Autoridades dão versões diferentes sobre causa da morte de ministro palestino
Ziad Abu Ein morreu nesta quarta, durante protesto contra assentamentos na Cisjordânia
Autoridades israelenses e palestinas divulgaram relatos conflitantes sobre os resultados da autópsia realizada em um ministro palestino que faleceu durante um protesto na Cisjordânia. Os palestinos dizem que a morte de Ziad Abu Ein foi causada por um golpe, enquanto os israelenses afirmam que problemas cardíacos prévios levaram o político à morte. Abu Ein chefiava uma comissão que monitorava assentamentos israelenses na Cisjordânia, um posto que integra o gabinete da Autoridade Palestina.
Uma autoridade palestina disse à agência Reuters que o ministro de 55 anos faleceu por ter inalado gás lacrimogêneo e demorado para receber cuidados médicos. Médicos israelenses, no entanto, acreditam que ele sofreu um ataque cardíaco. “A morte dele foi causada por uma obstrução coronariana, precipitada pelo estresse. O estresse pode ter sido causado por ele ter sido agarrado pelo pescoço”, disse uma fonte à agência de notícias.
Nesta quarta, aproximadamente trinta soldados israelenses e policiais de fronteira usaram gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para dispersar cerca de 100 pessoas que protestavam contra um assentamento judeu plantando oliveiras na vila de Turmusiya, ao norte de Ramallah. Houve confronto e um policial empurrou Abu Ein e o agarrou pelo pescoço com uma das mãos. Minutos depois, o ministro desmaiou. Ele morreu a caminho do hospital.
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Versões – A autópsia foi realizada ainda na noite de ontem por patologistas palestinos, jordanianos e israelenses. O ministro palestino da Saúde, Jawad Awad, acusou “as forças de ocupação israelenses” de serem responsáveis pela morte do político. Um porta-voz da autoridade palestina acrescentou que, “em virtude dos resultados da necropsia, o governo palestino considera Israel completamente responsável pela morte de Ziad Abu Ein”.
Os patologistas israelenses Chen Kugel e Maya Furman, por sua vez, disseram que o ministro tinha problemas cardíacos, o que incluía obstrução de 80% dos vasos sanguíneos de seu coração e que isso “fez com que ele se tornasse mais sensível ao estresse”. A morte ocorre em um momento de alta tensão entre israelenses e palestinos, após meses de episódios violentos em Jerusalém, Tel Aviv e na Cisjordânia ocupada.
Histórico – Integrante do movimento Fatah, do qual o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas faz parte, o ministro atuava na organização de protestos contra os assentamentos. Abu Ein passou vários anos em prisões israelenses. Em 1979, foi detido nos Estados Unidos e extraditado para Israel dois anos depois. Em Israel, foi sentenciado à prisão perpétua por ser membro de uma célula que plantou uma bomba que matou dois israelenses, mas acabou libertado em 1985 numa troca de prisioneiros. Durante a segunda intifada, em 2002, ele passou um ano em prisão administrativa, sem ser julgado ou indiciado.
Autoridades e cidadãos palestinos caminharam nesta quinta até o prédio onde fica o gabinete de Abbas e depois acompanharam o funeral do ministro. O caixão percorreu as ruas de Ramallah envolto na bandeira palestina, enquanto os ativistas gritavam “vingança” ou “seu sangue não será derramado em vão”. As escolas não funcionaram hoje e fotografias do político foram espalhadas pelos muros da cidade.
As tropas israelenses foram mobilizadas para evitar mais confrontos, em particular porque o cemitério fica perto do assentamento judaico de Psagot. “Decidimos mobilizar nesta quinta-feira um reforço de dois batalhões de soldados e duas unidades de guarda de fronteira na Cisjordânia”, declarou uma porta-voz do Exército à agência France-Presse.
(Com Estadão Conteúdo e agência EFE)