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Exílio no quadrado – A rotina franciscana do senador Roger Pinto Molina, dez meses após a arriscada viagem que o trouxe à capital

Publicado na edição impressa de VEJA Brasília CLARA BECKER E MARIANA MOREIRA Depois de percorrer 1 600 quilômetros em 23 horas, faltavam apenas 200 metros para cruzar a fronteira entre Porto Quijarro, na Bolívia, e Corumbá, em Mato Grosso do Sul, quando acabou a gasolina do carro que trazia o senador Roger Pinto Molina e o […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 03h35 - Publicado em 29 jun 2014, 14h28

Publicado na edição impressa de VEJA Brasília

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CLARA BECKER E MARIANA MOREIRA

Depois de percorrer 1 600 quilômetros em 23 horas, faltavam apenas 200 metros para cruzar a fronteira entre Porto Quijarro, na Bolívia, e Corumbá, em Mato Grosso do Sul, quando acabou a gasolina do carro que trazia o senador Roger Pinto Molina e o diplomata brasileiro Eduardo Saboia. O plano emergencial já havia sido traçado. Caso algum policial os parasse, Saboia, o motorista e os fuzileiros navais que os acompanhavam desceriam pelo lado direito do veículo e armariam um escândalo. Molina sairia pelo lado esquerdo e atravessaria a divisa a pé. Não foi necessário. Após o abastecimento, o carro cruzou a fronteira diante de um policial que, entretido com um sanduíche, não fez a revista de praxe. Esse foi apenas o desfecho de uma operação cheia de riscos, como atravessar a província de Chapare, reduto eleitoral do presidente Evo Morales, denunciado por Molina por envolvimento com o narcotráfico. Durante todo esse tempo, funcionários da embaixada brasileira em La Paz simulavam a presença do senador no cubículo que habitou por 454 dias, asilado depois de receber constantes ameaças. Como todos os movimentos do parlamentar eram monitorados, foi preciso manter on-line seu perfil no Facebook, acender e apagar as luzes, o aparelho de som e a TV, além de responder a mensagens no celular pessoal. A viagem de Corumbá para Brasília seguiu mais tranquila. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, fretou um jato para trazer o refugiado até a capital. Após um primeiro momento atribulado sob os holofotes da imprensa, vivendo na casa de seu advogado Fernando Tibúrcio, no Lago Norte, Molina conseguiu visto provisório de refugiado e luta pelo asilo político definitivo. Enquanto isso, circula livremente pela cidade. No último dia 23, por exemplo, camuflou-se entre torcedores e assistiu à partida entre Brasil e Camarões, no Estádio Mané Garrincha. VEJA BRASÍLIA falou com amigos próximos e com o advogado do senador, que revelaram os hábitos do político boliviano por aqui. Sua maior dificuldade atual é manter-se em uma cidade com um dos custos de vida mais altos do país. Como renunciou ao seu salário de parlamentar, ele não teve condições de alugar um espaço. Hoje, vive de favor no apartamento funcional do senador Sergio Petecão (PSD-AC), com outros três jovens, filho e sobrinhas do amigo que o acolheu. “Ele dorme no quarto de empregada. Acho bom, ele me ajuda a cuidar dos meninos na minha ausência”, diz Petecão, que, não raro, abriga no imóvel concurseiros ou pacientes do hospital Sarah Kubitschek de passagem por aqui.

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Quem anda com o Molina já o viu ser reconhecido na cidade. “As pessoas são acolhedoras, dizem que estão com ele”, conta Fernando Tibúrcio, que assumiu a causa pro bono (sem cobrar honorários). Quando paga do próprio bolso, o senador frequenta restaurantes na Vila Planalto, o Xique-Xique e o Bar da Codorna. Se é convidado, costuma sugerir o Rubaiyat, o Fogo de Chão e as casas localizadas no Pontão do Lago Sul. Batista, aos domingos frequenta os cultos da igreja Sara Nossa Terra e tem o bispo Rodovalho entre seus amigos. Para andar de bicicleta, fazer caminhadas e apreciar a beleza das brasilienses, um dos destinos preferidos é o Parque da Cidade. O banco embaixo do bloco serve como um recanto para a leitura de jornais e livros de política. Nesse momento, ele estuda para ser piloto profissional de helicóptero e está matriculado em um cursinho de português.

A Brasília que Molina vive intensamente, porém, é a capital da política e do poder. Ele frequenta muito o Congresso Nacional, onde conscientiza os colegas brasileiros das questões bolivianas, como a responsabilidade do nosso país no crescimento do narcotráfico em sua terra natal. Nos seus discursos, costuma lembrar que 90% da cocaína consumida no Brasil vem da Bolívia e que as fronteiras não são devidamente policiadas. Enquanto alguns enxergam nele uma pedra no sapato, há quem se identifique com a sua bandeira. Segundo seu advogado, Molina recebe ajuda de representantes de diversos partidos que se penalizaram com sua causa. Há, inclusive, diplomatas do Itamaraty entre os aliados. “Para ir ao Acre visitar a família, que se transferiu para lá, amigos cedem milhas aéreas”, diz Tibúrcio. A distância dos parentes é, sem dúvida, o aspecto mais sofrido de viver em Brasília. O político já vendeu terrenos, gado, carros e aluga o apartamento que possui em La Paz. Nem assim, consegue trazê-los para perto.

A presença do senador no Brasil, porém, pode estar com os dias contados. Embora o caso ainda esteja por ser julgado, seu advogado acha pouco provável que, com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, seja concedido o asilo político a Molina. Se a negativa vier, ele precisará buscar refúgio em outro país. Antes, tem até o dia 14 de julho para decidir se aceitará ou não o convite para concorrer à vice-presidência da Bolívia na chapa da oposição. A vinda para a capital brasileira, no entanto, ficará registrada nas telas. Detalhes da história de Molina serão contados em Missão Bolívia, documentário de Dado Galvão que deve estrear em breve.

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