Gelo polar pode desaparecer mesmo com meta de 1,5 °C, revela pesquisa alarmante
Aquecimento atual já é suficiente para ameaçar calotas polares e regiões costeiras

Dez anos após líderes globais definirem a meta de limitar o aquecimento da Terra a 1,5 °C no Acordo de Paris, um novo estudo indica que esse objetivo pode não ser suficiente para evitar o derretimento acelerado das camadas de gelo polares.
Mesmo no cenário em que o planeta permaneça no nível atual de aquecimento — cerca de 1,2 °C acima dos níveis pré-industriais —, a elevação do nível do mar já estaria em curso, colocando em risco comunidades costeiras em todo o mundo.
A pesquisa, publicada na revista Communications Earth & Environment, foi conduzida por uma equipe internacional de cientistas que analisou mais de 150 estudos sobre mudanças no nível do mar.
A conclusão é alarmante: tanto a Groenlândia quanto a Antártida seguem perdendo gelo em ritmo acelerado — cerca de 370 bilhões de toneladas métricas por ano —, o que poderá provocar uma elevação de vários metros no nível dos oceanos ao longo dos próximos séculos.
O estudo combina evidências de observações recentes, modelagens e análises do Último Interglacial — período de aquecimento ocorrido há cerca de 125 mil anos.
Naquele momento, o nível do mar subiu até 7,6 metros acima do atual, impulsionado por mudanças orbitais e pelo colapso de camadas de gelo.
Resíduos fósseis, recifes de corais elevados e traços de DNA ajudaram os cientistas a reconstituir o cenário de transformação abrupta do planeta.
Ao cruzar essas informações com modelos climáticos atuais, os pesquisadores puderam confirmar que os sistemas de gelo reagem a aumentos de temperatura mais rapidamente do que se imaginava.
Pulsos de elevação do nível do mar podem ocorrer em menos de um século, tornando ineficazes estratégias tradicionais de adaptação.
“Cada fração de grau importa”, alertou Andrea Dutton, da Universidade de Wisconsin, coautora do trabalho. “Não podemos simplesmente nos adaptar a esse tipo de mudança. Não há engenharia capaz de conter um aumento abrupto do nível do mar.”
Atualmente, cerca de 230 milhões de pessoas vivem em regiões costeiras situadas a apenas um metro do nível do mar. Devido aos efeitos gravitacionais, áreas próximas ao Equador — como ilhas do Pacífico e do Caribe — sofrerão os impactos mais imediatos, incluindo o desaparecimento de territórios inteiros.
COP30: A corrida por soluções se intensifica em Belém
O alerta chega num momento crítico da diplomacia climática. A cidade de Belém, no Pará, se prepara para sediar a COP30, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em novembro de 2025.
O encontro será decisivo para avaliar os compromissos nacionais de redução de emissões e discutir a adaptação de países vulneráveis aos impactos climáticos já em curso.
O Brasil pretende apresentar-se como liderança na transição ecológica, prometendo zerar o desmatamento da Amazônia até 2030 e investir em energia limpa e bioeconomia.
O país também buscará pressionar nações desenvolvidas a cumprirem suas promessas de financiamento climático — como os US$ 100 bilhões anuais destinados a apoiar países em desenvolvimento — e debaterá mecanismos de compensação por perdas e danos climáticos.
A escolha de Belém como sede da COP tem forte simbolismo: a Amazônia é um dos ecossistemas mais críticos do planeta, e sua preservação está diretamente ligada ao equilíbrio climático global.
No entanto, os desafios internos são grandes — o Brasil ainda enfrenta pressões do agronegócio, conflitos fundiários e políticas ambientais frágeis em algumas regiões. A COP30 será uma vitrine, mas também um teste para a coerência entre discurso e ação.