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Vidas que levam as marcas da Segunda Intifada

Refugiados palestinos vivem sob a vigilância constante das forças israelenses

Por Cecília Araújo, de Nablus
3 abr 2012, 17h30

Em uma parede das ruas de Nablus, cidade do norte da Cisjordânia, está estampado um ícone da resistência palestina criado pelo famoso cartunista Naji al Ali. O personagem Handala é uma criança que, silenciosamente, assiste à invasão dos israelenses e à expulsão de sua família e seu povo do território que lhes pertencia. Ele está sempre de costas para o espectador, com os braços cruzados atrás do corpo. É um observador impassível que vê o sonho do retorno dos palestinos a suas terras se desmantelar.

Conversando com os habitantes de Nablus, que abriga quatro campos de refugiados, os protagonistas dos cartuns de Ali parecem ganhar vida. Os campos são muitas vezes semelhantes às favelas brasileiras, e sua população é formada, sobretudo, por palestinos deslocados em 1948 (após o fim da Guerra Árabe-Israelense) e em 1967 (após a Guerra dos Seis Dias). Sem ter onde morar, muitos se instalaram em tendas na região onde atualmente estão localizados os campos. Hoje, as moradias são feitas de pedra e concreto. “Quando viram que o refúgio não seria algo temporário, eles decidiram construir”, diz o médico palestino Abu Saleh Tareef, natural de Nablus e membro da missão dos Médicos sem Fronteiras (MSF) na região há seis anos.

As psicólogas do MSF Wissam Sayeh e Agathe Pigeon atendem pacientes tanto da cidade de Nablus quanto nos campos de refugiados de Askar (são dois com o mesmo nome), Balata e Ein Beit al-Ma. Segundo elas, todos os pacientes – inclusive crianças – desenvolveram problemas psicológicos profundos devido à constante vigilância das Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês), que têm direito irrestrito de invadir suas casas em busca daqueles que, na Segunda Intifada, deram apoio a atentados terroristas nas cidades de Israel.

Retrospectiva desde a Segunda Intifada

  • 2000 Segunda Intifada

    Em 28 de setembro, tem início a segunda “revolta das pedras” por parte dos palestinos. O estopim é a visita do líder conservador israelense Ariel Sharon a uma área sagrada para os muçulmanos, entendida como provocação. A morte de uma criança árabe na faixa de Gaza aguça ainda mais a raiva dos palestinos. O estouro do conflito faz com que as negociações de paz retrocedessem.

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  • 2001 Eleição de Sharon

    Ariel Sharon, do partido conservador Likud, é eleito primeiro-ministro de Israel. Uma série de atentados suicidas contra os israelenses são reivindicados pelos grupos terroristas Jihad Islâmica e Hamas.

  • 2002 Construção da barreira

    Os ataques suicidas se intensificam, e Israel inicia um ataque militar maciço na Cisjordânia. A “barreira de segurança”, que divide territórios israelenses e palestinos, também começa a ser construída.

  • 2003 Caminho para paz

    Mahmoud Abbas se torna o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP). O Quarteto formado por EUA, União Europeia, ONU e Rússia propõe medidas para atingir a paz, prevendo a fundação de um estado palestino. Paralelamente, os ataques terroristas continuam.

  • 2004 Combate ao terror

    Israel assassina líderes do Hamas e intensifica suas medidas controversas de segurança. A Corte Internacional de Justiça decide que a barreira é ilegal e que sua construção deve ser interrompida, mas os israelenses se negam a respeitar a decisão. Morre o presidente da ANP Yasser Arafat.

  • 2005 Retirada de Gaza

    Israel retira, unilateralmente, todos os assentamentos judaicos da Faixa de Gaza. Porém, o país continua a ampliar as colônias na Cisjordânia, consideradas ilegais pela lei internacional. Abbas sucede Arafat como líder da ANP e pede o cessar-fogo entre militantes palestinos e israelenses. Uma trégua informal é declarada por ele e Sharon. Mas dois dias depois o Hamas volta a atacar colônias judaicas.

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  • 2006 Guerra do Líbano

    Ataques do grupo fundamentalista libanês Hezbollah foram revidados pelo Exército de Israel. Mais de 1.500 pessoas – a maioria civis libaneses – morreram no conflito que durou um mês e atrasou ainda mais o processo de paz entre palestinos e israelenses. Ariel Sharon sofre um AVC e entra em coma, permanecendo até hoje em estado vegetativo.

  • 2007 Divisão palestina

    O grupo radical palestino Hamas toma o controle da Faixa de Gaza após uma guerra civil com o Fatah, grupo político considerado moderado. As fronteiras de Gaza com Israel e Egito acabam sendo fechadas, e a região fica isolada econômica e comercialmente. O Fatah continua exercendo poder sobre a Cisjordânia.

  • 2008 Ofensiva militar

    Em resposta ao lançamento de foguetes palestinos sobre o seu território, Israel comanda uma grande ofensiva militar contra o grupo palestino Hamas. Os ataques acontecem na Faixa de Gaza.

  • 2009 Bloqueio a Gaza

    O Hamas prova sua capacidade bélica ao mostrar que poderia atingir Tel Aviv com seus rojões caseiros: um deles percorreu 60 quilômetros, a distância entre Gaza e a capital financeira israelense. É reforçado seu isolamento econômico e os bloqueios no litoral, especialmente a materiais de construção – principal matéria-prima para suas armas.

  • 2010 Retomada do diálogo

    Israelenses e palestinos retomam as negociações diretas em Washington. A Autoridade Palestina aponta o congelamento da construção das colônias judaicas na Cisjordânia como condição para manter o diálogo, mas Israel se nega a prolongar moratória.

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  • 2011 Dez anos da Intifada

    Desde o início da Segunda Intifada (setembro de 2000) até dia 31 de dezembro de 2011, 6.508 palestinos foram mortos pelas forças de Israel e 1.096 israelenses foram assassinados pelos palestinos – em Israel, Cisjordânia e Gaza. Os dados são da organização de direitos humanos israelense B’Tselem.

  • 2012 Acordo entre Hamas e Fatah

    O Hamas ensaia colocar em prática um acordo de reconciliação com o Fatah para formar um governo interino, o que deixou Israel novamente em estado de alerta. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, não demorou a se pronunciar ao Fatah, dizendo: “Ou eles, ou eu”.

A fim de proteger os israelenses de atentados, a IDF prende, interroga e por vezes mata suspeitos (que os palestinos chamam de mártires). Toda família de Nablus tem algum episódio desse tipo para narrar e carrega as suas sequelas. “Eles não vão se esquecer dos traumas. Nosso objetivo é ajudá-los a desenvolver mecanismos que lhes permitam alcançar uma vida estável, tanto quanto possível”, diz Agathe. “Para eles, é muito importante que alguém se interesse por ouvir suas histórias”, completa Agnès Boisneau, administradora do MSF. Em visita a Nablus, a reportagem do site de VEJA ouviu algumas delas, que você confere a seguir:

Confira o cronograma de reportagens especiais:

SÁBADO – Israel x Palestina: dos dois lados do muro

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SEGUNDA – Sderot, a cidade blindada que vive à espera de um ataque

QUARTA – ‘Não queremos nosso povo morto’, afirma Defesa de Israel

QUINTA – Sobre judeus e árabes: boas cercas fazem bons vizinhos?

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SEXTA – Traumas na vida de dois soldados: israelense e palestino

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