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Contato com a natureza traz benefícios para a saúde, comprova a ciência

Análises feitas em pesquisas recentes estimulam a criação de mais parques e jardins nas grandes cidades

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h20 - Publicado em 23 jul 2021, 06h00

Provavelmente nenhuma situação na história recente enalteceu tanto a necessidade do contato com a natureza como a pandemia de Covid-19. Durante as restrições de circulação, moradores das cidades encontraram em parques e jardins uma fonte de calma e alegria. Essa sensação boa que nos preenche ao sentir o cheiro da grama, olhar para as árvores ou ouvir o barulho da água é mais do que uma percepção. Como demonstra uma coleção de novos estudos, são benefícios claros de que a natureza faz bem. Tanto é assim que, em movimento conjunto com a ciência médica, o urbanismo se mobiliza para que ela ganhe mais espaço entre prédios e ruas, facilitando o acesso à chamada verdeterapia.

A mais recente evidência sobre o tema, publicada neste mês no The World Journal of Biological Psychiatry, mostrou que ficar mais tempo ao ar livre altera até mesmo a estrutura cerebral, aumentando a massa cinzenta no córtex pré-frontal, região envolvida no planejamento, na regulação das ações e no desempenho cognitivo. É a constatação de que essas funções trabalham de modo mais adequado quando passamos mais tempo em ambientes arejados. O leque de condições para as quais a natureza serve de remédio é enorme. E quem comprova são instituições respeitadas internacionalmente, como a Universidade Harvard, nos Estados Unidos, cujos cientistas verificaram que morar perto de bosques, parques e jardins está associado a maior longevidade. “Estar em contato com a natureza pode realmente melhorar aspectos da nossa saúde, principalmente a mental”, diz a neurocientista Elisa Kozasa, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

arte Verde

O benefício é tão impactante que “passar mais tempo na natureza” se tornou prescrição médica em diversos países. Na Escócia, os médicos podem receitar observação de pássaros e caminhadas na praia para ajudar no tratamento de doenças psiquiátricas, cardíacas e do diabetes. Na Coreia do Sul, o governo está estabelecendo dezenas de florestas curativas para seus cidadãos estressados. A prática também é indicada como terapia no Japão, onde recebe o nome de banho de floresta. Dados assim sustentam uma nova visão de planejamento urbanístico, que agora leva em consideração o poder terapêutico do verde. “O movimento cidades biofílicas recomenda disponibilizar uma área verde a cinco minutos da casa das pessoas”, diz Pérola Felipette Brocaneli, professora de paisagismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “A vegetação sai de uma visão funcional para ser vista mais como um ser vivo com o qual as pessoas se relacionam.” Esse conceito tem por base a biofilia, teoria do biólogo Edward O. Wilson segundo a qual o cérebro humano foi moldado para responder positivamente à natureza. Difícil duvidar disso. Um estudo feito no Canadá revelou que adicionar apenas dez árvores em cada quarteirão da cidade teve um impacto na percepção das pessoas sobre sua saúde e bem-­estar equivalente ao de um acréscimo de 10 000 dólares na renda familiar. Como afirmou a jornalista e escritora americana Florence Williams, na obra The Nature Fix: Why Nature Makes Us Happier, Healthier, and More Creative: “A natureza, ao que parece, é boa para a civilização”.

Publicado em VEJA de 28 de julho de 2021, edição nº 2748

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