Vítima das mudanças climáticas, café já custa quase 50 reais o quilo
Preço do grão moído registrou uma alta de aproximadamente 33% no acumulado dos últimos 12 meses até novembro

Gravemente afetada pela seca e pelas altas temperaturas, a produção de café despencou em 2024, o que tem resultado na disparada do preço da bebida.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça-feira (10), o grão moído acumulou alta de quase 33% nos últimos 12 meses. Um recorde.
Como resultado, nas gôndolas dos supermercados, o pacote de 1 kg está sendo comercializado, em média, a R$ 48,57, de acordo com pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Para efeito de comparação, em janeiro esse valor era de R$ 35,09.
Uma crise que se agrava lentamente
Nos últimos anos, especialistas vêm alertando que o café será um dos produtos mais afetados pela crescente instabilidade do clima, um fenômeno que tem como raiz o aquecimento global. Isso porque a planta não aguenta temperaturas elevadas.
Avaliada em mais de 200 bilhões de dólares anuais, ou 1,2 trilhões de reais, a indústria do café enfrenta desafios sem precedentes à medida que o planeta aquece.
As plantas dessa cultura, especialmente a espécie arábica — que representa cerca de 60% da produção mundial —, são extremamente sensíveis às variações de temperatura e precipitação.
O café cresce melhor em uma “zona ideal” — nem muito quente, nem muito fria. Porém, com o aumento das temperaturas globais, regiões tradicionais de cultivo, como Brasil, Colômbia e Etiópia, estão se tornando menos adequadas.
Estudos estimam que, até 2050, cerca de 50% das áreas de cultivo de café atualmente utilizadas poderão ser consideradas imprestáveis.
Para se adaptar, os agricultores estão movendo suas plantações para altitudes mais elevadas, onde as temperaturas são mais amenas. No entanto, essa mudança é custosa em várias regiões, resultando na queda dos volumes de produção.
Além das temperaturas em elevação, eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, tornaram-se mais frequentes e severos devido às mudanças climáticas.
No Brasil, maior produtor de café do mundo, a seca de 2021, que castigou Minas Gerais, foi seguida por geadas inesperadas, devastando plantações e elevando os preços do café ao maior patamar em sete anos.
Essas condições climáticas irregulares não só reduzem os rendimentos, mas também comprometem a qualidade dos grãos, interrompendo as cadeias de suprimentos e pressionando os preços para cima.
O aumento das temperaturas também está favorecendo a proliferação de pragas, como a broca do café, e de doenças, como a ferrugem do cafeeiro. Problemas que antes eram restritos a determinadas regiões estão agora se espalhando para novas áreas, dizimando plantações e dificultando a manutenção de uma produção consistente.

Efeitos econômicos em cascata
Os custos crescentes de produção, desencadeados pelos desafios climáticos, são repassados ao longo da cadeia de suprimentos: dos agricultores aos exportadores, torrefadores e, por fim, aos consumidores.
Pequenos agricultores, que respondem por cerca de 80% da produção mundial, são particularmente vulneráveis. Muitos não têm os recursos necessários para se adaptar às mudanças climáticas, levando alguns a abandonar a cafeicultura.
O que está sendo feito?
Para enfrentar a crise, governos, ONGs e empresas do setor cafeeiro estão investindo em pesquisas para desenvolver variedades de café mais adaptadas ao clima e práticas agrícolas sustentáveis.
Instituições como o World Coffee Research Institute trabalham no desenvolvimento de plantas que suportem temperaturas mais altas e sejam mais resistentes a pragas e doenças.