Depois de assistir a um documentário que pregava o fim do consumo de carnes, a vida da família Montenegro Bertolino começou a mudar – confira o infográfico. Habituado a porções moderadas dos itens de origem animal, o clã decidiu dar um passo radical: excluir completamente os produtos do cardápio. A ideia partiu do pai, o fotógrafo Roberto Loffel. A mulher, a psicóloga Maria Fernanda Montenegro, e as filhas Mariana, de 20 anos, e Beatriz, de 23, também assistiram à cena. Só faltou à sala o caçula André, de 11. “No documentário, vi a vaca tentando escapar do abate. Foi o suficiente”, conta Maria Fernanda.
Não foi a primeira vez que Maria Fernanda parou de comer carne – ela já havia tentado em duas oportunidades, mas a nova dieta não durou mais do que dois meses. A terceira vez está sendo bem-sucedida graças à mobilização familiar. “Parei de comer carne principalmente por causa do animal, do sofrimento. Além disso, passamos a ter uma alimentação mais saudável”, diz. Fatores ambientais, como o elevado gasto de água potável para a criação do gado, também embalaram a iniciativa da família.
Para aderir ao vegetarianismo, a família seguiu a cartilha indicada pelos nutricionistas. “Todos fomos ao médico para nos certificarmos de que ninguém tinha qualquer déficit de proteínas e nutrientes”, conta Maria Fernanda. Em seguida, os membros da família compraram livros e buscaram cardápios alternativos. “Passados dois anos, começa a ficar mais fácil”, diz a mãe. “O maior desafio é o inverno, quando não dá vontade de comer saladas. Se antes, as alternativas eram carne, bolinho de carne, frango e bife, agora é a vez de feijão, feijão preto, branco, lentinha”.
Não houve pressão sobre os filhos. E o caçula André, passada a euforia vegetariana, expressou o desejo de voltar a comer carne. E de fato se readaptou a uma dieta não vegetariana. “Eu faço bife, filé de frango, mas ele também gosta de carne de soja”, conta Maria Fernanda.
Caídas e recaídas – Suspender o consumo de carnes exige força de vontade e também paciência, para enfrentar a reação das demais pessoas, nem sempre acostumadas a hábitos vegetarianos. “Você não tem dó do alface?”, era a pergunta que a jornalista Natália Mello, de 26 anos, mais ouvia de seus irmãos quando decidiu trilhar o novo caminho. A pressão teve resultados.
Na primeira tentativa de riscar os produtos de origem animal de seu cardápio, ela tinha 16 anos; na segunda, 20. Ambas foram mal-sucedidas. Como não sabia exatamente como buscar em outros alimentos os nutrientes da carne, passou maus momentos: desenvolveu anemia nas duas vezes e quase precisou de transfusão de sangue. “Meus cabelos caiam, era tão desesperador que eu não queria lavar a cabeça por conta dos chumaços enormes que caiam na hora do banho”, conta.
Mas as dificuldades apenas adiaram a mudança. “É preciso aprender a comer adequadamente em termos nutricionais e só depois cortar a carne: hoje, como peixe e frango e às vezes tenho umas recaídas com carne vermelha”, diz. “É uma luta contra sua própria vontade e contra os hábitos de toda a sociedade”.