Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Califórnia registra radical e inédita sucessão de eventos climáticos

A temporada de inundações já somou prejuízo de 31 bilhões de dólares, segundo a agência de previsão de tempo AccuWeather

Por Mafê Firpo Atualizado em 4 jun 2024, 10h43 - Publicado em 7 Maio 2023, 08h00

Conhecida por suas espetaculares paisagens, uma sucessão de cartões-­postais que põe lado a lado mar, lagos, picos nevados e a vastidão do deserto, a Califórnia sempre viveu às voltas com um fantasma chamado Big One — um terremoto devastador que varreria do mapa o mais populoso estado americano. O medo está fincado na existência da gigantesca falha de San Andreas, o encontro de duas placas tectônicas que se estendem por 1 300 quilômetros e fazem daquelas bandas o local de maior instabilidade sísmica do planeta. Pois em meio a uma sequência sem precedentes de eventos climáticos, fruto do onipresente aquecimento global, a rachadura sobre a qual vivem os quase 40 milhões de californianos virou por ora preocupação secundária. Nunca antes se viu ocorrer com tamanha magnitude e, em tão curto espaço de tempo, secas inclementes seguidas de incêndios, que emendaram com um inverno de furiosas nevascas e as atuais tempestades, como não se registravam ali havia mais de um século. “É um desdobramento impressionante das acentuadas mudanças climáticas”, diz o geocientista Stephen LaDochy, da Universidade Estadual da Califórnia.

NEVASCA - A onipresença da neve: frio atípico
NEVASCA – A onipresença da neve: frio atípico (David McNew/Getty Images)

O sacolejo nos termômetros produziu nesses últimos tempos um efeito inesperado: as chuvas torrenciais fizeram ressurgir o Tulare Lake, a uma hora de carro de São Francisco, ao redor do qual se situa um pontilhado de cidades. Como consequência das transformações do clima, aliadas à ação humana, ele tinha desaparecido. A volta do lago poderia ser boa notícia, não fosse o fato de ocorrer num contexto em que essa porção do estado se vê inundada pelo excesso de água que tombou — e segue caindo. A cena de pessoas escapando de suas casas a bordo de caiaques e vizinhanças inteiras da região submersas certamente ingressará no rol dos históricos desastres climáticos californianos. “Tudo se complica ainda mais na Califórnia por ser um lugar de elevada densidade populacional”, observa o geocientista José Marengo.

SECA - Rio Colorado: o nível das águas baixou drasticamente
SECA – Rio Colorado: o nível das águas baixou drasticamente (Brian van der Brug/Los Angeles Times/Getty Images)

Não é de hoje que esse naco da Costa Oeste dos Estados Unidos vem sendo castigado pelos extremos climáticos, situação que tem raízes na mão humana. “Com o rápido avanço da agricultura, a água fartamente desviada dos lagos contribui de forma decisiva para que eles sequem, fenômeno acompanhado da progressiva urbanização, que leva a uma queda da umidade e altera o ecossistema”, afirma Marengo. Foi nesse cenário que as tempestades fora do comum causaram as inéditas inundações, uma vez que o solo esturricado não se mostrou capaz de absorver com a mesma presteza a quantidade colossal de chuva que desabou ali. Uma particularidade local deu contornos mais dramáticos ao quadro — o estado, que desde sempre registra a presença dos rios atmosféricos (ou voadores), poucas vezes os viu com tanta intensidade. E assim, de evento em evento, os temporais se incorporaram à rotina.

Continua após a publicidade
INCÊNDIO - Vastas áreas queimadas: calor em excesso
INCÊNDIO - Vastas áreas queimadas: calor em excesso (Josh Edelson/AFP)

A temporada de inundações já somou prejuízo de 31 bilhões de dólares, segundo a agência de previsão de tempo AccuWeather. O setor agrícola é o que mais pena, com repercussão planeta afora. “As inundações não representam apenas um prejuízo para o estado, mas para as cadeias globais de abastecimento de alimentos”, afirma Jeffrey Richey, especialista em hidrologia da Universidade de Washington. O Vale de San Joaquin, onde a tormenta se pronunciou de maneira mais violenta, envia algodão, leite e outros itens para vários países.

A potente economia da Califórnia alçaria o estado, caso fosse um país, à quinta posição entre os mais ricos do mundo, se encaminhando para chegar ao PIB da Alemanha. Nestes dias, porém, a vida anda mais dura, com as big techs sediadas no próspero Silicon Valley, como Google e Facebook, promovendo demissões em massa, o custo de vida exageradamente alto e um déficit de 22,5 bilhões de dólares no caixa. Contornar o mau momento, segundo já reconheceu o governador Gavin Newsom, passa por um futuro próximo em que o desequilíbrio ambiental — que vem produzindo ao mesmo tempo recordes de calor e um frio polar — seja firmemente combatido. Em dezembro, Newsom assinou medidas para reduzir radicalmente a poluição e alcançar até 2045 energia 100% sustentável, com zero de carbono. As imagens de terra arrasada em tão bela paisagem não deixam dúvida de que os esforços devem começar quanto antes.

Publicado em VEJA de 10 de maio de 2023, edição nº 2840

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.