Países da América Latina e Caribe discutem bioeconomia em evento inédito
Representantes de 14 nações se reuniram para formular iniciativas que fortaleçam negócios a partir da biodiversidade na região
Às vésperas do Dia do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, dados sobre queimadas e desmatamento em biomas brasileiros voltaram a acender alertas sobre a conservação ambiental. Na Mata Atlântica, a derrubada da floresta entre 2020 e 2021 teve um aumento de 66% em comparação ao período anterior, de acordo com o Atlas da Mata Atlântica. Na Amazônia, o índice de desmatamento registrado em abril foi o maior da história para o mês, com 1.012,5 quilômetros quadrados de devastação no bioma. Incentivar práticas que valorizem a floresta em pé é uma das formas para frear o desmatamento.
Entre os dias 23 e 26 de maio, o I Fórum Sobre o Potencial dos Produtos Florestais não Madeireiros Para uma Bioeconomia da América Latina e Caribe foi realizado de forma virtual para identificar e formular iniciativas conjuntas que estimulem a bioeconomia florestal. Nesse contexto, o foco é desenvolver cadeias de valor de produtos florestais não madeireiros.
Um dos grandes desafios para fazer com que a bioeconomia cresça no mercado é o acesso a recursos financeiros. No evento, lideranças discutiram como aproximar os negócios comunitários de impacto com as agências de financiamento e fomento para que haja mais fluidez de resultados, além de ter produtos diferenciados de crédito para pequenos e médios negócios.
Segundo a representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Thaís Juvenal, a valoração dos serviços ambientais é um dos caminhos promissores para o crescimento sustentável da bioeconomia nos países da América Latina e Caribe. Segundo ela, a riqueza global de apenas três serviços ecossistêmicos não madeireiros representa 7,5 trilhões de dólares.
“É importante prospectar mercados europeus, que são receptivos aos produtos florestais não madeireiros. Na Europa, essa categoria de produtos para subsistência e mercado atinge 23,3 bilhões de euros por ano. É importante documentar a produção e comércio e desenvolver protocolos e especificações para os PFNMs. Além disso, buscar associações de produtores e cooperativas e a inserção em cadeias produtivas”, afirmou.
O encontro foi coordenado pelo Legado Integrado da Região Amazônica (LIRA). De acordo com a gerente do Fundo LIRA, Fabiana Prado, “essa agenda alinha economia com conservação das florestas, além de contribuir para a mitigação da crise climática porque mantém as florestas em pé, que são os principais sumidouros de carbono, como no caso da Amazônia”.
Algumas propostas surgiram como resultado: promover o intercâmbio de saberes e conhecimentos técnicos e científicos para formação de capacidades; criar estratégias econômicas e organizacionais a partir do desenvolvimento de cadeias de valor que incluam e fortaleçam povos e comunidades tradicionais; restaurar paisagens e recomposição florestal; realizar pesquisa e desenvolvimento, de forma interdisciplinar e contínua; criar mecanismos financeiros capazes de promover o desenvolvimento de cadeias de valor com foco numa bioeconomia inclusiva.
“Um documento será produzido e encaminhado para os candidatos às eleições para presidência do Brasil, apontando as principais ações para essa agenda tão importante no contexto social, econômico e de proteção do clima e da biodiversidade”, disse Prado.
Nabil Kadri, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apresentou cinco produtos desenhados pelo banco para crédito à bioeconomia com recursos não-reembolsáveis. A agenda vai desde formação de capacidades (ensino profissionalizante e pesquisas em tecnologia e inovação), recomposição florestal, aceleração de startaps e produção de alimentos e produtos da sociobiodiversidade.