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Celso Arnaldo: depois de inaugurar a paciente ‘mastetêctomizada’, Dilma absorve o fundamental e metaboliza no particular

Por Celso Arnaldo Araújo Ok, um de seus pontos fracos é a saúde – não a dela, graças a Deus sob controle, mas a do brasileiro em geral. A presidente-técnica ainda não domina alguns termos um pouco mais complicados, mesmo que envolvam a própria condição feminina. Prova disso é que, no discurso que fez em […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h27 - Publicado em 27 mar 2011, 16h14

Por Celso Arnaldo Araújo

Ok, um de seus pontos fracos é a saúde – não a dela, graças a Deus sob controle, mas a do brasileiro em geral. A presidente-técnica ainda não domina alguns termos um pouco mais complicados, mesmo que envolvam a própria condição feminina. Prova disso é que, no discurso que fez em Manaus, a pretexto de lançar uma rede de prevenção e tratamento do câncer de mama e do útero, Hebe e Fafá de Belém presentes, a presidente criou uma nova categoria de pacientes: as mastetêctomizadas – como se ouve aos 4m20s do vídeo anexo.

Não sejamos tão exigentes. Dilma Rousseff é tida como uma intelectual — devoradora dos livros que nunca leu e colecionadora de obras de arte digitalizadas em seu pendrive. Pessoas dessa categoria têm alguma dificuldade para entender as mazelas físicas do corpo humano. Seu objeto de interesse é o espírito. E, reconheça-se, no campo das artes e da cultura, a presidente Dilma tem uma sólida formação.

Aplauda-se, aliás, sua iniciativa de promover a exposição “Mulheres, artistas e brasileiras”, no Palácio do Planalto, reunindo obras de 40 artistas – inclusive a lendária Abaporu, de Tarsila do Amaral, que há 16 anos pertence a um colecionador argentino. No campo das artes plásticas, trazer Abaporu de volta, mesmo que provisoriamente, equivale a repatriar Ronaldo e Ronaldinho juntos. Golaço de Dilma.

Daí ela se sentir tão à vontade nesta quinta-feira, na abertura oficial da exposição, que Obama visitou sábado em regime de soft opening. Durante pouco mais de oito minutos, deu um show para uma plateia ilustre – toda a alta cúpula do governo – discorrendo com enorme naturalidade sobre os objetivos da exposição e algumas das obras referenciais ali exibidas.

“QUERIA COMPRIMENTÁ OS BRASILEIROS E AS BRASILEIRAS”
Quando se conhece o assunto, é outra coisa: a curta fala presidencial foi uma aula magna sobre a arte brasileira, onde Dilma refundou, com seu estilo, a escola do expressionismo abstrato. Enquanto Jackson Pollock gotejava tintas erráticas sobre telas que hoje valem milhões, a presidente pingou palavras a esmo sobre o branco do silêncio do Palácio. Não sei quanto isso valerá um dia.

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“Queria comprimentá os brasileiros e as brasileiras que estão aqui”, resumindo, desta vez, seu já conhecido rosário de “comprimentos” aos presentes, poupando os ausentes.

É hora de agradecê a uma pessoa especial, “um empresário argentino…”. Claro, ela vai falar de Eduardo Costantini, o dono do Abaporu, que emprestou a obra para a exposição. O sobrenome do milionário portenho é meio quebra-língua, pela tendência de se dizer Constantino. Mas não para Dilma, que deve ter treinado a silabação do nome várias vezes:

“Um empresário argentino chamado Eduardo Cons, Costantini”.

Dilma deve ter tomado conhecimento de Costantini agora há pouco – quando se iniciaram as tratativas para trazer Abaporu – mesmo sendo ele o maior colecionador de arte da América do Sul. Mas o dono não importa. Vale mesmo é o Abaporu, nosso velho conhecido:

“O Abaporu ele tem uma simbologia toda especial para nós brasileiros. E a presença dele aqui se deve a esse espírito que geralmente é de generosidade de todos aqueles que querem ver a arte exposta e não trancada entre quatro paredes”.

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Talvez a presidente não tenha usado o termo adequado – o que acontece com alguma frequência. Museus têm quatro paredes. A Mona Lisa está trancada entre quatro paredes. Se não estivesse, seria um perigo. Abaporu está exposta entre as quatro paredes do museu fundado por Costantini, o magnífico Malba, de Buenos Aires. Abaporu, que ele arrematou em 1995, num leilão em Nova York, porque nenhum brasileiro se interessou pela obra, é a Mona Lisa do Malba.

“Então – prossegue Dilma – eu proponho uma salva de palmas em agradecimento…”

A presidente não diz a quem – presuma-se que seja a Eduardo Costantini, mas cadê coragem para repetir-lhe o nome? O mecenas argentino agradece, constrangidamente, as palmas sem nome.

“ABSORVÊ O UNIVERSAL E METABOLIZÁ NO PARTICULAR”
A sobrinha-neta de Tarsila também está presente, na primeira fila, e a ela Dilma agradece “pelo fato de que generosamente também permitiu que nós utilizássemos todos os elementos ligados a essa grande pintora brasileira”.

Quem seriam os “elementos” ligados a Tarsila? Oswald de Andrade e quem mais? Ah, esse jargão dos experts…

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Mas a mostra não é só Tarsila. Tem também Djanira – aquela que Dilma e Hebe confundiram com Elenira. Algo me diz que Dilma não conhece o nome do quadro (“Colhendo Café”), mas pelo menos sabe onde ele estava, originalmente:

“Também dei minha contribuição: cidi (sic) o quadro de Djanira que estava no meu, no meu escritório”

Tarsila, Djanira, esqueça. Dilma ergue um monumento à artista desconhecida ao falar das bonequeiras. Em minha ignorância sobre arte popular, presumo que sejam artesãs que façam bonecas – e é possível que muita gente da plateia tenha ficado também meio no ar. Mas, para Dilma, uma bonequeira é uma bonequeira. A arte é simples assim.

“Enfim, falar das bonequeiras. Bonequeiras”, repete, como se estivesse fixando a palavra. “Porque nós temos aí pintoras que são pintoras eu chamaria di, di, nível, é, internacional. E temos também bonequeiras que são também de nível internacional. Que eu duvido que tenha bonequeiras tão capazes como as bonequeiras mineiras. Eu não estou puxando brasa pra minha sardinha, porque tem bonequeiras nordestinas, tem bonequeiras no sul do país, enfim, mas essa exposição também evidencia a arte popular através de uma mostra das nossas bonequeiras”.

Dilma mostrou-se especialmente grata pela chance de fazer essa exposição:

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“Eu queria homenageá todas as artistas que deram seus quadros – aquelas que já se foram e aquelas que ainda estão entre nós”.

Uma pequena mostra da força da presidente Dilma: as artistas não emprestaram, mas deram suas obras – inclusive as que não estão entre nós, que o fizeram postumamente, na mesa branca.

Outro agradecimento oportuno às “mulheres brasileiras que foram capazes de, ao longo de nossa história, produzir artistas fantásticas”. Previdente a presidente: dois meses antes, já faz referência ao Dia das Mães, agradecendo às genitoras das artistas expostas.

Mas a grande estrela da noite era mesmo Abaporu. E ninguém poderia ir embora sem ouvir a interpretação da crítica de arte Dilma Rousseff sobre o real significado da célebre obra antropofágica de Tarsila. A pintora é mulher? A figura é assexuada? Claro, mas os homens também estão ali simbolizados – prova Dilma:

“Nessa exposição tem uma avaliação a respeito da cultura, a respeito da arte dos homens. Eu queria lembrar que Abaporu quer dizer homem que come gente, homem que come homem, no sentido do nosso movimento antropofágico, que é a nossa capacidade de absorvê o que tem de universal em todas as culturas e metabolizá no particular. É a saída do particular ao universal que eu acho que as mulheres também foram capazes muito bem de representar, como vocês vão ver aqui. Então boa exposição pra todo mundo”.

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Humm, absorver o universal e metabolizar no particular… A saída do particular… A cabecinha de Abaporu talvez não alcançasse a ideia.

Se a esfinge de Abaporu, diante de Dilma, soltasse um “decifra-me ou te devoro”, Michel Temer seria hoje presidente do Brasil.

Exposição:

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Saúde: mulheres mastetêctomizadas, aos 4m20s

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=MdhM3WGDmT4?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=425&h=344%5D

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