“Exploração de petróleo na Amazônia equivale a emissão de 3 anos de CO2 do Brasil”, diz WWF
Em entrevista, Ricardo Fujii, especialistas em conservação da WWF, fala sobre os riscos ambientais e econômicos da operação

Há dez anos as entidades ambientais acompanham as inúmeras tentativas de colocar em prática a exploração do petróleo na Foz do Amazonas. Na última segunda-feira, o Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aprovou as operações de simulações da Petrobras de acidentes em caso de exploração, para que possa comprovar a capacidade da empresa de superação nos riscos que a atividade implica. Para entender o que exatamente essa autorização implica, Veja entrevistou o especialista em conservação da WWF no Brasil, Ricardo Fujii, que qualquer simulação na região não serve de modelagem para reais acidentes, devido as inúmeras variáveis do ambiente. Segundo ele, a exploração traz mais riscos e prejuízos ao país do que vantagens. Abaixo a avaliação do ambientalista.
O que significa esse aval do Ibama para a simulação de risco de exploração de petróleo na Amazônia?
Essa era uma etapa esperada. A aprovação do plano de proteção e atendimento a fauna oleada era uma etapa esperada, até porque é um requisito fácil de atender. Mas não atende aos principais pontos indicados no parecer, que deu base a negativa de licença pelo Ibama em 2023. Faltam muitas informações como a avaliação adequada do impacto que a instalação de diversos campos poderá ter na região norte do país a consulta livre prévia das as populações indígenas e comunidades tradicionais, que serão afetadas desde o início do projeto, mas que não foram objetos de avaliações detalhadas no estudo de impacto.
O Ibama deixa transparente que está cedendo a pressões políticas deixando o meio ambiente desprotegido?
O Ibama vem cumprindo a sua função, que é avaliar os pedidos de licenciamento e documentos apresentados por empreendedores em geral. No entanto as pressões são constantemente documentadas e publicadas pela imprensa. A sociedade civil tem mais prejuízos do que benefícios. O ministério de Minas e Energia deveria ter realizado estudos de prós e contras da atividade petrolífera em larga escala.
Quais os riscos da exploração neste trecho?
Envolve riscos sociais, ambientais e climáticos. Começando pelo risco ecológico, a região abriga ecossistemas ambientes únicos, como 80% dos manguezais do país, além do grande sistema de recifes amazônico, com mais 56 mil km², e muitas espécies desconhecidas. Isso faz qualquer dano potencialmente grave ser difícil de mitigar. Ali, ainda existe um risco operacional imenso, devido às fortes correntezas da região, que aumentam as chances de acidentes, nem sempre bem representados nos modelos de vazamento. Uma sonda da Petrobras já se acidentou na região. Um eventual vazamento pode prejudicar a fauna e a pesca, fundamental para o Amapá e Pará, e impactar populações quilombolas, marisqueira e indígenas. Fora tudo isso, o bloco 59 está muito próxima a Guiana Francesa.
Qual é o impacto climático?
A exploração pode liberar até 4 bilhões de toneladas de CO2, correspondente a 3 anos de emissão do Brasil. Isso agravaria o aquecimento. Em um cenário de três graus de aquecimento, a Amazônia pode perder sua fauna e sua flora.
Há como reverter esse caminho que o governo tomou?
Isso não deveria ser encarada como uma questão de licenciamento. O Brasil deveria pensar no prejuízo que terá em adiar a mudança da matriz energética. O país vai priorizar bilhões de dólares na exploração de petróleo em um mundo que consumirá menos combustíveis fósseis, além de investir em um produto que será mais caro que o da Arábia Saudita, que tem custos menores e emissões mais baixas. Não é sustentável.
Leia:
+https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/o-que-a-petrobras-promete-ao-ibama-sobre-petroleo-na-foz-do-amazonas/