“O maior desafio do clima são as pessoas e a vida real”, diz Dan Ioschpe
Responsável por reunir contribuições da sociedade, o vice-presidente da Fiesp fala sobre os desafios e avanços do Acordo de Paris
O empresário Dan Ioschpe, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, vem desempenhando um papel de extrema importância para a agenda do clima desde que o Brasil foi anunciado como sede da COP30. Sob um título pomposo de” campeão climático de alto nível“, foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser o responsável por incluir nas discussões do evento as demandas dos que não possuem voto: sociedade civil, academia, governos subnacionais e o setor empresarial. Também recebeu a incumbência de promover a transição entre a COP30 e a COP31, no que tange a agenda climática deste setor.
Grande parte do trabalho realizado pelos campeões do clima foi publicado esta semana, no lançamento do Yearbook of Global Climate Action, relatório de ações climáticas realizado junto com a Organização das Nações Unidas, com dados do portal Nazca. O anuário chega com um balanço dos 10 anos da adoção do Acordo de Paris com evoluções, desafios e das metas necessárias ainda a serem atingidas. Trata-se de uma publicação essencial para compreender os resultados concretos da agenda climática. A edição destaca o crescente papel dos participantes não-governamentais para evitar o aquecimento global, baseado eixos: transição de energia, indústria e transporte; gestão de florestas, oceanos, e bidiversidade; transformação da agricultura e sistemas alimentares; construção de resiliência para as cidades; infraestrutura e água; promoção de desenvolvimento humano e social; facilitadores e aceleradores transversais, que abrange finanças, tecnologia e capacitação. Abaixo a conversa que VEJA teve com Dan Ioschpe sobre o anuário e a COP30.
O que o senhor está achando da COP30? As negociações avançam? Aqui está meio quente. Não consigo acompanhar as negociações e acabo me concentrando apenas na agenda climática, mas entro nas salas de negociações para ao menos conhecer.
O Yearbook of Global Climate Action foi lançado esta semana na COP30. O que ele mostra? Ele mostra avanço em determinados temas. Por exemplo, a capacidade de geração de energias renováveis mais do que duplicou e na maioria dos casos é uma energia com custo mais abaixo que dos combustíveis fósseis. Em todos os eixos da nossa agenda, há avanços e desafios, na comparação que gosto de fazer: tem copo cheio, meio cheio e vazio. Há positividades e desafios. É preciso fazer muito para atingir os objetivos do Acordo de Paris, que falam muito bem com a ciência e com aquilo que a gente sabe que precisa atingir em 5 e 10 anos.
Em que setor da sociedade o desafio é maior? Em todos eles há grandes desafios. Um exemplo: combustível sustentável da aviação, que é a forma de você mitigar a geração de gases de efeito estufa de forma relevante no transporte aéreo a nível mundial. A tecnologia no setor está bem avançada, mas é preciso levar em conta as ofertas dos novos produtos, a competitividade, e o vis-à-vis dos produtos anteriores, processo de transição, regulamentação, financiamento e infraestrutura. A mudança mexe com os aeroportos. O off-take agreements (processos de levantamento quantitativo detalhado), em que você consegue viabilizar a expansão da oferta com pré-vendas, com acordos firmes de venda. Mas isso requer determinado grau de competitividade. Isso ilustra a vida real, nas suas várias matizes e etapas, que afeta cada um desses desenvolvimentos.E isso precisa ser resolvido em nível mundial. Você vai ter que ir resolvendo essas questões mundialmente, seja do lado dessa mitigação dos gases de efeito estufa, seja do lado da adaptação, que é muito importante também, de como é que você convive com a mudança climática, como é que você adapta cidades, o abastecimento de água, o tratamento de afluentes, tantas questões que a gente viu.
Então o desafio maior de tudo é a vida real? Exato. Bem colocado. Como o pessoal fala muito, acho que tem razão, é das pessoas para as pessoas. O maior desafio do clima são as pessoas e a vida real: começa nas pessoas e vai acabar nas pessoas. Precisamos caminhar passo a passo, da forma mais organizada e eficiente possível. Essa é a nossa tentativa com a agenda de ação climática, para fazer essa implementação, com a maior rapidez possível e escalando também da forma mais eficiente. A energia solar é um bom exemplo de tecnologia, que ganhou escala com muita rapidez, e que passou a ser uma solução econômica de fácil utilização, e que impacta significativamente o clima. A eletrificação de tantas coisas, dos veículos e de outras possibilidades também é um bom exemplo.
O que o Yearbook ajuda na agenda? Ele ajuda a gente a entender principalmente onde é que está mais ou menos o relógio. Também dá o caminho das pedras, porque você entende o que está faltando e para que lado você precisa ir, além de detalhar todas as iniciativas e os projetos. Isso ajuda muito o chamado showcase. Muita gente que vai se inspirar –prefeituras, empresas e academia –, nos exemplos de sucesso ao redor do mundo. Então o Yearbook também é uma chance de você, como dizem inglês, pinpoint, você vai caçar todos os melhores exemplos do mundo para inspirar aqueles que ainda não encontraram os seus caminhos de solução.
Desses grandes e bons exemplos, tem algum que vale a pena citar? Eu acho que um tema super interessante, não por ser melhor ou pior, mas talvez porque ele precede um pouco, é justamente o exemplo da enorme geração de energias renováveis, porque se você não tiver essa geração muito significativa das energias sustentáveis, renováveis, você não consegue às vezes dar próximos passos em outras etapas do processo industrial.Então, aquelas chamadas, os setores hard to abate (emissões dos setores da economia difíceis de abater) , eles precisam de geração de energia competitiva, sustentável e renovável. Então, eu acho que esse é um bom building block (construção lógica) . Mas se você for olhar, por exemplo, no caso brasileiro, a recuperação de áreas degradadas, é um tema fundamental para um país com dezenas de milhões de hectares que precisam ser restaurados. Claro que no caso de um país sem essa condição florestal e de espaço de terra, não faz sentido. Mas no nosso caso faz muito, assim como o não desmatamento.
O Yearbook tem bons exemplos sobre cidades resilientes? Sim, claro. E você vai desde, como eu disse, a água ao tipo de construção. É preciso construir habitações que estejam mais preparadas para o aquecimento. Você tem áreas em que o aquecimento pode chegar a 5 graus ou mais acima da média. Então, como é que você vai fazer essa preparação? Isso é muito importante e afeta diretamente a saúde e o bem-estar da população local.
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