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Cientistas calculam impacto financeiro das gigantes do petróleo no aquecimento global

Nova ferramenta científica quantifica o impacto financeiro de empresas de petróleo nas mudanças climáticas

Por Ernesto Neves Atualizado em 30 abr 2025, 11h54 - Publicado em 30 abr 2025, 11h42

Dois importantes cientistas da ciência climática afirmam ter criado uma ferramenta capaz de quantificar o prejuízo econômico causado por cada empresa de combustíveis fósseis devido às suas emissões.

A proposta pode fortalecer ações judiciais em curso ao redor do mundo, que buscam responsabilizar grandes poluidoras pelos danos provocados pelo aquecimento global.

A pesquisa, publicada na quarta-feira na revista Nature, estima que as emissões de gases de efeito estufa de 111 companhias petrolíferas e de gás tenham causado, coletivamente, US$ 28 trilhões em prejuízos relacionados ao calor extremo entre 1991 e 2020.

Os autores do estudo, Justin Mankin, professor associado de Geografia em Dartmouth, e Chris Callahan, pesquisador de pós-doutorado em Stanford, afirmam que o modelo permite calcular a contribuição específica de cada empresa para o aumento das temperaturas em qualquer intervalo de tempo.

Enquanto defensores do clima esperam que a metodologia abra caminho para decisões judiciais que obriguem os poluidores a pagar pelos danos, representantes da indústria contestam a validade da abordagem.

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Durante o governo Trump, autoridades e parlamentares republicanos atuaram para proteger as empresas de petróleo e gás de ações legais relacionadas às mudanças climáticas.

Pesquisadores climáticos vêm tentando há anos encontrar uma forma de quantificar, com base científica sólida, a responsabilidade de empresas específicas nos danos causados pelas mudanças climáticas.

Agora, um novo modelo desenvolvido por Justin Mankin, professor associado em Dartmouth, e Chris Callahan, pós-doutorando em Stanford, dá um passo inédito nessa direção: ele conecta diretamente as emissões de gases de efeito estufa de cada empresa a perdas econômicas geradas pelo calor extremo.

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O estudo, publicado na revista Nature, estima que as emissões de 111 gigantes do setor de combustíveis fósseis foram responsáveis por US$ 28 trilhões em prejuízos globais relacionados ao calor entre 1991 e 2020.

Entre os maiores responsáveis, segundo os autores, estão a Saudi Aramco (US$ 2,05 trilhões), Gazprom (US$ 2 trilhões), Chevron (US$ 1,98 trilhão), ExxonMobil (US$ 1,91 trilhão) e BP (US$ 1,45 trilhão).

Ciência com potencial legal

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Especialistas externos consideram o modelo um avanço significativo. Kevin Reed, professor da Universidade Stony Brook, destacou: “É a primeira vez que vejo essa abordagem aplicada de maneira tão abrangente, sem se restringir a eventos isolados. Isso é a realidade”.

A nova ferramenta baseia-se em décadas de evolução na chamada ciência da atribuição, campo que busca determinar o quanto a atividade humana influenciou eventos climáticos extremos. O primeiro estudo relevante surgiu em 2004, ligando a onda de calor recorde na Europa de 2003 às mudanças climáticas. Desde então, centenas de estudos têm demonstrado como o aquecimento global intensificou desastres naturais e agravou seus impactos econômicos.

O modelo de Mankin e Callahan reúne três etapas essenciais: cálculo das emissões históricas de empresas específicas; determinação da contribuição dessas emissões para o aquecimento global; e mensuração dos prejuízos econômicos resultantes, especialmente perdas agrícolas e queda de produtividade laboral devido ao calor extremo.

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Aplicações e limites

Para casos como o movido pelo Condado de Multnomah, no Oregon — que responsabiliza 17 empresas por uma onda de calor letal em 2021 —, o modelo ainda precisaria ser adaptado para abranger outros tipos de danos específicos.

Mas defensores do clima veem na ferramenta uma nova base para responsabilização legal. “Durante muito tempo, as empresas podiam alegar que a culpa era difusa. Agora, podemos fazer essa contabilidade”, afirmou Mankin.

Juristas, no entanto, alertam que a introdução desse tipo de cálculo em tribunais pode desencadear uma “batalha de especialistas”, com cada lado apresentando modelos próprios, baseados em premissas distintas, para contestar ou defender os números.

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