Aumento da urbanização no Brasil interfere no clima, mostra estudo
Levantamento do MapBiomas aponta o avanço de áreas de ocupação informal sobre vegetação nativa
Já se sabe que o Brasil tem se tornado um país cada vez menos rural. Agora, um levantamento do MapBiomas, feito através de imagens de satélite, captadas entre 1985 e 2020, traz à luz dados atualizados sobre o fenômeno, e mostram como ele pode afetar o clima. Segundo a pesquisa, a expansão urbana no país cresceu a uma taxa anual de 1,97%, superior à taxa de crescimento da população, de 1,45%, fazendo com que as regiões urbanizadas dobrassem de tamanho, passando de 2,1 milhões de hectares para 4,1 milhões de hectares.
Em 35 anos, as áreas que abrigam comunidades vulneráveis cresceram o equivalente a 95 mil campos de futebol — três vezes a área de Salvador ou 11 vezes a área de Lisboa. Segundo os pesquisadores, 4,66% do crescimento dessas áreas têm características de “aglomerados subnormais”, os quais, de acordo com o IBGE, possuem padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e, muitas vezes, estão localizados em lugares que oferecem risco à vida. Estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo são os que mais concentram ocupações informais em áreas de declive, com risco de desabamento.
As 20 maiores comunidades do tipo concentram 30% das áreas urbanizadas. São Paulo é o estado que registra a maior concentração, com 218.985 hectares, seguido por Rio de Janeiro (174.534 ha), Brasília (89.243 ha), Belo Horizonte (87.121) e Curitiba (74.239 ha).
A análise mostra que as áreas ocupadas informalmente são mais sensíveis às políticas econômicas e sociais, e crescem mais em períodos de retração do PIB.
Para Julio Cesar Pedrassoli, um dos coordenadores do mapeamento de infraestrutura urbana do MapBiomas, a combinação dos dados deve “acender uma luz amarela para os gestores públicos, porque eles criam as condições perfeitas para desastres urbanos”. “Por um lado, temos grandes áreas sem os serviços públicos adequados; por outro, risco de acidentes potencializado pela crescente ocorrência de eventos climáticos extremos”, aponta. “Olhar para as ocupações informais pelo ângulo da adaptação às mudanças do clima é fundamental para evitarmos tragédias.”
E se o clima pode ser uma ameaça a comunidades do tipo, o avanço dessas comunidades também podem gerar uma preocupação climática. Isso porque quanto mais urbanizadas se tornam as áreas, mais se perde vegetação nativa. De acordo com o levantamento, o Cerrado foi o bioma que mais sofreu com a urbanização, alcançando 33% dos 388 mil hectares de vegetação nativa que foram convertidos para áreas urbanizadas a cada ano. Em termos percentuais, enquanto 44,1% da vegetação nativa convertida para áreas urbanas na Amazônia eram florestas, na Mata Atlântica esse percentual foi de 58,3%, sendo o bioma mais afetado.