Incêndios devastam vinhedos no sul da França e ameaçam safra de 2025
Região de Languedoc-Roussillon enfrenta os piores incêndios em mais de 70 anos; produtores pedem ajuda ao governo francês

Os piores incêndios na França em mais de sete décadas destruíram vinhedos inteiros no sul do país, poucos dias antes do início da colheita. Segundo produtores locais, a situação é “catastrófica”, com perdas que incluem uvas, maquinário, galpões e até edifícios inteiros.
“Os vinhedos estavam prontos para a colheita. Mas a fumaça e os produtos químicos usados para conter o fogo inviabilizaram o uso das uvas”, afirmou Franck Saillan, secretário do sindicato de viticultores da região de Aude.
Ainda não há um levantamento oficial das perdas, mas os danos são considerados extensos. O governo francês estuda liberar ajuda emergencial, inclusive em casos não cobertos por seguros tradicionais.
“É preciso apoiar as vítimas e entender com as seguradoras como agir”, disse o primeiro-ministro François Bayrou.
Mais de 160 km² foram destruídos, uma área maior que Paris, e pelo menos 13 pessoas ficaram feridas, incluindo 11 bombeiros.
A região de Aude, parte do histórico Languedoc-Roussillon, abriga rótulos consagrados como Minervois, Corbières e Fitou.
Aquecimento global põe futuro do vinho em risco
A crise expõe um desafio maior: o impacto do aquecimento global sobre a produção de vinho.
De acordo com um estudo publicado na revista Nature Reviews Earth & Environment, até 56% das regiões vinícolas tradicionais do mundo podem se tornar inviáveis até 2100 se as emissões de gases do efeito estufa não forem drasticamente reduzidas.
No sul da França, ondas de calor extremas, secas prolongadas e incêndios florestais se tornaram cada vez mais frequentes, afetando a qualidade das uvas e o perfil dos vinhos.
Outro estudo, da Universidade de Bordeaux, aponta que a colheita de uvas ocorre até 18 dias antes do normal nas últimas décadas, afetando a maturação e o equilíbrio de açúcares e ácidos essenciais para vinhos de qualidade.
Europa é o continente que mais aquece
Além disso, a Europa é hoje o continente que mais se aquece no mundo. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o continente aqueceu cerca de 2,3°C desde a era pré-industrial, mais do que o dobro da média global. Isso ocorre por uma combinação de fatores: menor cobertura de nuvens, maior incidência solar e alterações nos padrões de circulação atmosférica.
Combinados, esses elementos colocam em risco não apenas a produção de vinhos icônicos, mas também a economia e o modo de vida de regiões inteiras da Europa.

COP30: uma chance decisiva para conter o colapso climático
A destruição de vinhedos no sul da França, causada pelos piores incêndios em mais de sete décadas, acontece em um momento de expectativa crescente pela COP30, a conferência do clima da ONU marcada para novembro de 2025, em Belém do Pará.
Será a primeira vez que o evento será realizado na região amazônica, reforçando a centralidade da floresta na agenda climática global.
O simbolismo do local é poderoso: a Amazônia é um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, mas também uma das regiões mais vulneráveis ao desmatamento e à mudança do regime de chuvas.
A conferência será um marco: os países deverão apresentar novas metas de redução de emissões, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). para manter viva a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C.
Relatórios recentes da ONU apontam que, com os compromissos atuais, o planeta caminha para um aumento de temperatura de até 2,7 °C até o fim do século.
Entre os principais temas em debate estarão a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, a ampliação do financiamento climático para países em desenvolvimento, a operacionalização do fundo de perdas e danos climáticos, e a criação de mecanismos de proteção e valorização de florestas tropicais.
Para o Brasil, anfitrião da COP30, a conferência é uma oportunidade estratégica de exercer liderança ambiental global, pressionando grandes emissores a adotar metas mais ambiciosas e defendendo a justiça climática.
A COP30, portanto, não se trata apenas de negociações técnicas, mas de uma resposta urgente a uma crise que já ameaça vidas, ecossistemas e tradições centenárias, como a produção do vinho no sul da França.