Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Batalhas da carne e da alma

'Dunkirk' fez o espectador ver a história de dentro, enquanto 'Mindhunter' mergulhou no horror da alma dos assassinos

Por Da Redação Atualizado em 22 dez 2017, 06h00 - Publicado em 22 dez 2017, 06h00

1 – Dunkirk
(Inglaterra/Holanda/França/Estados Unidos, 2017)

A batalha de Dunquerque, em meados de 1940, foi a mais formidável derrota dos aliados na II Guerra Mundial. Encurraladas numa praia no norte da França pelos alemães, forças inglesas, francesas e belgas sofreram grandes baixas. Mas o fracasso se reverteria em triunfo: graças a um esforço heroico, 300 000 combatentes foram resgatados, de barco. Ao recriar o episódio, o diretor inglês Christopher Nolan oferece uma perturbadora imersão no caos e horror da guerra. Dunkirk amplia com virtuosismo a noção do que faz o cinema ser cinema: por mais que a televisão hoje tenha crescido em qualidade, nada substitui a experiência sensorial de ver um épico de guerra na tela gigante, com a profundidade do Imax.

2 – BINGO — o rei das manhãs
(Brasil, 2017)

Exuberante e hilariante, amargo e devastador, o longa-metragem de estreia de Daniel Rezende (que concorreu ao Oscar de montagem por Cidade de Deus) é o grande filme brasileiro da década até aqui pela maneira como ao mesmo tempo recria e satura a trajetória do ator que interpretou o palhaço Bozo no SBT de 1984 a 1986. Célebre sem ser sequer conhecido, o protagonista Augusto — Vladimir Brichta, numa atuação excepcional — resume as vicissitudes da fama no universo da cultura pop.

3 – BLADE RUNNER 2049
(Estados Unidos, 2017)

A bilheteria mundial decepcionou: 257 milhões de dólares é pouco para uma produção de 150 milhões. O ritmo meditativo e o tom filosófico do filme dirigido por Denis Villeneuve, com suas especulações melancólicas sobre a finitude do ser humano (seja ele “natural” ou, como K, o policial vivido por Ryan Gosling, artificialmente projetado), não são próprios de blockbusters. Os espectadores que faltaram a essa digna sequência do filme original de 1982 perderam um espetáculo visual inigualável — a cena de sexo envolvendo um personagem holográfico é hipnótica. E é um prazer ver Harrison Ford voltar ao papel do durão e desencantado Rick Deckard.

Continua após a publicidade

 


 

Questão de cérebro – Mindhunter: crônica instigante do nascimento da moderna ciência criminal (./Divulgação)

1 – Mindhunter
(Estados Unidos, 2017. Disponível na Netflix)

Tipo almofadinha e nerd, com abertura para trocas de experiências (inclusive sexuais) com a intelectualidade progressista, o agente Holden Ford (Jonathan Groff) é um corpo estranho no FBI. Enquanto seus pares seguem velhos métodos contra o crime, ele tem inquietações avançadas demais para os anos 70: quer entender por que há uma epidemia de assassinos que agem sem motivação aparente — e, sobretudo, compreender a mente desses criminosos. Mindhunter, do americano David Fincher, impõe-se como a melhor série de 2017 pela dupla sacada de captar o momento em que o termo “assassino em série” entrou em voga e se desenrolar como uma crônica da gênese da moderna ciência criminal. Os diálogos entre Ford e psicopatas reais como Ed Kemper (o monumental Cameron Britton) são o tempero que dá liga a essa iguaria rara da TV.

Continua após a publicidade

2 – The young Pope
(Estados Unidos/França/Itália/Espanha, 2016. Exibido no Brasil pelo canal Fox Premium)

Lenny Belardo é um azarão na disputa pelo Trono de São Pedro. No entanto, o conclave sagra o cardeal americano como o novo papa. E que papa ele será! Pio XIII — é esse o nome que ele adota como pontífice — promove uma revolução conservadora no Vaticano, reinstaurando uma férrea ortodoxia em questões de liturgia, fé e comportamento. Criada pelo italiano Paolo Sorrentino, de A Grande Beleza, The Young Pope tem um apuro plástico irretocável e um elenco afiadíssimo: o italiano Silvio Orlando confere humanidade ao confuso Voiello, o cardeal que antes de Pio XIII mais bem dominava a política vaticana; a americana Diane Keaton compõe uma freira ao mesmo tempo assertiva e compassiva; e o inglês Jude Law torna carnalmente palpáveis os anseios espirituais do jovem papa.

3 – Godless
(Estados Unidos, 2017. Disponível na Netflix)

Com Godless, a Netflix confirma que 2017 foi seu annus mirabilis: fora um ou outro espasmo da concorrência, a plataforma de streaming dominou a seara das séries. A realização de Scott Frank (roteirista de Logan) mostra com que armas se venceu essa guerra: ousadia e produção sem miséria. Godless renova um gênero superexplorado, o faroeste, ao falar do clássico embate entre um homem forte, o criminoso Frank Griffin (Jeff Daniels), e seu pupilo desgarrado, Roy Goode (Jack O’Connell). Mas não se esgota aí: há uma gama riquíssima de personagens e dramas do Oeste americano dos idos de 1880, de mulheres fortes a um romance inter-racial. A fotografia e as sequências magistralmente coreografadas (as cenas com cavalos estão entre as melhores já feitas) aproximam a TV do cinema.

 

Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.