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Cresce demanda de empresas por energia renovável no Brasil

Número de certificados de energia renovável transacionados em 2021 deve chegar a 10 milhões, volume 150% maior do que no ano anterior

Por Rafael Bolsoni
Atualizado em 6 jul 2021, 13h21 - Publicado em 1 jun 2021, 18h59

Seja por redução de custos, seja por pressão do mercado por mais responsabilidade ambiental, a procura de empresas brasileiras por energia elétrica oriunda de fontes renováveis tem crescido ano a ano. Um dos termômetros dessa onda verde é o aumento de transações de certificados de energia renovável, os RECs, emitidos por cerca de 200 usinas a biomassa, eólica, hidrelétricas e solares do país.

De janeiro a abril, cerca de 4 milhões de RECs foram transacionados no Brasil, o mesmo volume comercializado em todo o ano passado. A expectativa é que 10 milhões de certificados sejam emitidos em 2021, um aumento de 300% em relação a 2019 e 150% ante 2020. O preço desses ativos ambientais varia de 2 a 5 reais, dependendo da usina a partir da qual foram originados. A transação é feita diretamente entre vendedor e comprador.

A diminuição da pegada de carbono é um dos motivos pelos quais as empresas adquirem os RECs, explica Fernando Giachini Lopes, diretor do Instituto Totum, responsável no Brasil pela certificação das usinas e custódia dos certificados. “Uma das saídas é ser mais eficiente e consumir menos, o que tem limite. O segundo passo é garantir que a energia venha de fontes renováveis”. Cada REC equivale a 1 MWh de geração renovável injetada no sistema elétrico e rastreada pelo programa de certificação, que existe há 10 anos no Brasil. Sem o consumo de renováveis, as empresas “gravam” em sua pegada de carbono cerca de 100 kg de dióxido de carbono (CO2), um dos gases de efeito estufa, a cada 1 MWh usado.

Em 2018, a Vivo se tornou a primeira empresa de telecomunicações brasileira com 100% energia renovável por meio da aquisição de certificados de energia renovável. “O uso de RECs é uma estratégia para complementar nosso portfólio. Nosso objetivo é aumentar as fatias de energia oriundas de Geração Distribuída e do Mercado Livre gradativamente, sempre com origem 100% renovável”, diz Caio Guimarães, diretor de patrimônio da Vivo.

Em 2020, a companhia iniciou a expansão de seu projeto de Geração Distribuída para reduzir a dependência da compra dos RECs, que gira em torno de 100 mil unidades mensalmente. Até o final deste ano, a Vivo pretende ter em operação mais de 70 usinas próprias, de fontes solar, hídrica e de biogás. Com o parque de renováveis, a empresa poderá gerar cerca de 670 mil MWh por ano, o que representará uma redução de 10% no custo anual com energia, que chega a 1 bilhão de reais. Hoje o consumo de energia da empresa é de 1,8 TWh por ano.

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Projetos como o da Vivo estão se tornando cada vez mais comuns no país. No dia 20 de maio, a VTRM, joint venture formada pela Votorantim Energia e CPP Investments, anunciou um investimento de 190 milhões de reais para a construção do primeiro parque híbrido de energia solar e eólica do Brasil. A expansão da busca por energia renovável ocorre não só pelo retorno financeiro cada vez maior desse tipo de empreitada, mas também por pressão ambiental.

“O conceito de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) chegou com força no Brasil e virou uma determinação do mercado”, afirma Victor Iocca, gerente de Energia Elétrica da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres), que reúne mais de 50 grupos empresariais responsáveis por quase 40% do consumo industrial de energia elétrica do Brasil.

Guiada por esses critérios, a BR Marinas, maior rede de marinas do Brasil, terá ainda no segundo semestre deste ano 96% da energia consumida em suas oito marinas oriundas de fontes renováveis. Para isso, a empresa está investindo 1,55 milhão de reais em painéis solares instalados nos tetos dos hangares e em flutuantes. A expectativa é que a novidade gere uma economia anual de 525 mil reais, 30% do gasto total com energia. “Falar em sustentabilidade vai além de gerar valor para a marca. O empresário brasileiro precisa ter essa responsabilidade com o futuro”, diz Gabriela Lobato Marins, CEO da BR Marinas.

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A preocupação está presente em todos os setores da economia. O Eleva Educação, maior grupo de educação básica do país, do bilionário Jorge Paulo Lemann, planeja finalizar 2021 com mais de 45% de suas unidades abastecidas por energia renovável. A produção anual alcançará 4,5 mil MWh e virá de geração solar remota (três fazendas solares localizadas no Rio de Janeiro e Minas Gerais), geração solar local (painéis dentro das unidades de ensino em Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás) e a partir do mercado livre de energia. Com isso, o grupo espera uma redução anual de emissões de 308 toneladas de CO2 na atmosfera – o mesmo que o plantio de quase 2,2 mil árvores.

Progressivamente, a energia vinda de fontes renováveis tem se mostrado competitiva em termos de custo. Prova disso foi a publicação, no começo de março deste ano, da Lei nº 14.120, que vai extinguir gradativamente os subsídios às fontes incentivadas de geração de energia elétrica, como as oriundas de usinas eólicas e solares. O fim do auxílio foi apoiado até mesmo por entidades agraciadas com o benefício como a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), que conta com mais de 600 usinas associadas. “Não acredito que o empresário brasileiro pagaria mais para consumir energia renovável, mas pagaria a mesma coisa. Quem pode escolher, opta pela renovável”, defende Gustavo Poli, sócio da Monex, gestora independente de energia elétrica. Uma escolha cada vez mais possível.

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