Os perigos na agenda climática com a vitória de Trump nos EUA
Ao elegê-lo, o país compactua com a visão negacionista sobre o tema do republicano, que promete fortalecer a indústria do carvão
A vitória de Donald Trump nos EUA chega em um momento crucial da agenda climática. Especialistas são unânimes em afirmar que os países precisam mais do que cumprir os compromissos ambientais já apresentados. É necessário revisá-los e acelerar resultados. Só assim o mundo tem chance de cumprir as metas do Acordo de Paris, aprovado por 195 países, com o objetivo de impedir que a temperatura do planeta suba mais do que 1,5 °C, até o fim do século. Os eventos climáticos extremos ocorridos durante o ano são apenas um aviso do que pode vir por aí, caso as nações não se apressem a tomar medidas mais duras.
É nesse clima que os americanos elegeram Donald Trump, autodeclarado negacionista climático, que nunca escondeu o seu desdém para com o meio ambiente. Investir nas questões climáticas é, na opinião dele, “desperdiçar o dinheiro público”. Tanto que no primeiro mandato revogou 100 normas que de alguma forma diminuíam a emissão de gás do efeito estufa. Também chegou a anunciar a saída do Acordo de Paris, na época, com a alegação de que precisava de um “melhor acordo”, o que os demais países não aceitaram. “Trump é um retrocesso na agenda ambiental”, diz Mariana Mota, porta-voz do Greenpeace Brasil. Ela não se refere apenas aos compromissos firmados pelo país, mas ao papel importante do país nos incentivos financeiros de medidas mitigadoras em outras partes do mundo, como no Brasil. “O presidente provavelmente não vai dar os 500 milhões de dólares que Biden prometeu ao Fundo Amazônia.”Hoje, Noruega, Alemanha, reino Unido, Suíça e Estados Unidos formam um grupo de doadores internacionais para a prevenção e controle do desmatamento da Amazônia, que é gerido pelo BNDES.
A mobilização de recursos financeiros para ajudar países em desenvolvimento a enfrentar os desafios impostos pela crise climática é um dos assuntos que será tratado a partir da próxima semana, em Baku, no Azerbaijão, onde acontece a COP29, conferência mundial sobre mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU). Não é só o Brasil que espera ajuda. Os acordos bilaterais firmados entre EUA e África, por exemplo, também correm risco de não serem renovados. “A África depende de processos multilaterais para garantir os recursos necessários para um futuro sustentável. Estamos pressionando os EUA para que firme compromissos mais fortes e em menor espaço de tempo em Baku”, diz Fred Njehu, responsável pelas políticas estratégicas do Greenpeace Pan-Africano.
O mundo já se acostumou com as avanços e retrocessos dos EUA. “Mas energia limpa não é apenas uma questão de clima, mas de segurança energética, preços e de maior resiliência em caso de desastres”, diz Alden Meyer, da E3G. “Para ter progressos significativos, precisamos de políticas que conecte ações climáticas com a produção de alimento, água e inflação.” No ano passado, sete países integrantes da Powering Past Coal Allience (PPCA), entre eles, EUA, se comprometeram a não abrir mais novas centrais elétricas a carvão e aos poucos fechar as que usam combustível fóssil em geral. Trump é favorável aos combustíveis fósseis, aliás uma das promessas de campanha do presidente foi fortalecer a indústria do carvão, fonte mais poluente que existe. Os americanos são historicamente os maiores emissores de gases do efeito estufa e pelo jeito querem continuar na trilha do desenvolvimento não sustentável, o que seria um prolema deles, caso o mundo inteiro não fosse afetado.
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