Onda de calor no Brasil: Medellín, na Colômbia, mostra como enfrentar extremos
Cidade conseguiu reduzir em 3ºC a média de temperatura aplicando medidas simples e de pouco custo aos cofres públicos
Ao longo desta semana, assim como em boa parte do mês de setembro, o Brasil foi assolado por uma onda de calor, a oitava do ano, um recorde.
O fenômeno foi responsável por fazer os termômetros se elevarem a até 43° Celsius em cidades como Cuiabá, no Mato Grosso, em mais uma evidência das mudanças climáticas em curso no país e no mundo.
A canícula que sufocou milhões de brasileiros expôs outro desafio: a falta de preparo de nossas metrópoles para lidar com esse novo normal climático.
Faltam árvores, parques e áreas verdes, sobretudo nos bairros mais pobres. Um problema que se traduz nas chamadas ilhas de calor, onde o excesso de concreto das construções superaquece a superfície, elevando excessivamente as temperaturas.
Em São Paulo, por exemplo, as temperaturas chegam a ser 4 graus celsius mais quentes em zonas de baixa renda, onde a falta de verde é crônica, segundo a plataforma UrbVerde.
Mas uma famosa metrópole da América Latina encontrou uma solução criativa e relativamente barata para mitigar esse grave problema.
Medellín, a segunda maior cidade da Colômbia, com 2,6 milhões de habitantes, criou um programa para implantar os chamados corredores verdes, abrindo espaço para o plantio massivo de plantas e árvores em suas avenidas.
Iniciado em 2016, o programa dos Corredores Verdes tem como objetivo fornecer sombra natural para os moradores de Medellín, ajudando ainda a promover a biodiversidade.
Até agora, a prefeitura afirma ter plantado 880 000 novas árvores, 2,5 milhões de plantas menores e criado 5 000 metros quadrados de jardins verticais.
O resultado impressiona: nesses corredores verdejantes, a temperatura é 4,5 graus Célsius menor do que na vizinhança. E o frescor não se limita aos espaços verdes.
A prefeitura calcula que a temperatura média em toda Medellín está 2 graus célsius mais baixa com relação à década passada. E a redução pode chegar a 5 graus célsius a partir dos anos 2030 com a expansão contínua dos corredores.
Outro resultado já comprovado é a queda da poluição atmosférica, com redução de internação por doenças respiratórias na rede hospitalar.
A qualidade de vida também se traduz em mudança comportamental. Há dezenas de novas ciclovias, e as pessoas tomaram gosto por se deslocar pedalando.
E toda essa transformação custou muito pouco aos cofres públicos.
O investimento inicial do governo municipal foi de 16 milhões de dólares, aproximadamente 80 milhões de reais. Já o custo anual de manutenção é de 625 000, cerca de 3 milhões de reais.
Assim, segundo cálculo feito pelo Fórum Econômico Mundial, o programa custa apenas 6.50 dólares, ou 33 reais, por habitante.
Um feito que fez o programa ser reconhecido mundialmente e que deveria servir de inspiração para os prefeitos do Brasil.