Bezos mira agro sustentável com aporte milionário em gado de baixa emissão de metano
Estudo prevê o mapeamento genético de mais de 100 mil animais, com o objetivo de coletar dados sobre emissão de gases

O Bezos Earth Fund, iniciativa do dono da Amazon, o bilionário americano Jeff Bezos, anunciou um o investimento de 19 milhões de dólares, cerca de 110 milhões de reais, em pesquisas voltadas ao desenvolvimento de uma pecuária mais alinhada com as metas climáticas globais.
A produção de alimentos pela agropecuária moderna é responsável por cerca de um terço das emissões de gases do efeito estufa no planeta.
A criação de gado, em especial, responde por uma fatia expressiva dessa poluição climática, sendo uma das principais emissoras de metano — gás com potencial de aquecimento até 80 vezes superior ao do dióxido de carbono.
O projeto tem como objetivo minimizar os efeitos ambientais da criação de bovinos e ovinos, um dos setores agropecuários mais emissores de gases de efeito estufa.
O financiamento será direcionado a estudos genéticos que visam identificar animais com menor propensão à liberação de metano, um dos principais vilões do aquecimento global.
A análise deve abranger cerca de 100 mil cabeças de gado e ovelhas em diferentes continentes — América, Europa, África e Oceania —, com o objetivo de coletar dados sobre emissão de gases, composição genética.
Há séculos, a pecuária utiliza a seleção genética como ferramenta para melhorar atributos como a produção de leite, a fertilidade e a resistência a doenças.
Agora, essa prática tradicional ganha um novo propósito: reduzir o impacto climático da criação de animais.
De acordo com o Bezos Earth Fund, emissões de metano — um dos gases de efeito estufa mais potentes — variam significativamente até mesmo entre indivíduos de um mesmo rebanho.
Isso abre caminho para uma estratégia de baixo custo e alto impacto: selecionar e cruzar animais que naturalmente emitem menos metano.
A proposta ganha relevância em um momento em que o setor agropecuário está sob pressão para reduzir sua pegada de carbono, especialmente diante do crescente escrutínio de consumidores, investidores e formuladores de políticas públicas.
Segundo os cientistas envolvidos no projeto, a adoção dessa abordagem não exigirá que os pecuaristas mudem a forma como alimentam ou criam os animais — um diferencial importante, sobretudo para pequenos e médios produtores, que enfrentam limitações para implementar tecnologias mais caras ou disruptivas.
A expectativa é que os dados gerados pelo estudo estejam prontos para uso prático em dois a três anos. A partir daí, as chamadas “pontuações de metano” devem ser incluídas nos catálogos de touros usados por criadores em todo o mundo para orientar a reprodução.
O aporte anunciado integra uma iniciativa mais ampla de 1 bilhão de dólares, cerca de 5,6 bilhões de reais, lançada pelo Bezos Earth Fund com o objetivo de enfrentar os impactos da produção de alimentos sobre o clima e a biodiversidade.
Entre as ações já realizadas estão a criação de centros de pesquisa voltados ao desenvolvimento de proteínas alternativas, além de estudos sobre vacinas e rações capazes de diminuir as emissões de gases de efeito estufa na pecuária.
O foco é apoiar soluções científicas que aliem inovação tecnológica, viabilidade econômica e conservação ambiental.