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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Quando o Twitter virou um campo de guerra de generais e presidentes?

A rede social do passarinho não foi criada para discursos do tipo, como os vindos de Villas Bôas ou de Trump. Era para ser apenas um bar virtual descolado

Por Filipe Vilicic Atualizado em 4 abr 2018, 17h11 - Publicado em 4 abr 2018, 16h55

Quando Jack Dorsey, Evan Williams, Biz Stone e Noah Glass criaram o Twitter, o que queriam com ele? Incentivar pessoas a compartilhar mensagens bestas na internet, na linha do que se comeu no café-da-manhã, de como está o clima no estádio de um jogo de futebol, ou narrando as últimas traquitanas de um pet. Achava-se que a internet já estava poluída demais e o site se apresentava como uma alternativa mais leve à confusão online. Pelos olhos de hoje, sabe-se que não saiu como o previsto. E o resultado foi não só hilário e irônico, como também tenebroso.

Certa vez, o ex-CEO (então, no cargo) Dick Costolo me descreveu bem as transformações pelas quais o Twitter passou. De plataforma de bobagens, primeiro virou um diário pessoal, mas aberto ao público. Depois, tornou-se também um espaço pelo qual os usuários passaram a expelir mensagens de cunho politicamente correto, ou então criticando o politicamente correto. Daí se tornou um mural de achismos sobre o mundo.

Por fim, metamorfoseou-se num dispositivo de marketing. Na sequência natural, em ouro para a mineração de políticos. E então veio Trump para fazer do Twitter um ambiente em que presidentes de nações discutem, generais se pronunciam, e uma tia distante sem noção espalha fake news sobre tudo e todos.

Mas o Twitter virou um amálgama. Não é que ele seja uma dessas coisas, tão-somente. Ele é tudo ao mesmo tempo.

No começo, os criadores da rede social o imaginavam como algo como um bar virtual. Por isso, desenharam a página como tal. Guiando o algoritmo para valorizar o que é mais falado no boteco (as hashtags populares), a gritaria que mais chama atenção, a troca de sopapos entre bêbados que o público corre sempre para ver, os xavecos direcionados a todos os lugares… enfim, o que costuma ganhar os olhos num bar.

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Para a coisa não virar conversa chata de bêbados, na linha “Te amo, cara” e/ou “Acho que vou deixar uma mensagem (um tuíte) para minha ex”, limitaram-se os posts aos 140 caracteres – hoje, como o passarinho ganhou asas e voou numa trajetória não esperada, pode-se escrever um pouco mais que isso lá. Ainda se desenharam formas de incentivar que surgissem figuras simbólicas do botequim… ou, melhor, do Twitter. De musas e musos a comediantes e simulacros daqueles caras que te abordam na mesa vendendo poesia, ou perguntando se você quer que um papagaio tire uma mensagem (exclusiva!) da caixinha.

Só que aí a taverna virou pop. E apareceram no balcão, nas mesas, ou num cantinho de pé, gente que não entendeu bem qual era o clima da boemia digital. Surgiram assim políticos, sejam petistas ou bolsonaristas, fãs desses políticos, haters desses políticos… e, pô, o algoritmo bêbado não soube lidar bem com essa de botar ordem em blá blá blá sobre política.

A coisa virou uma baderna. Uma na qual se destacaram aqueles que souberam aproveitar a turma bêbada dos (ex)140 caracteres feito manada. Melhor, feito o(a) bartender experiente, ou dono do bar, que incentiva um cliente a se separar da esposa, outro a trocar a mulher por um amigo pra quem tem vergonha de declarar amor, outra(o) a sair com ele depois do expediente, mais um a votar nele para vereador.

Trump é exemplo de um dono de bar malandro no Twitter. Outro é Bolsonaro. Mais um, pra não dizer que se fala só dos do espectro mais à direita: Jean Wyllys. E ontem teve um acréscimo à longuíssima lista: Eduardo Villas Bôas. (E pra piorar: cada bêbado que já tava na baiuca entendeu diferente o que os novos visitantes, ilustríssimos, tinham a falar. De um lado, uns achavam que tinha cheiro de repressão. Outros, que não era nada disso. Alguns, que seriam indícios da liberdade. Virou uma cacofonia alcoolizada)

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Mas aí não dá! Militar de farda, em serviço, com a galera do bar? E tentando falar no linguajar dos poucos caracteres dos papos dos boêmios? O cara ainda é general. Comandante! É certo que quando militar entra na conversa do botequim – e bem sabemos disso ao menos desde 1964 – é para mandar pararem de beber, censurar a conversa alheia, bater com a espada na mesa (quando não vem com cavalo e tudo, derrubando o litrão comprado com muito suor) e sacar a arma a esmo depois de tomar uns copos de uísque falsificado (vendido como real, do bom) que um outro bartender malandro passou para ele.

Isso em meio a um ambiente não criado para trabalho, politicagem de Brasília ou brados de militares. O bar do Twitter foi arquitetado para outros fins. Por isso que presidentes, ex-presidentes, generais e outros estranhos do gênero, ao entrar na área se parecem com como quando a polícia chega botando banca no botequim mandando todo mundo falar baixo, deixar de dançar, fechar as portas e parar de fumar em ambiente fechados (ou, a depender do que se fuma, nos abertos). Ou ainda com quando aquele figurão que nunca pisou num botequim resolve ir pro balcão de um, logo depois de tomar um pé na bunda da esposa, e acaba a noite embriagado, virando cadeiras, arranjando brigas, flertando com a mulher alheia e, no fim, em cima do tampão da mesa gritando algo como “Quer saber, agora vou falar tudo!”.

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