Mudança no clima alimenta supertemporais como o que devastou Juquehy
Frequência e intensidade de eventos extremos já são parte do novo normal climático
A extraordinária chuva que desabou sobre o litoral norte de São Paulo durante o último fim de semana – a maior da história do Brasil, de acordo com dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) – tem relação intrínseca com as mudanças climáticas.
De acordo com a Nasa, agência espacial americana, o aquecimento do globo não só está aumentando a potência das tempestades, como também as torna mais frequentes.
Ainda que a ciência climática seja de alta complexidade, nos últimos anos foram coletadas evidências ligando condições meteorológicas extremas ao efeito estufa.
Dados verificados por satélites, aeronaves, medições terrestres e projeções de modelos climáticos estão cada vez mais estabelecendo conexões.
“Dentro da comunidade científica, é uma ideia praticamente consolidada”, diz João Teixeira, co-diretor do Centro de Ciências Climáticas no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, na Califórnia.
“À medida que as temperaturas globais aumentam, a precipitação extrema provavelmente também aumentará”, afirma.
Uma tempestade sem precedentes: o quanto choveu no litoral de São Paulo
Bertioga – 680 mm
São Sebastião – 626 mm
Guarujá – 388 mm
Ilhabela – 337 mm
Ubatuba – 335 mm
Caraguatatuba – 234 mm
Santos – 225 mm
A queima de dióxido de carbono (CO2), também conhecido como gás carbônico, provoca o chamado efeito estufa, em que os gases retém o calor do sol na atmosfera terrestre.
O calor excessivo na atmosfera acelera a evaporação da água que, em consequência, passa também a cair na forma de chuva em maior quantidade. ]
Além disso, a subida nos termômetros aquece a superfície do mar, outro combustível para formação de tempestades.
O aquecimento do oceano em regiões tropicais como o Brasil vem empurrando os temporais para latitudes mais altas, como os Estados Unidos, a Europa e Ásia.
Um exemplo se deu na China, em 2021. Os valores verificados no litoral norte paulista se assemelham, ao desastre de Zhengzhou, a 700 quilômetros de Pequim.
Lá, a precipitação pluviométrica foi de 610,5 mm e foi classificada por meteorologistas locais como a chuva do milênio. O valor é quase idêntico ao que se viu em Bertioga e São Sebastião.
Não é coincidência, também, que os furacões verificados na costa dos Estados Unidos estejam ficando mais potentes.
Em 2022, o furacão Ian surpreendeu meteorologistas ao ganhar força em tempo recorde e avançar sobre a Flórida na categoria 4, quando os ventos atingem velocidades entre 210 e 249 km/h e as ondas na costa ultrapassam os 5 metros de altura.
Ian foi o sexto furacão em categoria 4 a afetar os Estados Unidos nos últimos seis anos, um recorde.
O problema agora é saber em que medida as mudanças climáticas afetam o padrão de tempestades. Segundo a Nasa, é como analisar o desempenho de um atleta sob efeito de esteróides.
Sabe-se que esses compostos químicos incrementam a performance humana. Mas é difícil quantificar o quanto da melhoria desse esportista se deve aos anabolizantes.
Veja abaixo os três maiores acumulados de chuva em 24 horas da história do Brasil
Bertioga, 2023 – 683 mm
Petrópolis, 2022 – 534 mm
Florianópolis, 1991 – 404 mm