O chanceler Celso Amorim defendeu nesta segunda-feira que o Brasil amplie suas relações com a Guiné Equatorial, país acusado de graves violações de direitos humanos, argumentando que “negócios são negócios”. A declaração foi feita pouco antes de o presidente Lula se encontrar com o ditador Obiang Nguema.
Nguema, que tomou o poder do país há 31 anos por meio de um golpe de Estado, recebe Lula para discutir a ampliação do comércio bilateral e oportunidades de investimento brasileiro na Guiné Equatorial. “Negócios são negócios. Nós estamos em um continente em que os países ficaram independentes há pouco tempo. Isso é uma evolução que tem a ver com o social, o político”, afirmou Amorim.
“Temos de imaginar que esta é uma área importante, rica em petróleo, com grandes possibilidades de construção. Há 20 anos, esse era um dos países mais pobres do mundo. Melhorando socialmente, melhora politicamente”, pontuou Amorim.
A visita, porém, vem sendo duramente criticada por grupos de defesa de direitos humanos. De acordo com a organização Human Rights Watch, o presidente Obiang Nguema é um dos líderes mais criticados por corrupção e violação aos direitos humanos do mundo. Já Amorim nega que o governo brasileiro esteja promovendo a ditadura: “Quem resolve os problemas de um país é o povo de cada país”.
Mais cedo, o diretor do Departamento de Comércio e Investimentos do Itamaraty, Norton Rapesta, chegou a citar a ditadura militar brasileira (1964-1985) na defesa dos negócios com a Guiné. Ele afirmou que, naquela ocasião, grandes países negociavam com o Brasil. “Quando a gente tinha ditadura no Brasil, ninguém ia negociar com a gente? O fato de o Brasil se aproximar (da Guiné Equatorial), trazendo o seu exemplo, pode ser uma contribuição política”, disse, “A gente tem que ser pragmático.”
Segundo Rapesta, o Brasil tem interesse em exportar tratores, máquinas agrícolas, produtos de alumínio, bebidas e confecções para a Guiné Equatorial.
Petróleo – Desde que foram descobertas imensas reservas de petróleo nos anos 90 na Guiné Equatorial, o país tem sido alvo de uma reaproximação com nações ocidentais como a Espanha e os Estados Unidos. No entanto, entidades de direitos humanos dizem que a riqueza petroleira não melhorou os indicadores sociais do país, cuja população de 600.000 habitantes é composta de 60% de pobres, segundo estimativas. Em vez disso, acusam os críticos, o dinheiro obtido com a exploração de petróleo teria ajudado o presidente Ngema a engrossar sua fortuna, estimada em 600 milhões de dólares, de acordo com cálculos da revista Forbes.