Ibama resgata jaguatirica mantida por influenciadora como pet no Pará
Autuada e multada, criadora de conteúdo Luciene Candido não removeu vídeos do animal e publicou outros dizendo sentir falta dele

Agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) resgataram, nesta segunda-feira, 14, uma jaguatirica (Leopardus pardalis) que era mantida ilegalmente em cativeiro em uma fazenda no município de Uruará, no sudoeste do Pará. A ação ocorreu após denúncias de que a dona da propriedade, a influenciadora digital Luciene Candido, utilizava imagens do animal em suas redes sociais para fins de monetização, caracterizando exploração indevida de animal silvestre.
O flagrante se deu após a identificação da utilização de vídeos e fotos do felino, chamado “Pituca“, nas redes sociais da influenciadora, que conta com centenas de milhares de seguidores. Nas publicações, o animal aparecia em situações consideradas impróprias para uma espécie silvestre: deitado em camas, no colo da influenciadora e interagindo com animais domésticos como cães, gatos, galinhas e até um cavalo. Além disso, havia registros do animal sendo alimentado com uma dieta inadequada à sua espécie.
Durante a vistoria na fazenda, os agentes do Ibama encontraram a jaguatirica em cima de um guarda-roupa dentro de um dos quartos da residência. Foi constatado que o animal tinha livre acesso à casa, inclusive a ambientes onde eram armazenados herbicidas, o que representava graves riscos à sua saúde. Adicionalmente, os cães da propriedade apresentavam sinais de leishmaniose, uma doença que pode ser transmitida a outros animais e também aos seres humanos, com risco de morte.
A jaguatirica resgatada foi encaminhada a um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama. Nesses centros, os animais recebidos por entrega voluntária, resgate ou apreensão de fiscalização passam por um processo de recuperação e são destinados por meio de soltura ou encaminhamento para empreendimentos de fauna devidamente autorizados. No Cetas, a jaguatirica passará por avaliação veterinária e um processo de reabilitação, com a intenção de que possa, futuramente, ser reintroduzida ao seu habitat natural, a depender dos resultados.
Multa alta
A influenciadora Luciene Candido foi autuada com multas que somam 10 mil reais, conforme previsto na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998). Esta legislação proíbe a posse em cativeiro e a exploração de animais silvestres sem autorização legal. A fazendeira também foi notificada a remover os vídeos da jaguatirica de suas redes sociais, sob pena de multa diária em caso de descumprimento.
Candido não apenas não removeu os vídeos, como postou novos dizendo sentir saudades do animal: “Quanta falta estou sentindo do meu amorzinho puxando a minha saia enquanto lavava vasilhas queria tanto você aqui, livre! Solta no quintal… tá fazendo muita falta“.
Segundo o superintendente do Ibama no Pará, Alex Lacerda de Souza, ainda não se sabe como a jaguatirica foi retirada da natureza. Ele explicou que o animal pode ter sido vítima da caça da mãe ou ter sido capturado enquanto ela se ausentava em busca de alimento, o que também configura crime ambiental. Souza reforçou que animais silvestres devem ser mantidos na natureza e não em contato com animais domésticos nem com seres humanos, sendo esta a única forma de garantir a conservação dessas espécies.
A criação de animais silvestres como pets, além de ser ilegal na maioria dos casos, representa riscos para a saúde e bem-estar dos animais, para a saúde pública e para a conservação da biodiversidade. A exploração de animais silvestres para a geração de conteúdo online e monetização também é considerada infração.