei. Na época da queda do Jango já tinha me dado mal e decidi que não queria mais saber de política. Na campanha pela nacionalização das histórias em quadrinho, fui demitido da Folha acusado de comunismo”.

“No momento da criação, o desenhista é o personagem. Então, já fui o Bidu, a Mônica, o Cebolinha, o Louco. Mas o personagem que mais me caracteriza é o Horácio, o dinossauro. Ele está solto no mundo. O Horácio é meu alter ego. Tanto que ainda não consegui passar o esse personagem para ninguém do meu escritório”.

“Uma coisa que incomoda qualquer criador é a patrulha do politicamente correto. De vez em quando, chego no estúdio e peço para o pessoal desobedecer um pouquinho mais. Mas o que é mal visto eu não uso. No começo das minhas histórias desenhava o Chico Bento soltando balão. Não uso mais. Meus personagens devem agir da mesma forma que as crianças bem informadas de hoje”.

“Quando conheci os gibis, fiquei maravilhado. Levei para casa alguns bem velhos, já desbotados, amassados, e pedi para a minha mãe ler para mim. Aqueles personagens ganharam vida na voz dela. Aprendi a ler pelos gibis, com a minha mãe me ensinando os segredos daquelas letrinhas. Ali começou meu gosto pelo desenho e pela vontade de fazer aquilo”.

“Na escola, uma professora não gostava que eu desenhasse na sala de aula. Me dava reguadas quando me pegava desenhando. No ano seguinte, em compensação, uma professora que adorava que eu desenhasse, pediu que eu ilustrasse as lições. Comecei a estudar ainda mais para conseguir ilustrar aquilo e passei a tirar só 9 e 10”.

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“É minha família que sugere amainar um pouco os exageros dos personagens. O Cascão, por exemplo, continuará a não gostar de tomar banho, mas não precisa mais ter cheiro ruim. A Magali vai continuar comendo bem, gostando de comer, mas quando passar o carrinho de sorvete ela não vai acabar com o carrinho inteiro como fazia antes”.

“A Mônica era inaceitável no Japão porque ela batia em homens”.

“Quando lancei a revista do Chico Bento aqui em São Paulo, achei que não faria tanto sucesso por causa do universo da roça. Mas foi o contrário. Em alguns meses, ela ultrapassa a da Mônica. Quando pesquisei, descobri que isso acontecia, porque muitos leitores tinham certa nostalgia justamente daquilo que não tinham vivido”.

“Alguns mantras que adoro ouvir são ‘aprendi a ler com os seus personagens’ e ‘você me ensinou a ler’. Mas o ‘você fez parte de toda a minha infância’ talvez seja o que mais me emocione”.

A bancada de entrevistadores reuniu os jornalistas Bruno Meier (VEJA), Edison Veiga (Estadão), Helen Braun (Rádio Jovem Pan), Isabella D’Ercole (Revista Claudia) e Ivan Finotti (Folha). Com desenhos em tempo real do cartunista Paulo Caruso o programa foi transmitido pela TV Cultura.

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