Olimpíada verde: as iniciativas sustentáveis nos Jogos de Tóquio
Apesar da alteração de planos por conta da pandemia, os japoneses prometem deixar um legado de sustentabilidade para os próximos eventos esportivos
Um dos aspectos sustentáveis mais evidentes dos Jogos Olímpicos de Tóquio são as curiosas camas de papelão destinadas aos atletas. Apesar dos primeiros rumores sugerirem que os móveis fossem “anti-sexo” — para evitar a disseminação do novo coronavírus —, a fabricante japonesa Airweave afirmou que as 18 mil camas com peças modulares e recicláveis são apenas uma das várias inovações destas Olimpíadas para a realização de um evento mais verde. Existem outras.
Assim como as delegações dos países e o espírito olímpico, a preocupação com a crise do clima é peça central nos jogos deste ano. “As mudanças climáticas afetam a todos neste planeta”, afirma o Diretor Sênior de Sustentabilidade do comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio 2020, Yuki Arata. “Como um grande evento global, os Jogos Olímpicos têm a responsabilidade de reduzir as emissões de carbono e de ser um catalisador para o desenvolvimento sustentável.”
Por isso, com base nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o comitê publicou um relatório no qual detalha a estratégia a ser usada para fazer desta edição a mais sustentável da história.
Além das camas de papelão, as medalhas também estão sendo feitas com materiais recicláveis. Em vez de extrair os metais diretamente do solo, os organizadores preferiram aproveitar o ouro, a prata e o bronze presentes em componentes eletrônicos como placas de circuito. Foram mais de 6 milhões de celulares e cerca de 78 toneladas de computadores, tablets, monitores e outros aparelhos usados para fabricar as 5 mil medalhas do evento.
A organização também se comprometeu a reaproveitar ou reciclar 65% dos resíduos gerados durante o evento. Tomando como base a campanha de arrecadação de plástico para a construção dos pódios, a medida tende a alcançar suas metas: em parceria com as empresas Procter & Gamble e TerraCycle, a rede de supermercados japonesa Aeon coletou mais de 45 toneladas de resíduos plásticos através de pontos de coleta nos estabelecimentos — uma ação especialmente importante no segundo país que mais gera plástico por pessoa, depois dos Estados Unidos.
Em relação às emissões de CO2, o comitê organizador havia estimado inicialmente que poderiam chegar a 2,73 milhões de toneladas, mais do que a emissão de cidades como Vancouver ou Melbourne em 2019 inteiro. Mas, com a falta do público, por conta da pandemia, a pegada total de carbono deve ser reduzida em 12%, chegando a 2,4 milhões de toneladas.
Além disso, os organizadores planejam contar com a utilização de energia renovável durante os Jogos. Antes de transferir esta edição para 2021, o evento japonês estava sendo chamado de “Olimpíadas do Hidrogênio”, em referência ao combustível não poluente que abasteceria os carros responsáveis por transportar os atletas, bem como as caldeiras da Vila Olímpica e a Tocha Olímpica.
Mas a pandemia mudou os planos. Os ônibus tiveram que ser descartados, apenas um prédio da Vila Olímpica é movido a hidrogênio e os organizadores tiveram que usar propano no revezamento da Tocha. Mesmo assim, os japoneses afirmam que continuam levando a sério os planos de uso de combustível renovável. De acordo com o relatório do comitê, “ao mostrar para o mundo os resultados do nosso compromisso, esperamos gerar um impacto positivo nos jogos futuros e em outros eventos esportivos”.
Ao mesmo tempo em que o país se organizou para fazer com que o evento se tornasse referência em práticas sustentáveis, a nação enfrenta desafios para aplicar os mesmos conceitos na economia do dia a dia. Em dezembro de 2018, o governo japonês decidiu retomar a caça comercial de baleias, prática proibida pela Comissão Baleeira Internacional (IWC, na sigla em inglês) desde 1986 – com o anúncio, o Japão deixou de compor a IWC. Em abril deste ano, o governo anunciou a meta de redução de 46% a 50% abaixo dos níveis de 2013 até 2030. No entanto, o compromisso deveria ter sido de, no mínimo, 50%. Por mais que as iniciativas implementadas nos Jogos Olímpicos sejam importantes para a conscientização mundial, o Japão ainda tem grandes desafios a superar dentro de casa.