Bioinsumos: bactérias e fungos podem revolucionar o agro do Brasil
Eles são organismos vivos, como bactérias, insetos ou plantas, usados para melhorar a fertilidade do solo ou para o controle de pragas
Diante da crise climática que impõe perdas crescentes à agropecuária e à pressão dos mercados por métodos de produção mais amigáveis à natureza, uma técnica agrícola vem ganhando espaço ao aliar alta eficácia com proteção ambiental.
São os bioinsumos, nome que se dá à série de produtos compostos por organismos vivos, incluindo insetos, bactérias ou plantas, capazes de devolver à terra os microorganismos que foram se perdendo ao longo dos anos devido o uso intensivo de agrotóxicos e adubos.
A técnica recebeu impulso com a Guerra da Ucrânia, em 2022, quando o país se viu refém da inflação dos fertilizantes, um produto produzido majoritariamente pela Rússia e Belarus. Hoje, o país traz de fora quase 70% dos adubos utilizados no campo.
Em fevereiro deste ano, houve novo incentivo, já que a Câmara dos Deputados aprovou uma legislação que simplifica as regras para o registro dos produtores.
A Ambipar, que tem a modelo Gisele Bündchen entre os sócios, produz bioinsumos reaproveitando materiais como as cascas de eucalipto, um rejeito que sobra da produção de celulose.
Hoje, a empresa aproveita os restos de gigantes do setor, como a Klabin, para produzir bioinsumos de alto valor, que hoje empregados na recuperação de terrenos degradados.
Só no caso das fábricas da Klabin em Ortingueira e Monte Alegre, no Paraná, mais de 200.000 toneladas de detritos deixam de ir para o lixo anualmente para ganhar nova destinação.
A Ambipar também realiza o mesmo aproveitamento nas fábricas da WestRock e Sylvamo. E, no total, a empresa já recicla 600.000 toneladas de rejeitos industriais com esse fim por ano.
“É uma mudança profunda de pensamento”, define Gabriel Estevam, engenheiro ambiental da Ambipar.
“Os bionsumos estão em consonância com a proteção do planeta e o estilo de vida saudável. Isso porque utilizamos o próprio ecossistema para equilibrar a plantação, reduzindo substancialmente a utilização de produtos químicos”, explica.
De 2000 ate 2022, o país registrou 651 produtos biológicos para uso no campo e, so no ano passado, foram 134 registros.
Os primeiros registros do tipo, porém, começaram bem antes, ainda nos anos 1970.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é pioneira na pesquisa e desenvolvimento dos bioinsumos, utilizando os recursos da natureza para corrigir e recuperar vastas extensões fazendas do Centro-Oeste, Sul, e Sudeste.
Atualmente, são mais de 600 pesquisadores da Embrapa envolvidos em 70 projetos do tipo.
Um deles consiste na aplicação de fungos e bactérias em plantações de lúpulo, um dos principais ingredientes da cerveja.
Hoje, a quase totalidade do lúpulo usado por cervejarias brasileiras precisa ser importado, aumento os custos.
Mas um experimento na região de Teresópolis, no estado do Rio, pode facilitar a produção nacional.
Mudas inoculadas com a bactéria Azospirillum obtiveram aumento de 52% de biomassa, isto é, tornaram-se substancialmente mais robustas.
Outra frente de desenvolvimento é o Grupo Associado de Pesquisa (Gapes), que reúne 45 produtores de Goiás.
A entidade está desenvolvendo um bioinsumo feito com fungos para controlar a cigarrinha do milho.
O potente líquido desenvolvido nas biofábricas do grupo precisa ser aplicado seguidas vezes nas folhas das lavouras para prevenir o ataque, o que até aqui vem sendo conseguido com sucesso.
A Embrapa calcula que a produtividade nos milharais pode aumentar em 10% com o uso de agentes biológicos.
“O uso de produtos químicos na lavoura serviu para aumentar a produtividade. Mas também trouxe problemas como o envenenamento agudo e as doenças de longo prazo, como o câncer”, diz Vineet Kumar, pesquisador do Centro para a Agricultura Sustentável, da Índia.
“Eles têm impacto na saúde humana e do meio ambiente de várias maneiras. Assim, é urgente encontrar novas soluções para o campo”, conclui o pesquisador.