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Por Coluna
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A pomba e o corvo do almanaque eleitoral

Terão os brasileiros que fazer o que fizeram os dois velhos da lenda talmúdica descrita por Eça de Queiroz?

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 29 jul 2018, 11h39 - Publicado em 29 jul 2018, 11h39

Deonísio da Silva

Uma lenda talmúdica que li em Eça de Queiroz conta que, às vésperas do Dilúvio, dois videntes, sabendo das  malévolas intenções de Deus, resolveram fazer um almanaque.

Temerosos de que depois daquela primeira Humanidade, os novos homens teriam que partir outra vez do zero, que, aliás, ainda não existia, pois a própria Arca de Noé foi calculada sem o zero, os dois anciãos pretendiam reunir os saberes já acumulados, com o fim de garantir que a nova Humanidade tivesse por onde começar de novo.

Também a palavra almanaque ainda não existia. Ela designará, muito mais tarde, o verbo que identifica o ato do camelo se ajoelhar. Ora, os camelos não se ajoelham onde querem, mas onde os viajantes das caravanas mandam. Porque, para os homens como para os animais, manda quem pode e obedece quem precisa.

Cultores do bom estilo, dizendo muito com poucas palavras, os dois anciãos precisaram de apenas três dias para reunir o saber epocal, fazendo em rochas, pedras e tijolos os registros imperecíveis de uma enciclopédia cujo título foi Livro de Todo-o-Saber.

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As primeiras estiletadas marcaram a data do começo do mundo, as jornadas dos astros no Céu, vistas pelo Zodíaco, especialmente do Sol, da Lua e de algumas estrelas referenciais, como Vênus ou Estrela D’Alva, que, sendo a mesma, pela manhã deu nome ao Amor e ao Demônio, e ao entardecer tornou-se Vésper.

Os dois velhos reuniram o que já se sabia: a melhor época de plantar e de colher, como e quando tosquiar as ovelhas, como aproveitar a lã, forjar o ferro, amassar o barro, atrair e domesticar abelhas e lobos, tornando-os produtores de mel e guardiães da casa; que ervas usar como chás para isso ou aquilo, que substâncias pôr nos ferimentos, como entender registros que tinham permanecido, como as tábuas de pesos e medidas, alguns códigos de direito primitivo, que prescreviam como examinar e julgar os conflitos, que castigos e que penas impor etc.

Certamente não faltariam nestes registros alguns versos ou frases que resumiriam, às vezes de forma poética, a arte de viver, em paz ou em guerra, conforme fosse necessário.

Terão os brasileiros que fazer o que fizeram os dois velhos da lenda talmúdica? Como estão se desenhando as próximas eleições presidenciais, parece que sim. Deixemos, pois, registrado em algum lugar, como se faz orçamento, como se combate a inflação (sim, é preciso combatê-la), como se cuida da saúde, da educação, dos transportes, da segurança e de outros temas fundamentais para que o eleito não resolva inventar a roda.

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E, assim, depois da longa quarentena do Dilúvio e de outras destruições que se avizinham, alguns corvos que ora adejam por aí, da mesma família daquele que Noé soltou, voltarão a sobrevoar, mas não encontrarão onde pousar e voltarão a seus galhos.

Será então a vez de soltar a pomba. Como aprendemos em outro almanaque, ela fará três viagens. Na primeira, voltará à Arca sem nada. Na segunda, voltará com um ramo verde no bico. E da terceira viagem ela não voltará e só então poderemos descer para recomeçar.

*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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