Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Por que é crucial controlar a emissão dos gases de vida curta

Poluentes como o metano desaparecem da atmos­fera em dias, semanas, meses ou no máximo alguns anos — e afetam o clima de forma severa

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 jun 2024, 08h00

Não é de hoje que especialistas bradam alertas sobre a necessidade da adoção de práticas para frear o aumen­to da temperatura da Terra. O mundo precisa esfriar, e logo. O planeta já aqueceu 1,2 grau em relação ao período pré-industrial. Falta apenas 0,3 grau para o limite máximo de 1,5 grau firmado pelo Acordo de Paris, em 2015. Nas discussões sobre o tema, a descarbonização da economia é tema seminal e recorrente. Na matemática da emergência climática, dá-se ênfase à redução dos combustíveis fósseis. É vital, sem dúvida, mas convém lembrar que domá-los resultaria em decréscimo de apenas 0,2 grau. Isso porque o dióxido de carbono tem vida longa na atmosfera. Demora um século, no mínimo, para ser completamente dissipado.

TÓXICO - Fuligem do trânsito: problemas de saúde
TÓXICO - Fuligem do trânsito: problemas de saúde (Cris Faga/Getty Images)

Uma nova linha de estudos, em busca de soluções práticas, tem chamado a atenção para um outro tipo de poluentes — os chamados gases de vida curta, que desaparecem da atmos­fera em dias, semanas, meses ou no máximo alguns anos. Adotar medidas eficazes contra eles seria crucial. “Controlá-los é uma estratégia capaz de baixar em até quase quatro vezes mais o aquecimento na comparação com a restrição do dióxido de carbono”, diz Gabrielle Dreiyfus, cientista chefe do Instituto para Governança e Desenvolvimento Sustentável (IGSD), autora do Inventário de Gases para o Aquecimento Global.

CONTROLE - Aterro sanitário: é fundamental a separação de resíduos
CONTROLE – Aterro sanitário: é fundamental a separação de resíduos (Martin Bernetti/AFP)

No topo da lista dos sujões está o metano, produzido sobretudo pelo arroto do boi e pela fermentação dos resíduos biodegradáveis de aterros sanitários a céu aberto. Além, é claro, do processo industrial das companhias de petróleo, que perdem a matéria-prima ao longo da cadeia, com vazamentos ocorridos desde a exploração até o transporte e distribuição do biogás. O estudo do IGSD indica a redução compulsória de 45% dessa família gasosa. Despontam, no horizonte da imundície, também o carbono negro, cujo resíduo é a fuligem dos centros urbanos, os hidrofluorocarbonetos, derivados dos equipamentos de ar-condicionado e refrigeração, e o ozônio troposférico, nevoeiro formado pela poluição (veja o quadro). “Durante a COP28, no ano passado, as empresas de petróleo se comprometeram a eliminar o desperdício, mas até agora nada aconteceu”, diz o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Continua após a publicidade

arte gases

Levantamentos recentes mostram um cenário ruim. O metano, a fuligem, os carbonetos de ar-condicionado e o ozônio respondem por metade dos danos relacionados ao aquecimento global, segundo os especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. Direto ao ponto: impõe-se mudança da matriz energética não apenas para o sumiço, em um tempo de quimera, lá no futuro, do dióxido de carbono, o drama mais evidente. É preciso desligar a chave de produtores de detritos que andam um tantinho à margem das atenções. E, se ainda paira algum tipo de questionamento, uma estatística de saúde pública tem a resposta: 5 milhões de pessoas morrem, todos os anos, em decorrência da poluição das metrópoles, atalho para doenças respiratórias e câncer. “É hora de mudar a orientação do desenvolvimento das cidades para o bem da sociedade”, diz Romina Picolotti, diretora de políticas para o clima do IGSD. Convém, portanto, olhar para soluções simples, mas que só caminham se todos os personagens da sociedade colaborarem, o público e o privado. É fundamental repensar a dinâmica da civilização, que pode começar dentro de casa, com a separação correta do lixo, e avançar, por exemplo, para a separação de resí­duos sólidos urbanos biodegradáveis nos aterros. Há pressa.

Publicado em VEJA de 21 de junho de 2024, edição nº 2898

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.