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Cúpula da Unasul traz à tona a questão: para que serve o bloco?

Reunião é a última do presidente Lula, que apostou em uma organização inócua

Por Cecília Araújo, de Georgetown
26 nov 2010, 07h12

“A Unasul está dividida. Não está funcionando, nem nunca vai funcionar”, diz o ex-embaixador brasileiro em Washington Rubens Barbosa

A realização, nesta sexta-feira, da última cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) durante o governo do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, um dos grandes entusiastas do bloco, traz à tona a inevitável questão: para que serve a aliança? Conhecida – ou desconhecida – por não ter serventia alguma, a Unasul, se mostrou mais uma aposta equivocada do segundo mandato de Lula. A organização foi idealizada pelo megalomaníaco presidente venezuelano Hugo Chávez para ampliar a antiga Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) – aliança criada em 2004, que funcionava como um foro de debates – e foi apoiada principalmente pelo Brasil e pela Argentina.

O tratado de criação da Unasul foi assinado em 2008, em Brasília, com o objetivo de propiciar a integração entre os países da América do Sul. Porém, desde então, muito pouco foi feito a partir das repetidas reuniões entre os representantes da aliança. Os doze países integrantes – Brasil, Argentina, Bolívia, Venezuela, Equador, Colômbia, Chile, Peru, Paraguai, Uruguai, Guiana e Suriname – são tudo, menos integrados.

As discrepâncias econômicas e políticas, principalmente, atrapalham qualquer negociação. “Os países que compõem a aliança têm visões e aspirações muito diferentes”, pontua a cientista política Maria Lúcia Victor Barbosa, especialista do Instituto Milenium, organização sem fins lucrativos que busca promover o desenvolvimento humano.

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A maioria das tentativas de se chegar a um acordo diplomático – entre as discordantes Colômbia e Venezuela ou sobre a polêmica que se instaurou após a deposição do presidente Manuel Zelaya em Honduras, por exemplo – fracassou. O posicionamento da Unasul, sempre baseado na visão bolivariana de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, provoca desconfiança inclusive em estados membros mais ponderados, como Chile, Peru e Colômbia.

Esforços – Uma tentativa desesperada de provar a importância da Unasul ocorreu no fim de setembro, após o motim de policiais descontentes com um projeto de lei no Equador. Chamando o incidente de “ensaio golpista”, a aliança se posicionou, de forma previsível, em favor do presidente Rafael Correa e exigiu que os responsáveis fossem julgados e condenados. Os integrantes do bloco anunciaram aos quatro cantos o “exemplo relevante da participação do organismo em situações de ruptura da ordem constitucional”.

Quanto à economia, o desafio intransponível é superar as enormes assimetrias. Para se ter uma ideia, enquanto o Brasil tem um PIB de quase 2 trilhões de dólares e 185 milhões de habitantes, a Guiana conta com um PIB muito mais modesto, de 1,4 bilhões de dólares, e com 750.000 habitantes.

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Ilusão – Quando a Unasul foi criada, o hiperbólico presidente Lula falava que “uma América do Sul unida mexeria com o tabuleiro do poder no mundo”. Depois desses dois anos, o diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Washington, acha graça da fala prepotente do mandatário. “A América do Sul não está unida, e, mesmo se estivesse, não poderia mexer com equilíbrio mundial. O centro do poder está se deslocando, sim, mas do Atlântico para o Pacifico. Está indo em direção à Ásia, não para a América do Sul.”

Barbosa explica que a Unasul, criada para excluir a Organização dos Estados Americanos (OEA) e especialmente os EUA das discussões sobre os problemas sul-americanos, acabou levando a uma duplicação que esvaziou o Mercosul. “O Brasil perdeu sua capacidade de liderança lá dentro. Tudo por conta de uma concessão por afinidade ideológica”, lamenta. “A Unasul está dividida. Não está funcionando, nem nunca vai funcionar”.

Para Maria Lucia, a Unasul não passa de mais um organismo sem muita serventia. “É mais uma entidade marcada por um antiamericanismo que não passa de uma dor de cotovelo, levada pelo sentimento estranho de altivez e inferioridade dos países sul-americanos, na ânsia de se libertarem das raízes do passado. A verdade é que não conseguimos entender nossas próprias mazelas”, aponta.

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Segundo a cientista política, autora do livro América Latina – Em Busca do Paraíso Perdido (1995), há uma dose embutida de lazer em marcar reuniões que só servem para marcar outras reuniões. “É um turismo político às custas dos impostos dos seus povos.”

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