Filho único ou mais novo tem tendência maior a obesidade
Pesquisa dinamarquesa aponta que filhos únicos e caçulas de quatro irmãos têm, respectivamente, 44% e 93% mais chances de serem obesos aos 13 anos
Ser filho único ou caçula pode aumentar as chances de obesidade. É o que indica um estudo realizado pelos hospitais Frederiksberg e Bispebjerg, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e publicado nessa quarta-feira no periódico Plos One. De acordo com o levantamento, filhos únicos e caçulas de quatro irmãos têm, respectivamente, 44% e 93% mais chances de serem obesos aos 13 anos.
Conheça a pesquisa
TÍTULO ORIGINAL: Being an Only or Last-Born Child Increases Later Risk of Obesity
ONDE FOI DIVULGADA: periódico Plos One
QUEM FEZ: Line K. Haugaard, Teresa A. Ajslev, Esther Zimmermann, Lars Ängquist e Thorkild I. A. Sørensen
INSTITUIÇÃO: Universidade de Copenhagen, Dinamarca
RESULTADO: Aos 13 anos de idade, as chances dos filhos únicos serem obesos eram 44% maiores, em relação a crianças com irmãos. Já aos 19 anos, as chances de obesidade eram 76% maiores. Ser caçula também aumenta consideravelmente o risco de obesidade: ser o mais jovem de quatro irmãos, por exemplo, aumenta em 93% o risco de obesidade aos 13 anos.
A obesidade, já considerada um problema de saúde pública, é uma condição relacionada a diversos fatores: genéticos, sociais e de interação com o ambiente. Nesse âmbito, o ambiente familiar pode apresentar grande influência no desenvolvimento de obesidade em crianças e adultos jovens. A fim de analisar essa relação, o estudo dinamarquês utilizou dados de 29.327 crianças, 323 jovens obesos e 575 jovens da população geral.
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O estudo mostrou que o fato de ser filho único aumentava significativamente as chances de essas pessoas se tornarem obesas na infância ou no início da vida adulta. Aos 13 anos de idade, as chances de os filhos únicos serem obesos eram 44% maiores, em relação a crianças com irmãos. Já aos 19 anos, as chances de obesidade eram 76% maiores. Ser caçula também aumenta consideravelmente o risco de obesidade: ser o mais jovem de quatro irmãos, por exemplo, aumenta em 93% o risco de obesidade aos 13 anos. Aos 19 anos, no entanto, essa relação não foi encontrada.
Causas – De acordo com os autores, ainda não estão disponíveis evidências que expliquem as causas dessa relação. No caso dos filhos mais novos, por exemplo, uma possível explicação é o fato de que as mães dessas crianças têm mais idade e frequentemente maior peso do que tinham durante a gestação dos outros irmãos – fatores de risco reconhecidos para a obesidade dos filhos. Comparando o segundo com o terceiro filho, no entanto, não foram encontradas diferenças significativas no risco de obesidade, o que seria esperado levando em conta a influência de idade e peso da mãe. Para os pesquisadores, essa diferença pode estar relacionada a fatores psicológicos e de estrutura familiar.
Opinião da especialista
Cintia Cercato
Endocrinologista e diretora da Associação Brasileira paro o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso)
“Atualmente, sabemos que existem várias razões relacionadas à ocorrência de obesidade, sendo uma delas o contexto familiar. Estudos anteriores já haviam relacionado essa condição ao fator de ser filho único ou o filho mais novo.
“No caso do filho caçula, faz todo o sentido imaginar que a mãe dele é mais velha. Além disso, pra cada gestação existe uma tendência de se reter, em média, 2 quilos. A mãe mais velha, tendo uma má nutrição placentária, pode gerar fetos com baixo peso (2,5 quilos ou menos ao nascer). Esse feto pequeno tem que se adaptar e economizar energia para sobreviver, e essa tendência a acumular energia faz com que ele tenha um risco mais elevado de desenvolver obesidade.
“De modo geral, a idade materna avançada e o aumento do peso materno estão associados à maior obesidade da criança, mas o interessante é que, mesmo corrigindo esses fatores, a tendência se manteve.
“Quanto ao filho único, é possível que a estrutura de uma família que tem só um filho seja mais obesogênica. Há uma tendência maior de a criança ter televisão no quarto, assim como de ocorrer superproteção com superalimentação – o mesmo valeria também para os caçulas. Isso é interessante como estratégia de prevenção, pois sabendo que a criança está em um subgrupo de maior risco, a necessidade de ficar mais atento à alimentação e ao estilo de vida dela é reconhecida. “