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‘Pode e não pode’, de J. R. Guzzo

Publicado na edição impressa de VEJA J. R. GUZZO A política, como dizia Groucho Marx, é a atividade que se destina a procurar sem descanso algum problema, achar o problema, fazer o diagnóstico errado para ele e receitar remédios que deixam as coisas ainda piores do que estavam. O comediante americano era realmente um craque […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 05h20 - Publicado em 23 set 2013, 11h53

Publicado na edição impressa de VEJA

J. R. GUZZO

A política, como dizia Groucho Marx, é a atividade que se destina a procurar sem descanso algum problema, achar o problema, fazer o diagnóstico errado para ele e receitar remédios que deixam as coisas ainda piores do que estavam. O comediante americano era realmente um craque em explicar para o ser humano comum o ridículo em estágio terminal de tantas questões que lhe são apresentadas como complicadíssimas, e que só mentes superiores são autorizadas a tratar. Se estivesse vivo hoje, ele talvez dissesse “política internacional” em vez de apenas “política”. Não iria perder a oportunidade da piada diante dessa prodigiosa guerra da Síria, uma rixa de terceira categoria que se tornou uma das guerras civis mais cruéis dos nossos dias ─ e pouco a pouco se viu transformada pelos estadistas que nos governam numa crise mundial, com tudo aquilo a que as crises mundiais têm direito. Um não problema se tornou um problemaço, as explicações a respeito de suas causas não explicam nada e todas as soluções propostas para resolvê-lo são ruins.

Como é possível, para começar pelo começo, que um lugar como a Síria possa se tornar o foco central de um conflito que ameaça o equilíbrio do mundo inteiro? Com todo o respeito à Síria e aos sírios, não faz sentido construir uma ameaça à paz mundial por causa de um país que tem um território menor que o do Estado do Paraná, população talvez inferior à da Grande São Paulo e um PIB estimado entre 60 e 70 bilhões de dólares ─ quase quarenta vezes menor que o do Brasil e menos do que os 110 bilhões que a Petrobras faturou em 2012. Não há nada ali, francamente, que valha grande coisa para o bem-estar da humanidade; se fosse posta à venda no mercado imobiliário, seria difícil encontrar comprador para suas áreas de deserto, pedra e areia. É duro levar a sério, além disso, a ideia de que esse modestíssimo pedaço do planeta possa ser uma ameaça à segurança dos Estados Unidos, como o governo americano sustenta no momento com grande paixão ─ o que exigiria uma intervenção militar direta destinada a liquidar o atual governo da Síria e, assim, devolver a tranquilidade ao mundo.

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Não faz sentido. O governo da Síria, na vida real, só ameaça a segurança dos próprios sírios: como sempre acontece com ditaduras primitivas, é contra eles que utiliza o seu arsenal. A comprovação disso é a brutal guerra civil que começou junto com o caos criado em diversos países muçulmanos da região, e que nestes dois últimos anos já matou mais de 100.000 pessoas. Um ataque militar à Síria, por esse prisma, teria também a utilidade de interromper o massacre ─ um motivo de caráter humanitário, digamos. Mas, no caso, não há um lado mau e um lado bom; há apenas dois lados que querem se exterminar mutuamente. Derrubar o atual governo sírio teria como único efeito prático garantir que a matança continuará a toda, só que agora sob a iniciativa dos rebeldes. E as armas químicas ─ o mundo deveria assistir quieto ao governo exterminar seus inimigos com gases sarin, tabun, VX e outros horrores, como fez num ataque recente em que morreram mais de 1.400 pessoas? Nos últimos dias o foco central de tudo passou a ser uma insana discussão sobre a existência ou não de provas sobre o uso de armamento químico, e a abertura do arsenal da Síria para inspeção internacional. Algo assim: se não for comprovada a sua utilização, poderia haver uma “saída diplomática” para a crise. Ficaria combinado, para satisfação geral, que matar 100.000 pessoas a bala ou tiro de canhão é aceitável; o que não se pode aceitar é que o governo mate gente com compostos organofosforados capazes de fritar o sistema nervoso central do inimigo.

Argumenta-se, enfim, com a necessidade de golpear duro o terrorismo internacional, que a Síria protege, estimula e financia. Não está claro o que os Estados Unidos conseguiram até agora, com sua ofensiva mundial antiterrorista destinada a vingar a destruição do WTC de Nova York, doze anos atrás. Ao longo desse tempo todo, conseguiram matar dois inimigos mortais ─ Saddam Hussein e Osama bin Laden. Em troca desses dois, 7.000 soldados americanos já morreram nas ações contra o terrorismo, dois países, Iraque e Afeganistão, foram invadidos militarmente e 2 trilhões de dólares, soma que a longo prazo pode dobrar ou triplicar, saíram do Tesouro americano para pagar a conta. E no que deu isso tudo? Deu que é preciso começar uma guerra nova em folha, agora contra a Síria.

É a soma do falso problema com a falsa solução e o falso resultado.

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