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Augusto Nunes

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Bolsonaro vai ao mundo

Como a luta contra o "globalismo" tem características de guerra cultural, o momento da entrada em cena de Bolsonaro em Davos é especial

Por William Waack
Atualizado em 30 jul 2020, 20h02 - Publicado em 17 jan 2019, 16h27

William Waack (publicado no Estadão)

A estreia internacional de Jair Bolsonaro será em Davos, local símbolo das elites “globalistas” e antissoberania nacional que o novo presidente brasileiro foi convencido a combater. Fazem parte dessa elite também os grandes nomes ligados ao volátil mundo dos investidores e sua incessante busca por oportunidades, grupo que o novo presidente brasileiro foi convencido já há bastante tempo a cultivar.

Como a luta contra o “globalismo” (qualquer que seja a definição que se empregue) tem características de guerra cultural ─ pois estamos falando de valores ─ o momento da entrada em cena de Bolsonaro em Davos é especial. Ocorre quando os dois maiores “choques” antiglobalistas passam por graves dificuldades. Brexit e Trump estão dando muito conforto a seus críticos e adversários.

No voto do Brexit, os antiglobalistas enxergaram até mesmo a luta heroica de um povo para recuperar sua soberania e dignidade. Mas a cizânia política trazida pelo resultado é de tal ordem que, hoje, o Reino Unido chegou a ponto de não ter Brexit, não ter acordo para Brexit, não saber o que fazer com Brexit nem com o próprio governo conservador. A confusão está dando projeção a um populista de esquerda, Jeremy Corbyn. E pode acabar em novo referendo sobre… Brexit.

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Faz dois anos também que Donald Trump assumiu causando um monumental choque político, seguido agora de uma imensa bagunça política em casa. As investigações contra ele prometem levar a pedidos de impeachment na Câmara, cujo controle perdeu para os adversários democratas. Perigo maior são os políticos republicanos que sofreram nas eleições de meio termo em novembro último e não gostaram nem um pouco da renúncia do general Jim Mattis do Pentágono.

Trump decidiu topar uma inédita paralisação da máquina do governo americano por conta do financiamento de uma promessa de campanha ─ construir um muro na fronteira com o México ─ que já causa danos à economia real e faz o próprio campo político republicano perguntar se há alguma relação saudável entre custos e benefícios, sobretudo políticos. Diga-se de passagem que a articulação dos adversários democratas está se dando num eixo de “esquerdismo” nunca antes visto no mainstream da política americana.

O ponto de interrogação levantado por vários comentaristas internacionais sobre os limites dos movimentos políticos simbolizados por Trump e Brexit não tem resposta clara. Alguns dos fatores que ajudaram esses movimentos a ganhar corpo e projeção continuam presentes. Eles são, em forma ultrarresumida, de três tipos: as forças econômicas que criaram ganhadores (elites) e perdedores (trabalhadores em países industrializados). As forças culturais, sobretudo o nacionalismo e o peso da religião.

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E, em terceiro, o “antiglobalismo” nas suas várias versões é um fenômeno por sua vez global, que vai de Londres a Washington, de Roma a Manila, de Brasília (direita) ao México (esquerda) ─ para não falar dos regimes “duros” dos homens fortes na Rússia, China ou Turquia.

A tentação óbvia para Bolsonaro é falar tanto aquilo que gostariam de ouvir os que ele pretende cultivar (investidores) como aqueles com os quais se alinha nessa “cruzada antiglobalista”. Não há em princípio uma contradição: os chineses se consagraram ao capitalismo dizendo que não importa a cor do gato contanto que pegue o rato.

Mas é bom ter na cabeça o que aconteceu com o Brexit. Começou prometendo aos britânicos a volta do destino nas próprias mãos e, portanto, um futuro melhor. No momento, deixou o Reino Unido na condição de país sem destino. Ideias ruins costumam trazer consequências ruins.

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