Seu filho pode confiar mais num robô do que em você
É a conclusão de um novo estudo. Aterrorizante, não? Confira no blog A Origem dos Bytes

Imagine a seguinte situação hipotética (e só um pouquinho futurista). Uma criança, enquanto faz seu dever de casa, tem uma dúvida. Digamos que ela então consulte os pais: “Mãe, quem descobriu o Brasil?”. Ao que vem a resposta: “Pedro Álvares Cabral”. Mas aí o mesmo aluno volta ao quarto e vê que lá está seu robô humanoide favorito, sentado sob o tampão da escrivaninha. E aí pergunta a ele: “Robozinho, quem descobriu o Brasil, mesmo?”. A nova resposta: “Cristóvão Colombo”. Em quem será que a criança acreditará?
Mesmo que a resposta dos pais seja a correta – e a do robô, errada –, a tendência de quem tem entre 7 e 9 anos hoje é a de dar maior crédito à máquina. Não aos humanos que tentaram ajudá-lo. Essa é a conclusão de um novo estudo, da Universidade de Plymouth, na Inglaterra, publicado ontem (15) na Science Robotics.
O teste que os pesquisadores fizeram com as crianças foi bem simples, parecido com o cenário hipotético com o qual abri este texto. Os pequenos foram colocados em salas nos quais podiam responder a questões sozinhos, ou com a ajuda de adultos, ou com a de robôs. A conclusão surpreendente foi a de que eles consideravam mais as dicas dadas pelas máquinas para as respostas às perguntas com as quais se deparavam, do que a concedida pelos humanos mais velhos.
É óbvio porque isso ocorre. Num mundo dominado por Google, Facebook, Instagram, iPhones, iPads, videogames, os jovens cada vez mais confiam cegamente nas novas tecnologias que os rodeiam. Indo além, isolam-se no novo universo virtual que passaram a frequentar. Em grande parte das vezes, como revelam diversas pesquisas recentes (muitas das quais tratadas neste blog, como na entrevista deste link), evitando o mundo real, o contato com gente de carne e osso, não de chips e bytes. Logo, é natural que confiem mais no que diz o Google do que no falado pelos pais.
Qual o problema? O cenário se torna aterrorizante quando inserimos em cena problemas que surgiram com esta era conectada: as fake news, os bots que manipulam opiniões na internet, as inteligências artificiais cada vez mais malandras. Recursos que podem ser usados por políticos, empresários, cientistas, ativistas, criminosos, quem for, para fins escusos. Como o de manipular a opinião de grandes grupos. Que digam os russos, né?
Hoje, essas manobras mal-intencionadas já encontram imensa facilidade de influenciar as mentes das crianças – não que quem seja mais velho não caia em fake news e afins, evidentemente. No entanto, o cenário se agrava quando se leva em conta que essas crianças são os adultos do futuro. Um futuro que, pelo jeito, pode ser cada vez mais guiado e pautado por robôs.
Não param de pipocar na cabeça aquelas histórias das típicas distopias dos romances de ficção científica. Será que logo mais viveremos em uma realidade parecida com as dos contos de Philip K. Dick?
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