Os planos do Google para conectar mais 1 bilhão à web
Os 5 passos que estão sendo dados pela empresa, e por outras gigantes do ramo, para garantir que a internet chegue à outra metade (desconectada) do mundo
Em entrevista que realizei com o CEO do Google, Sundar Pichai (no link, um teaser; a conversa está em VEJA desta semana), perguntei a ele sobre uma ambiciosa meta da gigante do Vale do Silício: colocar mais 1 bilhão de pessoas na internet. Para nós, já acostumados à rede, às vezes fica a impressão de que todo o planeta está on-line. É só impressão. Na real, somente cerca de metade dos 7 bilhões de seres humanos têm acesso à web. Claro, o Google quer colocar mais gente nessa onda para lucrar com isso, por meio de seus tantos serviços, à exemplo do próprio Google.com, do YouTube, do Waze, do Gmail e do navegador Chrome. Contudo, são inegáveis as desvantagens, sociais e econômicas, de não estar conectado. Perdem-se oportunidades de negócios, de se expressar, de se comunicar (como por meio de redes sociais). Portanto, trata-se de um esforço mais que bem-vindo. Mas como o Google planeja, ao lado de outras companhias do meio (como o Facebook), atrair mais 1 bilhão para a internet? Detalho 5 passos dessa estratégia, alguns dos quais apresentados em um megaevento realizado na semana passada em São Paulo:
1. Facilitar o funcionamento de aplicativos, e de outros softwares, em celulares baratos e em conexões precárias de 3G: Essa é também uma das estratégias centrais do polêmico projeto Internet.org, do Facebook. No Google, há táticas como permitir o compartilhamento e armazenamento em nuvem de imagens em baixa resolução quando em conexão ruim, ou de facilitar o uso do Mapas no modo offline.
2. Aumentar a presença dos conectados em aplicativos de GPS: Sabe-se, é claro, que a parcela off-line do planeta coincide com as camadas mais pobres da sociedade. São pessoas que, digamos, nem aparecem no Mapas ou no Waze. Uma das metas de empresas como o Google é colocar na internet a localização de comércios locais, ruas de favelas, reservas indígenas. Explicou, em entrevista concedida a este blog, o vice-presidente de Maps, Luiz Barroso: “Até o fim deste ano lançaremos, por exemplo, um serviço que permitirá que qualquer empresa, por menor que seja, possa criar uma página própria na internet. Já testamos o serviço com 50 000 estabelecimentos. É um empenho que seria impossível de ser realizado manualmente. Só conseguimos esses avanços com a aplicação de tecnologias de inteligência artificial, capazes de analisar automaticamente inserções e alterações em nossos programas de mapeamento.” Em suma, o objetivo é bem simples: colocar no mapa quem hoje está fora dele.
3. Tornar os produtos mais locais: Sundar Pichai me contou como é preciso fazer com que sites como o Google e apps como o Waze consigam compreender dialetos locais, como os de sua terra-natal, a Índia. Por enquanto, acredite, só quem fala um idioma mais amplo, à exemplo do inglês ou do português, consegue usufruir de tudo que a internet permite. Além disso, há iniciativas que procuram inserir culturais regionais no ambiente da web. Resumiu Tamar Yehoshua, VP de produtos de busca do Google, em conversa para este blog: “No Brasil, por exemplo, sabemos que vocês amam futebol. Por isso, estamos sempre aprimorando nossos algoritmos para darem melhores resultados sobre esse assunto no Google Brasil”.
4. Criar produtos que conectam as pessoas, sem que elas percebam: Neste ponto a ideia é investir em serviços que são on-line, sem que seus usuários percebem que eles são on-line. Para tal, é preciso integrar tecnologias de inteligência artificial e de armazenamento em nuvem. Assim, por exemplo, ao chegar em um mercado uma pessoa pode ser auxiliada, em suas compras, por um software de IA. Ou, como já ocorre em metrôs e outros locais públicos da Coreia do Sul, qualquer um poderia comprar produtos e pedir que sejam entregues em sua residência, por meio de um gadget posicionado na plataforma do trem. Ou seja, mesmo quem não têm uma conta de 3G, ou um wi-fi em casa, acabará por se deparar com a internet em diversos momentos de sua vida.
5. Criar artifícios para quem não lida bem com tecnologia — e assim esses indivíduos poderão, mesmo assim, recorrer a ela: Nesse ponto, uma explicação dada por Ben Gomes, VP da área de engenharia de buscas (em outras palavras, o site do Google), a este blog resume bem a questão: “A inteligência artificial tem resolvido problemas que nós nem imaginávamos que ajudaria. Uma área que avançou demais foi a da tradução de textos. Quando o Tradutor começou, a tarefa executada por ele deixava muito a desejar. Hoje, é muito eficiente. O efeito é que, hoje, 20% das buscas feitas no Google são realizadas por comandos de voz. Não é preciso mais digitar nada, nem realizar operações minimamente complexas. Basta falar com a máquina, como fazemos com outros humanos”. Uma curiosidade: em nações pobres, como o Brasil, essa porcentagem de 20% é ainda maior. Aqui, neste passo, a lógica é da mais óbvia. Se é natural lidar com a tecnologia, se podemos interagir com ela da mesma forma que fazemos com nossos amigos e familiares, fica bem mais simples convencer os hoje desconectados a realizar isso.
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Nenhum desses cinco passos se traduz como uma solução definitiva. A ideia é uni-los. Vale frisar que também não se trata de uma meta do Google, propriamente. Mas de uma de toda a indústria da tecnologia, em um empenho conjunto que acaba sendo guiado por esses passos. Comece a observar essas mudanças ao seu redor. Pois elas serão vantajosas a qualquer um, não apenas aos que começarão a explorar a internet. Para quem já está nela, representa gastar menos dados do 3G / 4G, possuir softwares – quase invisíveis – que ajudam a aliviar as tarefas rotineiras, dentre tantas outras possibilidades.
(Com reportagem de Talissa Monteiro)
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