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ONU faz 70 anos sob críticas e enfrentando complexos desafios

Falta de recursos, excesso de fragmentação, muita burocracia e políticas centralizadoras são alguns dos principais problemas que a ONU tem de lidar, dizem os especialistas

Por Julia Braun
27 set 2015, 18h02

Nesta segunda-feira, será aberta a 70º Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. A reunião anual também marcará o início das comemorações do aniversário de 70 anos da entidade. Não existem muitas dúvidas de que desde sua criação, a ONU já salvou milhões de pessoas da mais caótica situação de pobreza até de doenças epidêmicas que pareciam difíceis de serem combatidas. Em sua história, as Nações Unidas já foram aclamadas como a grande esperança para o futuro da humanidade, mas ao mesmo tempo já foram acusadas de proteger ditaduras e ser espectadora passiva de genocídios. A organização recebe críticas por sua burocracia e lentidão, assim como pela política centralizadora do Conselho de Segurança, formado pelos cinco membros permanentes: Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, China e Rússia.

Com a aproximação do aniversário das Nações Unidas, oficialmente ela foi fundada em 24 de outubro de 1945, essas falhas – e a forma como a instituição tem lidado com elas – vieram à tona na medida em que a organização tenta definir seu papel no século XXI. Tensões entre governos ocidentais, que consideram a ONU abrangente demais e ineficiente, e as nações em desenvolvimento, que veem a organização como antidemocrática e comandada pelos países ricos, desmoralizam a instituição, que cada vez mais necessita de uma reforma, dizem os especialistas ouvidos pelo site de VEJA.

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Para o professor de ciência política Thomas Weiss, da Universidade da Cidade de Nova York, existem alterações a serem feitas, mas nem todas são viáveis. “Entre as mudanças que são possíveis e necessárias está um maior comprometimento político de todos os Estados membros, incluindo os ricos, os de recursos médios, como o Brasil, e até os mais pobres; e o fornecimento de recursos para as Nações Unidas fazer seu trabalho”. O autor do livro “What’s Wrong With the United Nations and How to Fix It”, ou “O que está errado com as Nações Unidas e como mudar isso”, em tradução literal, afirma também que as contribuições à ONU devem ser livres, ou seja, destinados para qualquer propósito, não só aos projetos que favorecem o doador.

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Custos elevados – Atualmente, os gastos da ONU são 40 vezes maiores do que na década de 50. A organização possui dezessete agências especializadas, catorze fundos e um secretariado com dezessete departamentos, que empregam 41.000 pessoas. O orçamento regular das Nações Unidas, que é ajustado a cada dois anos e usado para bancar os custos de administração, mais que dobrou nas últimas duas décadas, chegando a 5,4 bilhões de dólares, ou 22,3 bilhões de reais.

Porém, essa é só uma porção pequena de tudo que é gasto. As Missões de Paz, por exemplo, custam mais 9 bilhões de dólares (37 bilhões de reais), com 120.000 soldados – os chamados “capacetes azuis” – locados principalmente na África. Algumas missões duraram mais de uma década. E há ainda as contribuições voluntárias dos governos, usadas para financiar uma grande parte dos programas de ajuda humanitária, trabalho de desenvolvimento e agências como a Unicef. As doações aumentaram em seis vezes nos últimos 25 anos, chegando a 28,8 bilhões de dólares (118,5 bilhões de reais), e mesmo assim algumas agências afirmam estarem à beira da falência.

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Conselho de Segurança – Além da falta de recursos, o ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, Rubens Barbosa, aponta o equilíbrio de poder no Conselho de Segurança como outro desafio a ser alcançado pela ONU. “As Nações Unidas precisam efetivamente de uma reforma para que o equilíbrio de poder hoje seja mais adequadamente representado no Conselho de Segurança (CS), que é o órgão decisório dessa organização e que visa justamente tentar equacionar os problemas da paz e da segurança internacional”, diz.

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Contudo, as dificuldades do órgão em resolver questões de segurança no Oriente Médio e a crise de refugiados atuais são também consequência da inação e dos conflitos entre os países membros do CS. “O Conselho de Segurança é inútil ou útil? A resposta é que quando os Estados membros querem que a parte política funcione, ela funciona”, afirma Thomas Weiss.

Reunião do Conselho de Segurança da ONU
Reunião do Conselho de Segurança da ONU (VEJA)

Segundo o professor, são as pessoas que trabalham diretamente para a organização, funcionários da Unicef, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados e do Programa Mundial de Alimentos que fazem os esforços mais efetivos. “Quem traabalha para as Nações Unidas tem feito trabalhos inacreditavelmente dedicados sob condições perigosas e recursos inadequados para conseguir suprimentos para 4 milhões de refugiados e 8 milhões de pessoas deslocadas, por exemplo”.

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Porém, algo que pode estar no caminho do sucesso dos programas e agências da ONU é, paradoxalmente, justamente o excesso de frentes operando em muitos países, de forma totalmente independente. Os recursos limitados e a falta de integração dificultam o cumprimento de metas e um planejamento mais universal. Barbosa concorda que o excesso de instituições também pode levar a um aumento na burocracia da organização, mas reconhece seu trabalho. “A ONU tem uma série de ações importantes, em questões humanitárias e de manutenção da paz no Haiti, no Oriente Médio, na África. Sempre há um acúmulo burocrático, mas é o preço que a comunidade internacional deve pagar para que as soluções negociadas sejam alcançadas”.

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Diplomacia brasileira em baixa – Como tradicionalmente acontece desde 1947, o chefe de Estado brasileiro é o responsável por abrir o debate geral da Assembleia. Contudo, para o ex-embaixador Barbosa, a diplomacia brasileira vive hoje um momento de desprestígio. “Durante os últimos 13, 14 anos, as opções estratégicas que o governo brasileiro tomou introduziram resultados limitados e, em muitos casos, resultados contrários ao interesse do Brasil”. Com a proximidade da Assembleia Geral da ONU, que começa oficialmente no dia 28, fica ainda mais forte a pressão do grupo de países que integra o chamado G4 – Brasil, Alemanha, Japão e Índia – para uma reforma e ampliação do Conselho de Segurança. Segundo o subsecretário-geral de política do Ministério das Relações Exteriores, Fernando Simas Magalhães, neste sábado, a presidente Dilma Rousseff se reuniu em Nova York com a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe e o presidente da Índia Pranab Mukherjee, para a elaboração de um documento conjunto com um pedido formal às Nações Unidas.

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