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Café resistente ao calor pode garantir futuro da bebida em meio à crise climática

Espécie redescoberta resiste ao calor extremo e tem sabor comparável ao do arábica, oferecendo esperança para o futuro da bebida mais consumida do mundo

Por Ernesto Neves Atualizado em 9 Maio 2025, 13h17 - Publicado em 9 Maio 2025, 11h18

Três bilhões de xícaras de café são consumidas todos os dias no mundo. O hábito, em expansão especialmente na China e na África, sustenta milhões de pequenos produtores, em especial nos países tropicais.

Mas esse mercado bilionário está sob ameaça: mudanças climáticas vêm comprometendo as safras em grandes produtores como Brasil, Vietnã e Colômbia, com ondas de calor, secas e chuvas irregulares levando a colheitas instáveis e preços historicamente altos.

Nesse contexto, pesquisadores buscam alternativas ao cultivo tradicional. Para Aaron Davis, chefe de pesquisa em café do Jardim Botânico Real de Kew, a resposta está na biodiversidade: entre as 131 espécies conhecidas do gênero Coffea, algumas podem garantir a resiliência do setor.

Uma das apostas mais promissoras é o Coffea stenophylla, planta rara nativa da África Ocidental, que tolera temperaturas até 7 °C mais altas que o arabica — espécie que domina o mercado mundial.

A resistência ao calor não é seu único trunfo. O stenophylla oferece um sabor comparável ao do arabica — algo incomum entre cafés adaptados a climas quentes.

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Em testes, a espécie sobreviveu a uma onda de calor em Serra Leoa, e os cientistas vêm monitorando cuidadosamente as condições de solo, umidade e temperatura para identificar as variantes mais robustas.

A redescoberta da planta começou em 2018, quando Davis, o pesquisador Jeremy Haggar, da Universidade de Greenwich, e o especialista local Daniel Sarmu encontraram exemplares selvagens em Serra Leoa.

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Com apoio da empresa Sucafina, da ONG Welthungerhilfe e de comunidades locais, eles iniciaram o cultivo experimental em diversas regiões do país. A primeira colheita está prevista para este ano.

O interesse pelo stenophylla cresceu rapidamente. Além do sabor e da resiliência, um estudo recente revelou que ele contém teacrina — composto semelhante à cafeína, mas com supostos efeitos menos agressivos ao organismo.

Também há iniciativas para enxertar a planta em raízes de excelsa, outra espécie resistente à seca, buscando combinar o melhor de ambas.

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Curiosamente, o renascimento do stenophylla começou com a descoberta de um antigo frasco de grãos esquecidos em um herbário, com rótulo indicando que haviam sido cultivados em áreas de baixa altitude de Serra Leoa — o que despertou a atenção de Davis, já que o café costuma prosperar em regiões elevadas.

Pesquisas em documentos do século XIX revelaram descrições do sabor refinado da bebida obtida da planta e imagens de seu cultivo junto a outras espécies tropicais.

O stenophylla, também encontrado na Costa do Marfim e na Guiné, pode tanto se tornar um produto de alto valor agregado quanto funcionar como base para cruzamentos genéticos que reduzam a dependência do arabica.

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No entanto, os direitos sobre seu uso pertencem aos governos dos países de origem, o que exige acordos internacionais para sua disseminação.

Diante das incertezas climáticas, proteger e explorar a biodiversidade se mostra uma estratégia prática — e não apenas idealista — para garantir o futuro do café.

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