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Cerrado em crise: 40 milhões de hectares perdidos em 40 anos e o que isso significa para o Brasil

Destruição atinge área que equivale a uma vez e meia o território da Bahia e traz profundos impactos para o país

Por Ernesto Neves Atualizado em 1 out 2025, 11h26 - Publicado em 1 out 2025, 09h22

O Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, atravessa uma transformação sem precedentes. Um levantamento inédito do MapBiomas, lançado nesta quarta-feira (1º), mostra que, entre 1985 e 2024, foram destruídos 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa, área equivalente a uma vez e meia o território da Bahia.

O dado revela não apenas a dimensão da perda, mas também a velocidade com que o país tem reconfigurado um de seus ecossistemas mais estratégicos.

A cada hectare derrubado, desaparecem não só árvores e arbustos retorcidos, mas também a complexa engrenagem que faz do Cerrado o “berço das águas” do Brasil.

Hoje, apenas 51,2% da cobertura original segue preservada. O restante, cerca de 48%, foi convertido em lavouras, pastagens, infraestrutura energética e empreendimentos urbanos.

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A radiografia do MapBiomas indica que a conversão se intensificou ao longo das últimas quatro décadas. Em 1985, mais de um terço das cidades do bioma tinha ao menos 80% de sua vegetação intacta; em 2024, o índice caiu para apenas 16%.

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Ao mesmo tempo, municípios dominados pela agropecuária saltaram de 42% para 58%. Em cada quatro cidades do Cerrado, uma já conta com menos de 20% de cobertura nativa.

O epicentro da devastação está na região conhecida como Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Ocupando 30% do bioma, ela concentrou 39% da perda líquida desde 1985, o equivalente a 15,7 milhões de hectares.

Nas últimas quatro décadas, a área agrícola local cresceu 24 vezes, resultado da expansão da fronteira de grãos que consolidou o Cerrado como coração do agronegócio brasileiro.

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Só na última década, 73% de toda a destruição do bioma ocorreu ali, em meio a monoculturas de soja, milho e algodão.

A pressão não se resume ao avanço das lavouras. Um terço de toda a área de usinas fotovoltaicas do Brasil já está instalado sobre o Cerrado.

Entre 2016 e 2024, a presença desses empreendimentos cresceu 1.273%, ocupando 11,3 mil hectares, dos quais 4,4 mil resultaram da conversão direta de vegetação nativa.

Embora vistos como parte da transição energética, esses projetos somam-se a um mosaico de atividades que pressiona o equilíbrio ecológico do bioma.

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Outro dado alarmante está na água. Embora 2024 tenha registrado a maior superfície hídrica do Cerrado desde 1985, com 1,6 milhão de hectares, mais de 60% desse volume corresponde a áreas artificiais, como hidrelétricas, reservatórios, aquicultura e mineração.

Rios, lagoas e nascentes encolheram 249 mil hectares no período, uma retração de quase 28%. Hoje, nove em cada dez bacias hidrográficas perderam superfície de água natural, enquanto sete em cada dez registraram aumento de áreas artificiais.

A substituição ameaça a função vital do Cerrado: abastecer aquíferos e alimentar oito das doze grandes bacias hidrográficas brasileiras.

Os incêndios agravam o quadro. Mais suscetível ao fogo do que a Amazônia, o Cerrado enfrenta queimadas cada vez mais intensas, muitas delas provocadas por práticas de manejo inadequadas ou pela seca prolongada.

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A degradação tende a retroalimentar a desertificação, tornando mais difícil a regeneração da vegetação nativa.

A dimensão das perdas levanta uma questão central: o que está em risco quando o Cerrado desaparece?

As consequências para o Brasil

A destruição do Cerrado carrega implicações profundas para o futuro do país. Entre elas:

Colapso hídrico: sendo o berço das águas, o Cerrado garante a recarga dos principais aquíferos e o abastecimento de rios que sustentam a agricultura, a indústria e grandes centros urbanos. Sua degradação reduz a capacidade de infiltração e armazenamento da água, tornando o regime hídrico mais instável.

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Ameaça à agricultura: paradoxalmente, o bioma que sustenta a produção agrícola pode se tornar vítima do próprio avanço das lavouras. A redução da umidade, a erosão do solo e a irregularidade das chuvas ameaçam a produtividade a médio e longo prazo, colocando em risco a segurança alimentar do país.

Perda de biodiversidade: o Cerrado abriga mais de 12 mil espécies de plantas e centenas de animais endêmicos. O desmatamento e a fragmentação reduzem habitats e levam espécies ao risco de extinção, enfraquecendo também serviços ecossistêmicos, como a polinização.

Contribuição ao aquecimento global: ao ser convertido em pasto ou lavoura, o Cerrado libera grandes estoques de carbono estocados em sua vegetação e no solo profundo, contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa.

Impactos sociais: povos indígenas, comunidades quilombolas e agricultores familiares que dependem dos recursos naturais do Cerrado perdem acesso à água, ao extrativismo e ao equilíbrio climático que garante sua sobrevivência.

Fragilidade energética: com rios mais secos e reservatórios artificiais em alta, a geração hidrelétrica pode se tornar mais instável, forçando o país a buscar alternativas energéticas mais caras e poluentes.

A radiografia apresentada pelo MapBiomas aponta para um futuro de escolhas. Se por um lado o Cerrado é pilar da economia agrícola e energética do Brasil, por outro sua degradação ameaça a base que sustenta essa riqueza.

A preservação e a recuperação da vegetação nativa não são apenas demandas ambientais: tornaram-se condição para a manutenção da segurança hídrica, alimentar e climática do país.

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