Como funciona o mercado de carbono, que cresce em ritmo acelerado
Ainda incipiente, compensação das emissões de gases de efeito estufa fomenta um modelo de investimentos que preserva a natureza e gera riqueza

Consultores empresariais costumam dizer que crise é sinônimo de oportunidade. No caso do aquecimento global, uma das soluções que se apresentam é tão promissora que já cresce a ritmo acelerado, mesmo sem ter uma regulação formal por parte de governos e organismos internacionais. Trata-se do mercado de carbono, em que recursos são transferidos para compensar as emissões de CO2 e reinvestidos em atividades limpas que ajudam a mitigar os impactos dos gases de efeito estufa na atmosfera. Com o planeta emitindo o dobro da quantidade de CO2 registrada há dez anos, algo como 41 bilhões de toneladas ao ano, cerca de 12 bilhões de toneladas são neutralizadas por ano, em sua grande maioria por empresas. É uma cifra que cresce a cada ano, em um movimento que abre caminho para aquela que promete ser a commodity do futuro.
Os créditos de carbono nada mais são que certificados digitais emitidos por instituições que de alguma forma capturam ou neutralizam CO2 ou outros gases nocivos à atmosfera. Um crédito de carbono equivale a 1 tonelada de gases nocivos a menos no planeta, redução que pode ser feita por investimento em projetos que conservam áreas naturais ou fazem reflorestamento, mas também por uma fábrica que deixa de gerar energia por queima de carvão para usar biomassa, por exemplo.

No Brasil, tais compensações ocorrem de maneira voluntária e alimentam um mercado potencial estimado em 45 bilhões de dólares, um dos maiores do mundo. A empresa de cosméticos Natura, para citar um exemplo, é referência na área e desde 2007 neutraliza as suas emissões, tornando sua cadeia menos poluente e aderindo a projetos socioambientais. Desde então foi evitada a emissão de mais de 1,28 milhão de toneladas de carbono e a empresa adquiriu mais de 4 milhões de créditos através do apoio financeiro a 47 projetos no Brasil, Chile, Argentina, Peru, Colômbia e México. Um dos principais objetivos é gerar renda para as comunidades da Floresta Amazônica por meio de atividades extrativistas sustentáveis que preservem o bioma. “A Amazônia permite ao Brasil ser protagonista no setor, mas isso só vai ser efetivo se a transição valorizar não apenas a regeneração e a biodiversidade da floresta mas também as pessoas”, diz Denise Hills, diretora global de sustentabilidade da Natura. A boa notícia é que esse caminho já começa a ser trilhado não só pela Natura como por dezenas de outras empresas que seguem no mesmo caminho.